Homilia Pe. Ângelo Busnardo: V Domingo da Quaresma.

V DOMINGO DA QUARESMA

17 /03 / 2013

Is.43,16-21 / Fl.3,8-14 / Jo.8,1-11

Durante a travessia do deserto Deus fez grandes prodígios em favor do seu povo: abriu o mar vermelho para que o povo hebreu atravessasse, usou o mesmo mar para afogar os egípcios que perseguiam Israel, alimentou o povo com as codornizes e com o maná e fez jorrar água da rocha: 16 Assim fala o Senhor que abriu uma senda no mar e uma vereda por entre os vagalhões, 17 que mobilizou carros e cavalos, exército e forças militares simultaneamente; eles tombaram e já não conseguiram levantar-se, estavam apagados, extintos como mecha (Is.43,16-17). Está nos planos de Deus fazer prodígios maiores: 18 Não recordeis os acontecimentos de outrora nem presteis atenção aos eventos do passado. 19 Eis que faço uma coisa nova! Já está despontando, não o percebeis? Sim, abro uma estrada no deserto, faço correr rios no sertão (Is.43,18-19). Os prodígios que Deus fará em nosso favor são muito maiores do que aqueles que Ele fez durante a travessia do deserto. Quando Deus estabelecer na terra o reino que pedimos na oração do pai nosso, voltará o paraíso terrestre e então haverá ar, água e comida em toda a superfície da terra, o corpo se tornará compatível com a natureza, não precisando mais de roupas e nem de casas, todas as doenças, o sofrimento e a morte são banidos.

Nossa salvação vem dos méritos de Jesus. Mas para ter acesso aos méritos de Jesus precisamos pôr em prática com fidelidade tudo aquilo que Ele ensinou. Os méritos de Jesus estão à disposição de todos gratuitamente, mas estão condicionados à observância dos mandamentos. São Paulo afirma que abandonou tudo para seguir a Cristo: 8 Na verdade, considero perda todas as coisas, comparadas com o valor inexcedível do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor. Por ele tudo desprezei e considero lixo a fim de ganhar a Cristo 9 e estar com ele, não com minha justiça, que vem da Lei, senão pela justiça que procede de Deus e se funda na fé e nos vem pela fé de Cristo (Fl.3,8-9).

Se quisermos nos salvar precisamos buscar a perfeição durante esta vida. Quem viver na mediocridade pensando que não será condenado, porque Deus é Pai e nenhum pai condena os próprios filhos, ao morrer, não encontrará um pai, mas um juiz implacável que o despachará para o inferno. Devemos lembrar que Jesus é o único Filho gerado pelo Pai. Nós fomos criados pelo Pai. Portanto, somos criaturas e não filhos de Deus. As criaturas humanas, diferentemente das demais criaturas, têm o poder de se tornar filhas adotivas de Deus: 12 Mas a todos que a receberam, aos que crêem em seu nome, deu o poder de se tornarem filhos de Deus; 13 estes não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus (Jo.1,12-13). A filiação adotiva é adquirida pelo batismo e é perdida pelo pecado mortal. Quem morre em pecado mortal não se apresenta perante Deus como filho adotivo mas como simples criatura e será jogado no inferno. O demônio também foi criado por Deus e foi jogado no inferno.

A maioria das pessoas que lêem a Bíblia não compreende aquilo que está lendo. É um terreno fértil para a palavra de Deus aquele que a lê e a entende: 23 O que foi semeado em terra boa é quem ouve a palavra e a entende e dá frutos: uns cem, outros sessenta, outros trinta” (Mt.13,23). Para entender o trecho do evangelho da missa de hoje devemos considerar:

1. A lei de Moisés mandava apedrejar o adúltero e a adúltera: 10 Se um homem cometer um adultério com a mulher do próximo, ambos os adúlteros serão punidos com a morte (Lv.20,10); 22 Se um homem for apanhado dormindo com uma mulher casada, ambos serão mortos, o homem que se juntou com a mulher, e a mulher. Assim extirparás o mal de teu meio (Dt.22,22).

