A Páscoa dos judeus, dos cristãos e dos que não são nem judeus nem cristãos

A páscoa dos judeus, dos cristão e dos que não são nem judeus nem cristãos.

Paulo Salles

“Os discípulos fizeram como Jesus os havia instruído e prepararam a Páscoa” (Mateus 26:19).

A palavra Páscoa, originária do hebraico “Pessach”, significa passagem. Para os judeus significa a passagem do anjo exterminador, levando a morte aos primogênitos do Egito e livrando os filhos dos israelitas que fizeram como Deus havia lhes instruídos. O capítulo 12 de Êxodo trás com detalhes todas as instruções. O cordeiro, ou cabrito, sem defeito, que deveria ser sacrificado, comido a sua carne e cujo sangue deveria ser passado nas laterais e nas vigas superiores das portas das casas. Isso serviria de sinal para identificar as casas onde não haveria morte, quando passasse o anjo. Nos versos 24 a 27, está registrado: “Obedeçam a estas instruções como decreto perpetuo para vocês e para os seus descendentes. Quando entrarem na terra que o Senhor prometeu lhes dar, celebrem essa cerimônia. Quando os seus filhos lhes perguntarem: “O que significa essa cerimônia?, respondam-lhes: É o sacrifício da Páscoa ao Senhor, que passou sobre as casas dos israelitas no Egito e poupou nossas casas quando matou os egípcios”. Estava instituída, por Deus, a Páscoa judaica, para cuja cerimônia, que era uma grande festa, há muitas orientações, como as contidas nos versos 43 a 49 deste mesmo capítulo 12 de Êxodo. Como logo após esse episódio, o povo israelita saiu do Egito, celebra-se também a passagem sobre o Mar Vermelho, na fuga dos exércitos egípcios, quando as águas do mar se abriram e o povo passou a seco, num grande livramento. Conjuntamente com a Páscoa, havia também a festa dos “pães ázimos”, ou “asmos”, ou seja, sem fermento. Durante os 8 dias da Páscoa, não se comia pão levedado, simbolizando a pressa de sair do Egito, que não podia esperar que os pães assassem e crescessem com a ação do fermento. Todo israelita deveria celebrar a Páscoa. Aquele que estivesse apto a celebrá-la e não o fizesse, poderia até ser morto. (Números 9:13). Páscoa judaica, passagem da escravidão para a liberdade. Jesus Cristo, como judeu, também celebrou a Páscoa. Ele mesmo instruiu os seus discípulos para que preparasse a celebração. Foi a última refeição com os seus discípulos, antes da sua crucificação. Cristo desejou assim fazer. (Mateus 26:17-30, Lucas 22:7-20).

A Páscoa para os cristãos tem um outro significado. A celebração com os discípulos teria sido a última Páscoa, no simbolismo judaico. A Páscoa dos cristãos lembra a morte e a ressurreição de Cristo. A passagem da morte para a vida. Não mais seria necessário o sacrifício de animais, pois o Cordeiro de Deus, Cristo Jesus, o nosso Cordeiro Pascal, como nos diz o apóstolo Paulo em 1ª Coríntios 5.7, já havia sido sacrificado. O texto de Lucas 22:15 a 20, assim nos diz: “E lhes disse: Desejei ansiosamente comer esta Páscoa com vocês, antes de sofrer. Pois eu lhes digo: Não comerei dela novamente até que se cumpra no Reino de Deus. Recebendo um cálice, Ele deu graças e disse: Tome isto e partilhem uns com os outros. Pois eu lhes digo que não beberei outra vez do fruto da videira até que venha o Reino de Deus. Tomando o pão, deu graças, partiu-o e deu aos seus discípulos, dizendo: Isto é o meu corpo dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim. Da mesma forma, depois da ceia, tomou o cálice dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês”. Estava instituída a Ceia do Senhor, em memorial ao sacrifício de Cristo, a sua morte e ressurreição. É um memorial. Os elementos pão e vinho não trazem consigo nada de sobrenatural, nem se transformam em algo assim. Mas isso é tema para uma outra ocasião. Diferentemente da Páscoa, que é comemorada uma vez por ano, a Ceia do Senhor não fala em periodicidade, mas “sempre que o fizerdes em memória de mim”, disse Cristo. O apóstolo Paulo convida os cristãos a celebrarem a Páscoa, “não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da perversidade, mas com os pães sem fermento, os pães da sinceridade e da verdade” (1ª Coríntios 5.8). O apóstolo Pedro nos diz que fomos redimidos pelo precioso sangue de Cristo, o cordeiro sem mancha e sem defeito, como era exigido na Páscoa judaica. (1ª Pedro 1.19). A Páscoa dos cristãos não poderia está melhor representada, do que encontramos no texto de Apocalipse 5.12 que diz: “e cantavam em alta voz: Digno é o Cordeiro que foi morto de receber poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor”. Sim, o Cordeiro que foi morto, mas agora vive. “O trono de Deus e do Cordeiro estará na cidade, e os seus servos o servirão”. (Apocalipse 22.3). Passagem da morte para a vida. A ressurreição de Cristo é a demonstração de vitória sobre a morte e por isso todos nós também ressuscitaremos, conforme nos afirma o apóstolo Paulo. (1ª Coríntios 15). A Páscoa dos cristãos também tem o significado da passagem do homem da condição de morte imposta pelo pecado, para uma nova vida em Cristo. É o que nos diz o mesmo aposto: “Da mesma forma, considerem-se mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus” (Romanos 6:11).

O que representa a Páscoa para aqueles que nem são judeus nem cristãos? Nem a passagem do anjo e a lembrança da saída do Egito para a terra prometida, da escravidão para a liberdade, nem a passagem de Cristo da morte para a vida, nem mesmo a passagem representada na libertação da morte trazida pelo pecado para a nova vida em Cristo. Para estes a Páscoa é uma celebração como outra qualquer. Uma ocasião como tantas outras. Certamente que influenciada pela tradição dos ovos de chocolate e dos coelhinhos da páscoa. O consumismo em que o mundo se tornou. Não celebram o significado profundo que a Páscoa traz. Se não creem em Deus, se não aceitam a Cristo como sendo o Filho de Deus, muito menos crerão na sua ressurreição. Celebram estes uma páscoa muito particular, sem nenhum significado. Para os cristãos, entretanto, é tempo de celebrar a morte e a ressurreição de Cristo, tempo de renovar a vida e o compromisso com os seus ensinos. Nova vida, nova caminhada, a cada dia, até o dia em que celebraremos a Páscoa no Reino de Deus, na sua presença. De minha parte, como creio da ressurreição de Cristo, prefiro comemorar a Páscoa dos cristãos. A passagem da morte para a vida. Feliz Páscoa a todos.