SOU UM SIMPLES FRADE MENOR

Padre Geovane Saraiva*

“[...] sua voz, naturalmente doce, alternava-se quando era preciso confrontar os vendilhões da justiça (Senador Pedro Simon).

“A ternura de um Pastor”, com prefácio de Dom Sérgio da Rocha, sobre Dom Aloísio, que no seu amor à verdade e no apego ao Evangelho, como critério de vida e de pastoreio, também na sua capacidade de dialogar com as classes sociais e no seu amor para com os empobrecidos, permaneceu humilde, serviçal, um irmão entre irmãos.

Quero contribuir de algum modo, para que a vida humana na face da terra seja melhor, menos desigual e mais harmônica, indo na direção das pessoas que cruzam nossos caminhos e, ao mesmo tempo, esperam da nossa parte algo de bom e concreto. A ternura de um pastor, na sua 2ª edição, quer perseguir esse ideal, deixando-me muito feliz, alegre e animado, em profundo estado de graça; com um grande desejo de que o amigo leitor perceba, através da generosidade de Dom Aloísio, que “bom é o Senhor para quem nele confia, para aquele que o procura” (Lm 3,25).

Doçura e ternura em pessoa, alegria constante, posições corajosas e determinadas, ao mesmo tempo, pregava e anunciava o Evangelho com coragem profética e grande sabedoria. Ele carregou sempre no seu grande coração, as alegrias, as esperanças, as tristezas, as angústias e os sofrimentos de sua querida gente (cf. GS 200). Além de travar, sem jamais se cansar, uma luta pela redemocratização, pela liberdade de expressão, pela dignidade da pessoa humana e pelo fim da tortura em nosso querido Brasil.

Dom Aloísio, ao se tornar Arcebispo de Fortaleza (1973-1995), logo de início afirmou: “A comunidade eclesial não é feudo do bispo, mas ele é o servidor de uma Igreja que se entende a si mesma como sacramento do Reino, isto é, da presença da verdade e do amor infinito de Deus para com cada criatura humana”.1

Daí ele não compreender como algo natural e normal se conviver com a miséria e o acentuado empobrecimento do povo, que tinha como conseqüência o êxodo, o flagelo e a morte de muitos irmãos, levantando sua voz de profeta para dizer que não era vontade de Deus a realidade aqui encontrada e, ao mesmo tempo, usou de todos os meios, com uma enorme vontade de transformar essa mesma realidade, marcando profundamente a história do nosso Ceará.

“Em pleno regime de exceção, a sociedade cearense logo sentiu os efeitos dessa guinada. As camadas desfavorecidas ou marginalizadas, os sem-terra, os sem-teto, os presos políticos, os presidiários comuns, os trabalhadores em greve – ganharam aliado de peso”.2

Dom Aloísio foi o grande teólogo que sabia compreender a realidade na sua conjuntura e, com suas posições bem claras e definidas, nas análises e nas conclusões teológicas pastorais, passando para o povo um clima que favorecia e gerava uma confiança generalizada. Daí ser o Cardeal que mais se destacou em todos os Conclaves e Sínodos de que participou, gerando para o mundo inteiro e, especialmente para a imprensa, uma grande expectativa. Sua palavra corajosa e profética era acolhida por todos como uma boa notícia.

“[...] sua voz, naturalmente doce, alternava-se quando era preciso confrontar os vendilhões da justiça, quando todos os jardins da democracia corriam o risco de ser alvo de bombas atiradas pelos olhares fixos da repressão. Sua voz ecoou pelos corredores das prisões [...]”.3

Quando ele se tornou bispo emérito de Aparecida, veio a pergunta: O que o senhor vai fazer? Respondeu: “Sou um simples frade menor e vou fazer o que o meu provincial mandar, porque a obediência me torna livre”.

chama luminosa de um coração amável e cheio de bondade, de uma pessoa humana, dotada de grandes virtudes e qualidades, de um “bispo completo”, segundo o grande teólogo Alberto Antoniazzi e no dizer do Senador Tasso Jereissati, “do homem mais ilustre da nossa geração, no Ceará, com a sua vida de dedicação à causa dos excluídos”, do maior benfeitor e patrimônio do povo cearense, que partiu no dia 23/12/2007, deixando-nos muita saudade.

Também nunca esquecemos sua palavra lúcida e segura, advertindo “oportuna e inoportunamente” (2Tm 4, 2), bem como sua voz mansa e corajosa em denunciar as injustiças e, sobretudo, sua ternura franciscana, nos leva a afirmar que Dom Aloísio, verdadeiramente, mora em nossos corações.

Agradeço ao irmão e amigo, Dom Sérgio da Rocha, Arcebispo Metropolitano de Brasília, que com sua mente e coração dadivosos, prestimosamente, aceitou prefaciar a 2ª edição no nosso livro “A Ternura de um Pastor”.

*Pároco de Santo Afonso

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1 TURSI, Carlo; FRENCKEN, Geraldo (organizadores). Mantenham as lâmpadas acesas: revisitando o caminho, recriando a caminhada. Fortaleza: Edições UFC, 2008, p. 95.

2 SARAIVA, Geovane (padre). A ternura de um pastor: Cardeal Lorscheider. Fortaleza: Editora Celigráfica, 2009, p. 22 .

3 Ibidem, p. 23.

*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, Escritor, Membro da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE), da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza e vice-presidente da Previdência Sacerdotal.

Pároco de Santo Afonso

Geovane Saraiva
Enviado por Geovane Saraiva em 02/04/2013
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