Obedeço, quando essa obediência me conduz à verdadeira liberdade e a felicidade que dela advém. Mesmo sendo um dom, é preciso que aprendamos pela Sagrada Escritura como usá-lo, pois é assim que no ensina o Senhor que nos criou por amor e nos quer livres para amá-lo acima de todas as coisas. De fato, Deus nos deixa livres para fazermos nossas escolhas e tomarmos nossas decisões. Mas Ele nos orienta para não perdermos nossa liberdade; neste sentido, seus santos mandamentos nos ensinam que são para nós proteção; não cumpri-los significa tirar de nossa vida a proteção que o Senhor nos dá por nossa obediência a ele.
Com efeito, somos tentados a todo instante a não crer e a não viver em comunhão com Deus. Porém, prestem bem atenção, porque toda tentação é uma mentira, pois o inimigo de nossas almas, que está por trás delas, a princípio, esconde seus resultados nefastos, para em seguida apresentar o terrível gosto amago de nossos desvarios e revoltas contra Deus e o seu Cristo. Mas, o que Deus nos ensina na Sagrada Escrituras a esse respeito? Eis o que está escrito na primeira Carta de São Paulo aos Coríntios: “Não vos sobreveio tentação alguma que ultrapassasse as forças humanas. Deus é fiel: não permitirá que sejais tentados além das vossas forças, mas com a tentação, ele vos dará os meios de sairdes dela” (1Cor 10,13).
E nos diz ainda na Carta de São Tiago: “Feliz o homem que suporta a tentação. Porque, depois de sofrer a provação, receberá a coroa da vida que Deus prometeu aos que o amam. Ninguém, quando for tentado, diga: “É Deus quem me tenta”. Deus é inacessível ao mal e não tenta ninguém. Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e alicia. A concupiscência, depois de conceber, dá à luz o pecado; e o pecado uma vez consumado, gera a morte. Não vos iludais, pois, meus irmãos muito amados” (Tiag 1,12-16).
Ora, o aprendizado espiritual para a nossa vida é de suma importância, visto que, aquilo que aprendemos para o nosso bem, é com amor que o aprendemos e praticamos. Nada faz mais uma vida feliz e transparente do que a verdade que nos é comunicada pelo Senhor por meio dos exemplos de fé contidos nas Sagradas Escrituras. O Catecismo da Igreja, falando sobre isso, nos ensina:“Obedecer ("ob-audire") na fé significa submeter-se livremente à palavra ouvida, visto que sua verdade é garantida por Deus, a própria Verdade. Desta obediência, Abraão é o modelo que a Sagrada Escritura nos propõe, e a Virgem Maria, sua mais perfeita realização” (CIC § 144).
“A Epístola aos Hebreus, no grande elogio à fé dos antepassados, insiste particularmente na fé de Abraão: "Foi pela fé que Abraão, respondendo ao chamado, obedeceu e partiu para uma terra que devia receber como herança, e partiu sem saber para onde ia" (Hb 11,8). Pela fé, viveu como estrangeiro e como peregrino na Terra Prometida. Pela fé, Sara recebeu a graça de conceber o filho da promessa. Pela fé, finalmente, Abraão ofereceu seu filho único em sacrifício”. (CIC §145). Assim, pela fé, Abraão obedeceu a Deus e cumpriu Sua vontade integralmente.
Também “A Virgem Maria realizou da maneira mais perfeita a obediência da fé. Na fé, Maria acolheu o anúncio e a promessa trazida pelo anjo Gabriel, acreditando que "nada é impossível a Deus" (Lc 1,37) e dando seu assentimento: "Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1,38). Isabel a saudou: "Bem-aventurada a que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido" (Lc 1,45). É em virtude desta fé que todas as gerações a proclamarão bem-aventurada. Durante toda a sua vida e até sua última provação, quando Jesus, seu filho, morreu na cruz, sua fé não vacilou. Maria não deixou de crer "no cumprimento" da Palavra de Deus. Por isso a Igreja venera em Maria a realização mais pura da fé”. (CIC §148; §149).
Portanto, só obedece quem é livre e só é livre quem encontra Deus e permanece Nele. Todo escravo só faz o que lhe manda aquilo ou aquele que o prende. Por isso, muitos gostariam de poder decidir sobre tudo em sua vida, mas não o fazem por causa da liberdade que perderam quando optaram pelo pecado. Pois, a pior de todas as prisões que o ser humano se impõe, é o pecado. Assim, antes de tudo, o pecado é uma decisão pelo mau uso da liberdade e a perca dela. E todos que assim agem, o fazem pensando tirar algum proveito de seus atos pecaminosos, quando de fato, caem na armadilha dos próprios instintos e se perdem nos caminhos obscuros da maldade, por rejeitarem as graças de Deus.
Falando sobre a liberdade humana, no Evangelho de São João, Jesus disse: “Se permanecerdes na minha Palavra, sereis meus verdadeiros discípulos; conhecereis a verdade e a verdade vos livrará”. No entanto, seus contendedores replicaram-lhe:”Somos descendentes de Abraão e jamais fomos escravos de alguém. Como dizes tu: Sereis livres?” Respondeu Jesus:”Em verdade, em verdade vos digo: todo homem que se entrega ao pecado é seu escravo. Ora, o escravo não fica na casa para sempre, mas o filho sim, fica para sempre. Se, portanto, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres”. (Jo 8,31-36). “E voltou-se para os seus discípulos, e disse: Ditosos os olhos que veem o que vós vedes, pois vos digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram. Bem-aventurado aquele para quem eu não for ocasião de queda!” (Lc 10,23-24; Mt 11,6).
Paz e Bem!
Frei Fernando Maria,OFMConv.