A intenção dos sacerdotes não era cumprir a lei de Moisés, mas condenar Jesus. Se a intenção dos sacerdotes fosse cumprir a lei de Moisés teriam agarrado também o adúltero. O objetivo dos sacerdotes era criar um pretexto para acusar Jesus perante a autoridade romana: 6 Perguntavam isto para testá-lo, a fim de terem do que o acusar. Jesus, porém, inclinou-se e começou a escrever com o dedo no chão (Jo.8,6).

O governo romano tinha proibido as autoridades hebraicas de declarar sentenças de morte: 31 Pilatos disse-lhes: “Tomai-o vós e julgai-o segundo a vossa Lei”. Os judeus responderam: “Não nos é permitido matar ninguém” (Jo.8,31). Apesar da proibição de declarar sentenças de morte, os judeus praticavam o apedrejamento sem declarar a sentença de morte. Simplesmente criavam um tumulto, apedrejavam e ninguém assumia a responsabilidade pelo apedrejamento. Foi assim que apedrejaram Estêvão: 57 Gritando em altas vozes, taparam os ouvidos e todos juntos se lançaram sobre ele. 58 Arrastaram-no para fora da cidade e o apedrejaram. As testemunhas depositaram suas vestes aos pés de um jovem chamado Saulo (At.7,57-58).

Jesus estava perante um dilema: Se dissesse “apedrejem”, eles teriam apedrejado a mulher e depois acusado Jesus perante Pilatos, forçando-o a condenar Jesus por ter desobedecido a uma lei romana. Se Jesus tivesse mandado soltar a mulher seria acusado de não ser o verdadeiro messias e nem um verdadeiro profeta, porque o verdadeiro Messias e um verdadeiro profeta cumpririam a lei de Moisés, mesmo que isto representasse risco para a própria vida.

O povo era analfabeto, mas os acusadores sabiam ler. Escrevendo no chão, Jesus podia dar um recado para os acusadores sem que o povo soubesse.

Quando as duas alternativas são desfavoráveis, é necessário apelar para uma terceira alternativa. No chão, Jesus escreveu o nome das mulheres com as quais os acusadores tinham cometido adultério, a partir do mais velho. Suponhamos que acusador mais velho se chamava Abraão. Jesus escreveu: “Abraão você cometeu adultério com a Débora e com Ester...” Suponhamos que o segundo mais velho se chamava Davi. Jesus escreveu: “Davi você cometeu adultério coma Rute e com a Priscila....” Ao perceber que Jesus poderia acusá-los de adultério e, neste caso, o povo presente os agarraria e apedrejaria, sumiram apressadamente a partir do mais velho: 8 E, inclinando-se de novo, continuou a escrever no chão. 9 Ao ouvirem isto, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos. Jesus ficou só, com a mulher que permanecia ali no meio (Jo.8,8-9).

A mulher não demonstrou nenhum arrependimento. Por isto, Jesus não pôde perdoá-la e, ao despedi-la lhe disse “vai e pára de pecar”: 10 Erguendo-se, disse para a mulher: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?” (ao apedrejamento). 11 Ela respondeu: “Ninguém, Senhor”. Jesus lhe disse: “Nem eu te condeno (ao apedrejamento). Vai, e de agora em diante não peques” (Jo.8,10-11). Se ela tivesse demonstrado arrependimento, Jesus lhe teria dito “vai em paz” como disse à pecadora citada pelo evangelista Lucas (Cf.Lc.7,36-50), à qual Ele afirmou expressamente que lhe tinha perdoado os pecados e a mandou embora em paz: 48 E Jesus disse à mulher: “Os teus pecados estão perdoados”. 49 Os convidados começaram a se perguntar: “Quem é este que perdoa até os pecados?” 50 E Jesus disse à mulher: “A tua fé te salvou. Vai em paz”! (Lc.7,48-50).

Código : domin831

Ângelo José Busnardo

e-mail : ajbusnardo@gmail.com

Pe. Ângelo Busnardo.
Enviado por Joanne em 13/03/2013
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