E A PEDRA ERA CRISTO

Em fevereiro 2013 muitos cristãos se surpreenderam com a Renúncia do Papa Bento XVI. Com isto, Bento XVI se demonstrou um teólogo cristão, que se submete às leis da natureza. Sentiu-se naturalmente fragilizado pela idade, e não confiava ingenuamente que Deus milagrosamente preservasse suas energias. Sentia-se ser humano, com a missão de servir a Deus. Não era Deus que estava a seu serviço, mas ele a serviço de Deus, na medida de suas energias humanas. Com muita honestidade reconheceu que estas energias estavam lhe faltando. Por isto, com realismo e humildade renunciou a seu cargo.

Os Papas são as lideranças máximas na Igreja de Cristo, mas continuam humanos. A sua autoridade se define como uma autoridade de serviço: os servos dos servos da comunidade cristã, a Igreja, que caminha nesta terra. E para poderem exercer sua “autoridade de serviço” necessitam de energias vitais, que a natureza, pela idade e pela saúde frágil, muitas vezes, lhes retira. Deus jamais fez um milagre para tornar um idoso novamente jovem! Reconhecer isto é um gesto de grande espiritualidade. Por isto, a renúncia de um Papa (Bento XVI) mostra um Papa imbuído de sabedoria divina e humana.

Em março, porém, já aflorou no rosto destas mesmas pessoas, surpresas com a renúncia de Bento XVI, o júbilo pela eleição de um novo Papa: o Papa Francisco.

É o ciclo da história. Os Papas vão e vêm, mas a Igreja permanece. Portanto, a Igreja de Cristo não é o Papa, nem depende do Papa. Claro, é sumamente importante que o “primum inter pares” seja um referencial de fidelidade à mensagem de Jesus Cristo. Isto é, um Papa que ore; um Papa que evangelize; um Papa que saiba orientar a conduta dos homens para que perseverem no bem.

Para o Apóstolo Paulo a “pedra” da Igreja não é nem Pedro (nem o Papa), mas “esta pedra é Cristo”( cf. 1 Cor. 10,4). Com esta frase, Paulo nos deixa uma lição teológica, que deveria ser motivo de união para todos os cristãos. Pois, ser cristão não é declarar-se fiel, ou obediente, a esta ou àquela autoridade, mas é viver em fidelidade a Jesus Cristo. O Evangelho cristão, em primeiro lugar, é uma sabedoria de vida, e não um culto litúrgico. O culto nada mais é do que um louvor ao Deus da vida, que tão maravilhosamente se manifesta na criação.

Só assim alguém será um cristão adulto, como devem ser os discípulos de Jesus Cristo. Portanto, passam os papas, os bispos e os pastores, mas o cristianismo continua.

Papas, bispos e líderes cristãos merecem o respeito das comunidades cristãs, na medida em que as estimulam a viverem a mensagem de Jesus, orientando as suas vidas pelo Evangelho. Obediência a autoridades, e a Direitos Canônicos, é absolutamente relativo, quando se trata da fidelidade à mensagem de Jesus.

Segundo os Evangelhos, quando nos encontrarmos com Deus, ao final de nossa vida terrena, Ele não nos perguntará se obedecemos a papas, bispos ou pastores, mas se nos interessamos pelos necessitados. Em outras palavras, se colaboramos, em nossa vida, para que na face dos homens e das mulheres, em nosso tempo histórico, brilhasse a imagem e semelhança de Deus, segundo a qual todos os homens são criados. Só o Cristo desta mensagem é a “pedra” da Igreja, contra a qual nenhum poder prevalecerá. E a serviço deste Cristo se encontram todas as autoridades das comunidades cristãs. Também os Papas!

A grande esperança e confiança é que o Papa Francisco cumpra esta sua missão. Ao que tudo indica, vontade e experiência não lhe faltam.

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Inácio Strieder é professor de filosofia – Recife/PE