Esconde-me à sombra de tuas asas
Padre Geovane Saraiva*
O Papa João Paulo II, no discurso aos Bispos do Brasil, em Fortaleza, aos l0 de julho de l980 falou com veemência do homem de Deus: “Como não evocar aqui em Fortaleza a figura admirável de Dom Antônio de Almeida Lustosa, que repousa nesta Catedral e deixou nesta Diocese a imagem luminosa de um sábio e de um santo”.
Dom Antônio de Almeida Lustosa nasceu em l886 e foi ordenado padre em l912, bispo de Uberaba de (1925-1928), bispo do Corumbá de (1928-1931) e faleceu em l974, com 88 anos de idade, que segundo o Escritor e Médico Vinícius Barros Leal, foi um “homem profundamente de Deus, que se colocou muito além de um religioso comum, com seu comportamento fundamentado na ética, decidido no caminho do bem, repleto de serenidade e equilíbrio, bondade e disciplina, nunca perdendo um só minuto do seu precioso tempo”, tem um recado muito importante e atual, para nós povo de Deus, nos nossos dias.
Viveu sua fé, numa atitude de escuta e contemplação, a partir da Palavra de Deus. Através das visitas pastorais, procurou realizar a vontade de Deus, imitando o Bom Pastor, no maravilhoso dom de sua riqueza interior e convicção permanente, no seu zelo, mansidão e prudência, acompanhada da virtude da caridade, que para ele era transbordante, no convívio com suas ovelhas, na dura realidade vivida por elas na nossa Arquidiocese de Fortaleza.
Na sua atividade de pastor da Igreja de Fortaleza (1941-1963), envolvida, evidentemente, em fervorosas preces e meditações, na nossa realidade do nosso Ceará, castigada e marcada pelo sofrimento das consequentes secas, desenvolveu um apostolado prodigioso, nas obras e gestos concretos, dando o melhor de si mesmo, não obstante seu aspecto doentio, oriundo da malária, na austeridade da missão pastoral, nas viagens e desobrigas pela floresta amazônica, na qualidade de bispo da Arquidiocese de Belém do Pará (1931-1941).
Dom Lustosa foi um homem sábio e santo, com toda a sua vida e o que ele produziu através da sua palavra falada e escrita, indo ao encontro do mistério que ele acreditou e professou, revelado no conhecimento, inspirado nas coisas do alto. A sabedoria de suas palavras e o exemplo de sua vida, na busca da retidão e santidade, tendo sua origem no Filho de Deus, que é a sabedoria encarnada do Pai, com certeza, convenceu e encorajou muitas pessoas a viverem a sua fé.
A Arquidiocese de Fortaleza, tendo a frente o Senhor Arcebispo, Dom José Antônio, abriu e encerrou o processo local de beatificação e canonização, remetendo-o a Roma, onde há mais de dez anos se encontra a causa de beatificação do salesiano Dom Antônio de Almeida Lustosa, conhecido como o “bispo brasileiro da justiça social”. Homem que viveu intimamente unido a Deus, sempre preocupado com o bem-estar das pessoas. Foi pai e amigo de todos, especialmente dos empobrecidos do seu tempo, praticando a caridade, no seu modo simples e santo de viver, até seus últimos dias de vida.
Resta para nós, povo de Deus rezar e divulgar a vida e a missão do amado Servo Dom Lustosa, que foi fiel a Deus em tudo e tinha como lema: “Sub umbra alarum tuarum”, referindo-se ao salmo l7: “Guardai-me como a pupila dos olhos, esconde-me à sombra de tuas asas, longe dos ímpios que me oprimem, dos inimigos mortais que me cercam”.
Dom Lustosa, ao assumir seu múnus de bispo e pastor da Arquidiocese de Fortaleza disse: “Continuarei aqui simplesmente a trabalhar pelo Pai Nosso: Santificado seja o Vosso nome! Venha a nós o Vosso Reino, o programa de um bispo é sempre o mesmo: cumprir o seu dever”. “Dignai-vos SENHOR, aceitar a caminhada do nosso Dom Lustosa rumo ao altar. Ele que em vida soube ser vosso servo (…)”.
*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, Escritor, Membro da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE), da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza e vice-presidente da Previdência Sacerdotal.
Pároco de Santo Afonso