Pai Cristão – Thomaz Correa
Padre Geovane saraiva*
“A Arte da vida consiste em fazer dela uma obra de arte” (Mahtma Gandhi). Escrever algo sobre Thomaz Araújo Correa significa entrar num mundo envolvido de mistérios, na expressão de um homem que se ajustou à vontade de Deus, procurando realizá-la no decorrer de toda sua vida, deixando-se conduzir pelo Espírito Santo de Deus. Ele, como médico e pai cristão, tentou curar ou melhorar seus pacientes, sempre que lhe foi possível, vendo-os como seres humanos e não como uma matéria biológica, mas como algo que transcende, porque neles vemos a imagem misteriosa e sagrada do próprio Deus.
Jesus é o filho amado do Pai, que se revelou a humanidade, no seu grande encontro com Pai, ao ser abraçado pelo seu amor infinito, que foi derramado sobre si, ao receber o Espírito Santo (cf. Mt 3, 13-17), Recordamos neste acontecimento o sacramento do batismo, que colocou o nosso querido irmão, o Dr. Thomaz Araújo Correa, diante da grandeza da sua vocação cristã, introduzindo-o dentro do mistério da Santíssima Trindade. O batismo o colocou no coração do mundo e o fez um pai cristão da mais alta qualidade, irmão de cada criatura humana, à semelhança de Deus, Senhor da vida e da história. O Espírito recebido no dia do seu batismo lhe ardeu e aqueceu de tal modo, que o tornou capaz de ir ao encontro dos anseios e esperanças de sua querida gente da cidade de Ipu, sua terra natal e seu lugar geográfico, onde viveu e realizou com muita disposição interior seu projeto de vida.
A esperança é uma virtude essencial na vida do Cristão, oferecendo-nos a certeza de que Deus, pela morte e ressurreição de seu Filho Jesus, assumiu todas nossas dores, angústias e fraquezas, vencendo todo tipo de mal. A vontade de viver e lutar pela vida de seus irmãos, com certeza lhe deu a convicção de que a vida é mais forte e poderosa, a superar todos os sinais de morte. Jesus nos suplica e implora, no sentido de vê-lo e amá-lo através do nosso próximo e só quem conhece a Deus em profundidade é capaz de amá-lo verdadeiramente. Dr. Thomaz Correa, homem marcado pela graça de Deus, médico há mais de 60 anos, em pleno exercício de sua nobre profissão, que muito edificou a sua terra natal, o Ipu, soube compreender e vivenciar o amor infinito de Deus, mergulhando como poucos, na sabedoria de Deus, indo ao encontro da sua família e do seu povo, com uma grandeza de coração e alma.
Jesus, hoje se revela e se manifesta a nós, não como se manifestou aos pastores e aos magos. Ele se revela no pobre que dorme no chão de uma calçada ou na porta de uma igreja, no menino de rua que cheira cola, fruto de uma sociedade marcada pela injustiça e pela indiferença, no idoso abandonado pela família, na sociedade e governantes insensíveis, na criança impedida de nascer pelo egoísmo e falta de amor dos adultos que só pensam em si, no prazer, consumismo e bem estar.
A história do povo de Deus, na sua origem, revela que o pai deveria ser diligente e sábio, ao ensinar e orientar seus filhos nos caminhos de Deus, tendo em vista seu próprio crescimento, desenvolvimento e realização espiritual. O pai obediente e temente a Deus, fazia tudo, exatamente de acordo com a vontade de Deus. Pelo fato de dar a vida a um ser indefeso e incapaz de sobreviver sozinho, o pai adquiria uma autoridade sobre ele e recebia uma missão de natureza divina na sociedade, convertendo-o em ser adulto. Daí a educação ser um prolongamento espiritual da paternidade corporal.
