“MEU PAI TRABALHA ATÉ AGORA”
A andar em Jerusalém certo sábado, querendo, certamente, ilustrar alguma lição para o presente e a posteridade, Jesus aproveitou para também fazer o bem a alguém com grande dificuldade. Junto a tanque de Betesda havia um paralítico fazia trinta e oito anos, pois, como os demais, ele cria que de tempos em tempos um anjo revolvia a água do tanque e o primeiro que mergulhasse na água agitada seria curado. Sabedor de quanto tempo aquele paralítico ali esperava, Jesus perguntou-lhe se queria ser curado e ele respondeu que, por falta de quem o ajudasse, jamais conseguiria chegar primeiro à água. Sem retrucá-lo, Jesus apenas lhe: “Levanta, toma teu leito e anda”.
Imediatamente ele levantou-se, enrolou seus panos e passou a andar. Vendo-o, porém, os líderes religiosos, não atentaram a grandeza do que com ele se passava, pois também sabiam ha quanto tempo jazia paralítico. Observaram apenas que em dia de sábado ele transportava seus panos de dormir e, por causa da Lei dada por Deus a Moisés no Sinai (Ex. 20:8 a 11), eles tinham determinado que no sábado não se podia sequer carregar um lenço, sendo isso considerado por eles como trabalho.
Estupefato, talvez, com tal atitude dos que deviam ter identificado em sua cura um sinal de Deus, o que fora curado respondeu-lhes que o mesmo que o havia curado ordenara que ele tomasse seu leito e andasse, identificando depois que era Jesus. Então os líderes religiosos inquiriram de Jesus porque fizera tal coisa no sábado, ao que Ele lhes respondeu atrevidamente, pois era judeu e obediente a Lei do sábado como eles: “Meu Pai trabalha até agora e eu trabalho também”. – João 5:1-17.
Em outra ocasião, quando, num sábado, ia para a sinagoga, passava Jesus por um trigal com os discípulos e eles colhiam espigas, debulhavam e comiam. Vendo isso, os fariseus cobraram de Jesus que seus discípulos (igualmente judeus e fiéis seguidores do judaísmo) faziam o que não era Lícito fazer no sábado. Ele, porém, defendeu-os lembrando os líderes religiosos de uma ocasião que Davi com seus soldados, tendo fome, entrou no templo e comeram os pães da propiciação que não era lícito comer. E indagou-lhes se eles não tinham lido na Torá (Lei) que aos sábados os sacerdotes no templo violam o sábado e ficam sem culpa. E acrescentou que se eles entendessem o que significava “misericórdia quero e não sacrifícios” não condenariam inocentes, ressaltando a seguir que Ele “o Filho do Homem” é Senhor também do sábado.
Mais adiante nesse mesmo sábado, já na sinagoga, vendo por ali um homem com a mão atrofiada, os líderes religiosos perguntaram a Jesus se era lícito curar no sábado, ao que ele respondeu perguntando se, no sábado, uma ovelha de algum deles caísse num poço qual deles deixaria de socorrer. Então acrescentou que muito amais vale um homem do que uma ovelha, por isto concluiu dizendo que “é lícito fazer o bem no sábado”. Então curou a mão do homem. – Mateus 12:1 a 13.
O que dizer? Jesus estaria aí abolindo o sábado para cuidar de empreendimentos financeiros, para cuidar de seu ganho cotidiano e sustento? Estaria revogando o sábado que Seu Pai (ou Ele mesmo - conforme João 1:1-3) estabeleceu no Éden para toda humanidade? Gênesis 2:3 diz: “abençoou Deus o sétimo dia, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que criara e fizera”. Nesse tempo Deus criou os predecessores de toda a humanidade. Não havia judeus aí. E a Bíblia diz que Deus abençoou, tornou bom, gostoso, relaxante, deleitoso. Ela também diz que Deus santificou o dia de sábado, o que significa distinguir (diferenciar) dos demais dias, torná-lo especial.
Talvez, então, com Suas palavras Jesus estivesse abolindo o Sábado da Lei dada a Moisés no Sinai (os Dez Mandamentos), pois essa lei fora dada especificamente para Moisés que era líder do povo “judeu” na ocasião. Seria, porém, verdade isso? Êxodo 20: 8 a 11 diz: “Lembra-te do dia de sábado para o santificar; seis dias trabalharás e farás toda a tua obra, mas no sábado não farás nenhuma obra (...), porque em seis dias fez o Senhor Deus o céu e a terra e tudo o que neles há e ao sétimo dia descansou”.
