Pe. Geovane Saraiva concede entrevista na Boa Notícia

Pe. Geovane Saraiva concede entrevista na Boa Notícia

Qual é a mensagem da Páscoa nos dias atuais?

Após morrer na cruz, Jesus Cristo foi colocado no sepulcro, onde ali permaneceu por três dias, até sua ressurreição, momento celebrado no domingo de Páscoa. Para a Igreja Católica, segundo Padre Geovane Saraiva, pároco de Santo Afonso, este recorte da História é “o acontecimento maior da nossa fé, revelando a salvação e a libertação da humanidade, com caráter memorial e tem seu principal eixo na liturgia da Semana Santa, ocasião em que os cristãos meditam e entram em cheio na sua paixão, morte e ressurreição”.

Dentro desta simbologia, destaca o padre, a Páscoa inspira a humanidade a gostar de viver e amar a vida com disposição e abertura para o outro. “A Páscoa nos leva para aquele que precisa de uma mão amiga e solidária, não só com palavras, mas com atitudes concretas sejam espiritual e materialmente. Aos necessitados de natureza, segunda a vontade do Ressuscitado, desejoso de ver uma Igreja pobre e servidora, de mostrar ao mundo a verdadeira face amiga do Criador e Pai, que vive e reina como Senhor da História”, explica.

A teoria, no entanto, é, de fato, aplicada nos dias atuais? A mensagem da Páscoa de renascimento, vida nova, de reflexão sobre o sacrifício de Jesus pela humanidade conseguiu atravessar os tempos? E as dores infligidas a vários povos? Guerras? Brigas? Violência urbana? Onde elas se encaixam nesta mensagem de esperança?

Para a assistente social e vice-presidente da Ong Instituto Social Direito e Paz (Dipaz), Maria do Socorro Porto, a violência tem causas graves, mas a mensagem decodificada pela Páscoa pode amenizar o quadro que, de acordo com ela, tem raízes em outros fatores já conhecidos como a desigualdade social e econômica. “O fato de socializar-se um conhecimento mais aprofundado e mais consciente do verdadeiro sentido da Páscoa poderia apontar novas formas de compreender e respeitar a vida e a morte do ser humano. Acho que este é um período em que o homem está motivado a pensar na relação que tivemos com Nosso Senhor Jesus Cristo. A inteligência humana, extraordinária no avanço tecnológico, deve inspirar-se nas lições da Páscoa em benefício da paz mundial”, argumenta.

Reflexão

“Quando temos uma clara compreensão de que a Páscoa é o próprio Cristo, no seu ponto mais elevado (morte e ressurreição), participamos não apenas da vida de um herói, mas somos mergulhados na vida do Filho de Deus”, reflete Padre Geovane. A realidade vivida pelos cristãos, acrescenta o pároco, quer ser um processo que se realiza através do compromisso ético e solidário, na ação pastoral, no trabalho do dia a dia, no convívio social e nas mais diferenciadas atividades das pessoas que têm fé e que acreditam no futuro da humanidade. “É indispensável à palavra animadora do nosso querido Sumo Pontífice: ‘A lógica da Semana Santa é a lógica do amor e do dom de si mesmo, que exige deixar de lado as comodidades de uma fé cansada e rotineira para levar Cristo aos demais, abrindo as portas do nosso coração, da nossa vida, das nossas paróquias, movimentos, associações, levando a luz e a alegria da nossa fé’”.

Papa Francisco

Conforme Padre Geovane, a chegada do Papa Francisco renovou nos cristãos o compromisso de dialogar e cuidar da criação, nas suas diversidades. “O mundo precisa carinhosamente de práticas ecológicas e ambientais, para que a fé da humanidade possa se tornar cada vez mais viva e coerente com aquilo que se professa”, defende.

Um novo momento na Igreja. É assim que Socorro Porto interpreta a chegada do Papa Francisco. “O fato de ser da América Latina também tem um significado. Teremos uma Páscoa ilustrada com uma figura exponencial que é a própria mensagem da Páscoa”, afirma a assistente social.

A confiança que o novo Pontífice inspira nos cristãos é outro ponto realçado na análise de Padre Geovane. “Nossa confiança é enorme, sobretudo ao refletirmos sobre a parábola do pai misericordioso (Lc 15, 11-32), porque temos um Papa totalmente identificado com o pai da passagem deste Evangelho, no seu amor infinito e acolhedor, que soube compadecer-se da miséria do filho mais novo que representa a humanidade, num gesto de extraordinária generosidade. Igualmente, numa pedagogia marcada pela misericórdia, que sabe ir ao encontro do filho mais velho, que representa a mesma humanidade, para falar-lhe da necessidade de misericórdia e conversão do coração, diante da dor, da miséria e do sofrimento humano, exigindo-lhe amor, compaixão e solidariedade. Nossa alegria é enormemente confiada na mensagem do novo Papa: ‘Não podemos nos contentar com uma oração, uma missa dominical distraída e não constante, de algum gesto de caridade, e não ter a coragem de 'sair' para levar Cristo. Nunca vos deixeis invadir pelo desânimo, em mostrar ao mundo a vitória da Cruz de Cristo a todos e por toda a parte, abraçada com amor, a cruz de Cristo não leva à tristeza, mas à alegria’”, conclui.

Entrelaçando as percepções religiosas e sociais, percebe-se que a mensagem da Páscoa atravessou os tempos e não foi engolida pelo carisma do coelhinho que distribui ovos de chocolate. Numa visão pautada pela fé cristã ou num discurso sociológico, o homem se segura nas mãos macias e maternais da esperança, acreditando no altruísmo que a humanidade ainda cultiva.

Fonte: http://www.boanoticia.org.br/

*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, Escritor, Membro da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE), da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza e vice-presidente da Previdência Sacerdotal.

Pároco de Santo Afonso

geovanesaraiva@gmail.com

Geovane Saraiva
Enviado por Geovane Saraiva em 28/03/2013
Reeditado em 28/03/2013
Código do texto: T4212247
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