ANCHIETA E VIEIRA

Observação inicial:

O meu texto, abaixo, sobre Anchieta e Vieira é uma homenagem ao novo Papa Francisco, o primeiro Papa das Américas, e o primeiro Papa que é membro da Ordem dos Jesuítas, desde a fundação desta Ordem Religiosa em 1543 por Inácio de Loyola. O fundador desta Ordem, que também é chamada de Companhia de Jesus, quis contribuir para uma Reforma da Igreja Católica, e levar o Evangelho de Cristo até os confins do mundo..

Como, nesta época, estavam em andamento as colonizações do Continente Americano e Africano, e as navegações seguiam para o Oriente, Inácio de Loyola embarcou nos navios colonizadores os seus missionários para que levassem o Evangelho até os confins da terra. Por isto, desde o século XVI, encontramos os jesuítas em todos os continentes.

No Brasil os jesuítas têm um lugar marcante nos inícios de nossa colonização, evangelizando os indígenas e fundando diversas cidades, como São Vicente, Rio de Janeiro, São Paulo...

O fato de a Ordem nunca ter tido um Papa, deve-se aos estatutos da própria Ordem. Pois, o fundador não queria que membros de sua Ordem aceitassem cargos eclesiásticos, como bispos ou cardeais. Somente poderiam aceitar tais cargos com ordem expressa do Papa. Pois, na época, tais cargos, geralmente, eram ocupados por príncipes, que compravam estes cargos, sem terem vocação espiritual. E isto levava muita corrupção para dentro da Igreja.

Como Inácio de Loyola queria que a Igreja de Cristo fosse uma força espiritual, reformada e evangelizadora, queria impedir envolvimentos dos jesuítas com interesses de poder e corrupção na Igreja Católica. Por isto, a demora, de quase 500 anos, para algum jesuíta chegar ao Papado.

Como, agora, um Jesuíta é Papa, esperemos que ele consiga reformar a Igreja Católica, naquilo que ela precisa ser atualizada, abandonando estruturas medievais, para voltar a ter credibilidade, e promover uma nova evangelização condizente com as necessidades do mundo de hoje, fiel ao verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo. Com o nome de Francisco, espera-se que este Papa jesuíta não decepcione, e tenha como objetivo único o lema jesuítico “Tudo para a Maior Glória de Deus”.

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ANCHIETA E VIEIRA são dois personagens profundamente enraizados na história do Brasil. Por isto, suas virtudes e escritos deveriam ser conhecidos por políticos e estudantes deste país. Isto, certamente, contribuiria muito mais para elevar o ânimo dos cidadãos do que a linguagem corrupta dos partidos políticos e de líderes charlatães de muitas igrejas, que surgem pelo Brasil a fora.

Anchieta apaziguou tamoios e portugueses; fundou cidades e colégios, civilizou antropófagos e criminosos portugueses desterrados ao Brasil; assessorou governadores, mas, ao final, se retirou para aldeias indígenas para morrer entre os pobres...

Antônio Vieira, o maior orador português/brasileiro de todos os tempos; foi capaz de discursar nas cortes europeias, e dar catequese aos mais desinformados habitantes das florestas; mostrou-se um defensor inveterado da liberdade dos indígenas; intranquilizou a consciência de governadores injustos, corruptos e opressores; não escapou da perseguição dos inquisidores...

Claro, alguém poderia objetar que não nos deveríamos preocupar com os mortos, mas com os vivos. É verdade. No entanto, quem está mais vivo, através de suas obras e de seus escritos, do que Anchieta e Vieira? O triste é que damos mais importância a certos “vivos” mortos, do que a certos “mortos” vivos. No sermão sobre Santo Inácio, Vieira diz: “o corpo retrata-se com o pincel, a alma com a pena”. E onde se retrataram melhor Anchieta e Vieira do que em seus escritos? Nestes escritos eles estão vivos, pregando hoje como ontem valores e virtudes que, em todos os tempos, serão base para valores e virtudes que podem, e devem, fundamentar a construção de uma sociedade civilizada, justa e digna para o Brasil.

De fato, existem ainda hoje, em muitas partes, preconceitos pombalinos contra Anchieta e Vieira, bem como contra os jesuítas em geral. Já celebramos o 4º e o 3º Centenários da morte destes patriarcas de nossas raízes nacionais. Isto reforça a necessidade de se rever qualquer preconceito contra os jesuítas.

Torna-se, inclusive, um absurdo ouvirmos, ainda hoje, até de professores universitários, a acusação de que o Brasil ainda se encontra em atraso por causa da longa presença jesuíta em tempos do Brasil Colônia. Em presença deste “mestre historiador”, perguntei—lhe o que já havia lido de Anchieta e Vieira, bem como de outros escritos jesuíticos daqueles tempos. Respondeu-me: “Não li nada, mas ouvi dizer”. Suma ignorância de um acadêmico, corruptor da verdade histórica, que nem sabe examinar criticamente os seus preconceitos!

Para nos reencontrarmos com os inícios de nossa história nacional, e nos confrontarmos com valores e atitudes fundantes na construção duma sociedade civilizada e, portanto, humanizada, nada melhor do que pesquisas, leituras, debates a partir da “alma” de Anchieta e Vieira. Que tal reavivar-se leituras, declamações, teatros, debates de história e política a partir dos escritos de Anchieta e Vieira?

Tais atividades educacionais, certamente, contribuiriam mais eficazmente para a busca de nossa cidadania do que os desmandos de uma política de vaidades e neoliberalismos, sem rumos éticos, que nos indigna todos os dias.

Inácio Strieder é professor de Filosofia - Recife- PE.