Não se vê nessa citação indicação de que os Dez Mandamentos sejam especificamente para os “judeus”. Se Deus tivesse dado as tábuas de pedra na qual grafou os Dez Mandamentos para o grego Heródoto ou qualquer outro filósofo heleno em vez de para Moisés não teria que mudar uma vírgula sequer para dizer que era para os gregos, pois a criação de todos os seres humanos está presumida na expressão “criou o céu e a Terra e tudo o que neles há”. O ser humano há na Terra e foi criado juntamente na ocasião da criação da Terra. Se a Lei grafada por Deus com seu dedo nas tábuas de pedra fosse especificamente para os judeus, o quarto mandamento de Êxodo 20: 8 a 11 diria: “Lembra-te do dia de sábado para o santificar (...) porque em seis dias criou Deus e céu e a terra, tudo o que neles há e os judeus”. Mas não é assim que diz. Ao contrário, diz: “(...) em seis dias criou Deus o céu e a terra e tudo o que neles há”. Não tem “e os judeus”. O ser humano há na Terra. Portanto, esse mandamento, embora dado para o “judeu” Moisés, não diz que é específico para os judeus, mas sim para o ser humano que está incluído na Terra que Deus criou na semana da criação e a obediência desse mandamento é porque Deus criou tudo (inclusive o ser humano) em seis dias e no sétimo descansou.
O que significa então “meu Pai trabalha até hoje e eu trabalho também”?
Deus trabalha na manutenção do Universo e da humanidade permanentemente. Nossa existência é uma atividade contínua de Deus. Não é possível a Ele ligar uma chave, deixar-nos acontecendo e ir cuidar de outros assuntos. Ele faz tudo, cuida de tudo e mantém tudo continuamente e ao mesmo tempo. Por isto Ele é onisciente, onipresente e onipotente. Para que tudo siga existindo, Deus tem que estar continuamente fazendo a existência acontecer, pois a existência do Universo e tudo o que nele há é uma atividade contínua de Deus.
Quando a Bíblia diz que Deus descansou no sétimo dia, Ele não descansou no sentido de desligar-se, mas cessou de cuidar do assunto Criação da Terra que, pois a concluíra e, como Ele disse, “era tudo muito bom”. Entretanto, embora descansando, Ele seguiu cuidando da manutenção da existência de tudo que criara até então, pois se Ele largar de mão tudo se desfaz. Ele descansou, porém, especialmente para nos dar o exemplo, pois nós precisamos descansar para nos refazer, mas Deus continua sempre em atividade para que possamos parar e descansar.
Quanto ao sacerdote no templo e os pastores nas igrejas transgredirem o sábado ao oficiar no templo ou igreja aos sábados é um trabalho requerido por Deus para a salvação das pessoas, por isto eles ficam sem culpa, embora tirando daí seus salários (mas não enriquecimento), pois o próprio Deus determinou que eles vivessem disso. Portanto, nesse caso, eles têm uma autorização especial para transgredir sem culpa, mas somente fazendo a obra evangélica de Deus.
Quanto a Jesus trabalhando também no sábado, Ele não é visto envolvido em ganhos e enriquecimento material nesse dia, em transações comerciais, construções e colheitas para armazenamento e comércio, somente em trabalho humanitário, quando necessário e indispensável, usando seu amor e poder para sanar o sofrimento, a dor, a fome de quem quer que seja ao apresentar a oportunidade. Tais trabalhos os guardadores do sábado também podem fazer. E não só podem como fazem, aproveitando o dia de descanso para levar o Evangelho da salvação para os carentes, levar acalento e esperança para os desanimados, levar remédio e cura para quem sofre doente, alimento material aos famintos e miseráveis, alívio físico e emocional, socorro de qualquer tipo a quem tem fome, sofre calamidade, sinistro, desamparo, etc., fazendo sempre o que não pode ser adiado. De igual modo, Davi e seus homens puderam comer os pães da propiciação, porque Deus quer misericórdia em vez de sacrifícios e misericórdia é o socorro e humanitarismo sobrepujar o resto quando necessário e urgente. Assim podemos transgredir o sábado quando é para socorrer e fazer o bem que não pode ser adiado.
Existe, porém, grande diferença entre o trabalho dos sacerdotes e pastores no templo e igrejas, dos discípulos pegando trigo para comer na hora e lugar por estarem com fome, de Jesus curando e fazendo o bem no sábado, dos médicos e enfermeiros em plantão (pois a doença não escolhe dia), dos crentes indo em socorro dos necessitados e famintos, etc., e os trabalhos que comumente as pessoas fazem atrás de ganhos e enriquecimento material e em bem dos quais ele insistem em dizer que Jesus aboliu a Lei na cruz, mas não os Dez Mandamentos completos, somente a lei do sábado de Êxodo 20: 8 a 11, cuja prática os impediria de ganhar mais dinheiro, então eles dizem que esse mandamento é só para os judeus.
Interessante é que os judeus praticantes fiéis da Lei, apesar de cessarem seus trabalhos e negócios no sábado, não infinitamente mais ricos que os que transgridem o Dia do Senhor para enriquecimento próprio.
Quando diz: “seis dias trabalharas e farás toda a tua obra”, Êxodo 20: 8 a 11 trata do nosso trabalho de aquisição de alimentos, bens e riquezas materiais. Este podemos e devemos fazer durante os seis dias da semana, de domingo (a primeira-feira) até a sexta-feira, uma hora ou mais antes do pôr do sol, quando começa o sábado. Quando diz: “os sacerdotes violam o sábado no tempo e eu trabalho até agora”, Jesus se refere ao trabalho de Deus, não a obre pessoal do indivíduo, mas a obra de Deus. A obra de Deus podemos fazer no sábado e até ajudar a salvar os bens do vizinho, o animal dele, o filho dele, a casa dele, etc., numa catástrofe e sinistro no Dia do Senhor. Nós, leigos (não sacerdotes nem pastores), porém, não ganhamos salários ou pagamentos para fazer o trabalho de Deus aos sábados.
Logo, guardar o sábado não é um martírio ou tortura num dia em que não se pode fazer nada, tendo que ficar como múmias. Esse dia representa o paraíso, o descanso do Senhor de todas as nossas fadigas humanas. Deus nos criou, libertou e santificou, por isto devemos guardar o Seu santo sábado - O Sábado sempre é o desfrutar (literalmente e simbolicamente) das obras de Deus para nós, em nós e em favor de nós. Literalmente porque é benéfico, reparador e restaurador desligar-se de toda preocupação secular e desfrutar de um dia de paz em companhia do Senhor. Simbólico porque o descanso sabático representa a eternidade quando estaremos livres de todo fardo do mundo de pecados. Por isto Deus disse em Êxodo 20:8 a 11, “lembra-te do dia de Sábado para o santificar(...), porque em seis dias Deus criou o céu e a terra e tudo o que neles há”. Esse mandamento lembra que Deus criou a todos os seres humanos e, portanto, o mandamento vale para todos. Em Deuteronômio 5:15 diz: “Guardarás o Sábado e darás descanso aos teus servos, porque fostes servo no Egito e Deus te libertou”. Na cruz, Jesus nos libertou da servidão do pecado que outrora vivíamos. Aceitando a Jesus, podemos ser de qualquer origem, somos libertos de igual modo, então seremos libertos também da obsessão por lucro e insegurança financeira, daí guardaremos o sábado e daremos descanso para nossos trabalhadores por lembramos que fomos escravos do pecado e Deus nos libertou. Em Ezequiel 20:20 e Êxodo 31:13 diz: “Guardarás o sábado porque será um sinal entre mim e vós, porque (...) vos santifico”. Se fizermos a vontade de Deus guardando os Seus Mandamentos, o mundo nos distinguirá, não só por nossa aparência, mas, especialmente por nossos atos. Então as pessoas verão que somos diferentes, que estamos sendo separados (diferenciados, santificados), e, guardando da Lei também o sábado, demonstraremos que somos assim por causa de nossa completa submissão e obediência ao Deus Criador de todas as coisas, a autoridade suprema do Universo e Senhor de toda riqueza também.
Portanto, experimente obedecer a Deus completamente, guardando também o Seu sábado, que é o sinal entre Ele o os filhos que Ele criou, redimiu e santifica. Seja então feliz.
Wilson do Amaral