A pedagogia do Pai, sensível e consciente de seu compromisso de cristão, era de educar a criança no caminho em que ela deveria andar, englobando toda uma trajetória, até seu envelhecer, recebendo uma marca profunda e indelével, nunca se desviando desse objetivo perseguido (cf. Pr 22, 6ss). O pai cristão é de fato um instrumento de Deus, certo de que o melhor modo de obter a desejada educação é através da disciplina, dentro de um processo didático, acompanhado do perdão e da misericórdia, em que pode “ver tudo, tolerar muito e corrigir pouca” (São Carlos Borromeu).
Vivemos em um mundo profundamente marcado por transformações e crises, a ponte de abalar as estruturas da família, naquilo que se tem de mais sagrado, o pequeno lugar social em que toda pessoa nasce, desenvolve e cresce. Muitas vezes temos medo enfrentar a vida e a nossa fé se revela insuficiente e fraca diante de inúmeros conflitos e desafios e por isso mesmo não percebemos o rosto de um Deus profundamente humano, que se manifesta nos acontecimentos da vida, sobretudo, na enfermidade, na dor e no sofrimento, com suas carências de toda natureza. Jesus ao alimentar toda uma multidão faminta, oferece-nos um grande ensinamento de partilha dos bens e dons que nos são concedidos por Deus. Conseguir multiplicar milagrosamente o pão não é uma tarefa fácil, mas podemos partilhar aquilo que temos com aqueles que pouco ou nada têm, pode ser o início de um grande milagre da nossa vida (cf. Mc 34-44).
Ser um médico comprometido, viver animado pela fé, significa carregar uma cruz, muitas vezes pesada, porque foi escolhido por Deus para cuidar da sua obra prima da criação – a criatura humana, imagem e semelhança de Deus (Gn, 1,26), com uma grande responsabilidade diante da própria sociedade e diante de Deus, Dr. Thomaz Araújo Correa, soube viver com retidão e coerência a fé que professou, levando a diante o projeto do Pai, instaurado entre nós pelo seu Filho Jesus. Mergulhou em profundidade numa espiritualidade, no meio de sua querida gente, procurando fazer a vontade de Deus, no exercício da medicina, acolhendo os empobrecidos, vendo neles face amiga de Deus. Certamente descobriu uma mística que o levou a caminhar, animado de fé, esperança e caridade, “bebeu da água viva”, de que nos fala Evangelho, uma fonte inesgotável e no dizer de São Bernardo de Claraval, “beber do seu próprio poço”.
Tive a sorte de conhecer, Dr. Thomaz Araújo Correa, por ocasião da celebração da missa de ação de graças do centenário de nascimento da sua querida mãe, Thereza Odette de Araújo Corrêa, no dia 03.03.2001, na Paróquia da Paz. Logo compreendi que se tratava de um pai cristão, temente a Deus, santo e virtuoso, marcado profundamente por uma segura e sólida formação religiosa, bem dentro dos conformes da nossa fé católica. Hoje posso afirmar, sem dúvida alguma, que se trata de um irmão muito querido, apaixonado por Deus e por suas criaturas, uma grande luz que desabrochou na escuridão, patrimônio da população ipuense e todos nós cearenses.
Quero aqui cumprimentar e aplaudir o amigo, Dr. Emmanuel Theófilo Furtado, pela iniciativa maravilhosa desta publicação, homenageando o nosso querido Dr. Thomaz, homem de Deus, que no dizer São Paulo “combateu o bom combate da fé”, semeou amor e bondade, encontrando o sentido e razões para viver, como tão bem afirma Dom Helder Câmara: “Feliz a pessoa que atravessa a vida tendo mil razões para viver”. A presença do senhor é muito singular; é expressão viva de Deus; é uma obra de arte, pela sua bondade, simplicidade de viver e conviver. “É como uma árvore plantada junto d’água corrente: dá fruto no tempo devido e suas folhas nunca murcham; tudo que o que ele faz é bem sucedido” (Sl 1, 3). Sua vida é um hino de louvor a Deus! Parabéns!
*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, Escritor, Membro da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE), da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza e vice-presidente da Previdência Sacerdotal.
Pároco de Santo Afonso
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Autor dos livros: