Prêmio Frei Tito para Dom Edmilson da Cruz
Padre Geovane Saraiva*
Dom Edmilson, exímio operário da vinha do Senhor, que anunciou fielmente o sentido da transcendência, isto é, da glória futura, com os pés firmes no chão e ao mesmo tempo levado pelo desapego de si mesmo, sempre sonhando com da cidade celestial, buscando não a sua glória, mas a glória de Deus, recebeu neste dia 10 de dezembro de 2007, o Prêmio Frei Tito de Diretos Humanos, na Assembléia Legislativa do nosso Estado do Ceará, por iniciativa muito justa e feliz, do Deputado Heitor Ferrer.
Dom Edmilson foi e continua a ser um bispo profundamente livre em suas atitudes e ações. Tudo que é verdadeiramente humano encontra eco no coração de Dom Manuel Edmilson da Cruz (cf. Gaudium et Spes, 200). Compreendeu em profundidade a vida cheia de antagonismos, na sábia afirmação de Dom Helder: “Quando houver contraste entre a tua alegria e um céu cinzento, ou entre a tua tristeza e um céu em festa, bendiz o desencontro, que é um aviso divino que o mundo não começa nem acaba em ti”.
Dom Edmilson jamais foi indiferente, diante da dor e do sofrimento de uma multidão de seres humanos, sofrimento de toda natureza. “Vós participastes, com efeito, do sofrimento dos prisioneiros e aceitastes com alegria a expoliação, certos de possuir uma fortuna melhor e mais durável. Não percais, pois, a vossa segurança que tamanha recompensa merece” (Hb 10, 34-35).
Dom Edmilson não ficou indiferente diante da tortura, que é um instrumento para arrancar, pela força e pela violência os próprios pensamentos e sentimentos das pessoas que já perderam a liberdade. Na tortura constamos, evidentemente, contrário da liberdade. “Na tortura, o discurso que o torturador busca extrair do torturado é a negação absoluta e radical da liberdade” (Livro, Brasil: Nunca mais).
Com absoluta certeza, Dom Edmilson, compreendeu que a criatura humana é imagem e semelhança de Deus, é templo precioso e sagrado de Deus, que precisa ser respeitado em tudo e acima de tudo. Em 1948 a Assembléia Geral da ONU aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, cujo artigo 5º reza assim: “Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante”.
Que a vida e o exemplo de Dom Edmilson, homem de sorte ao extremo, porque foi marcado pela graça de Deus, que lhe fez sábio ao enfrentar a dor e o sofrimento humano muito de perto, colocando tudo no coração de Deus, nos sensibilize, no sentido de dizer não a tudo que contraria o plano salvífico do Criador e Pai. “Não há ninguém na terra que consiga descrever a dor de quem viu um ente querido desaparecer atrás das grandes da cadeia, sem mesmo poder adivinhar o que lhe aconteceu” (Dom Paulo Evaristo, Cardeal Arns). Nada mais justo do que o prêmio Frei Tito para dom Edmilson.
Deus seja louvado pela vida do nosso querido Dom Edmilson. Parabéns!
* Padre da Arquidiocese de Fortaleza, Escritor, Membro da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE), da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza e vice-presidente da Previdência Sacerdotal.
Pároco de Santo Afonso
geovanesaraiva@gmail.com
Autor dos livros:
“O peregrino da Paz” e “Nascido Para as Coisas Maiores” (centenário de Dom Helder Câmara);
“A Ternura de um Pastor” - 2ª Edição (homenagem ao Cardeal Lorscheider);
“A Esperança Tem Nome” (espiritualidade e compromisso);
"Dom Helder: sonhos e utopias" (o pastor dos empobrecidos).