Religião, não obrigado!
Até conseguir me livrar de todo e qualquer domínio da religião em minha vida, percorri um longo caminho. Nascido em uma família católica – praticante por parte de pai, fui obrigado a cumprir alguns sacramentos como a Primeira comunhão, a Eucaristia – confesso que até gostava do sabor da farinha de trigo dissolvendo embaixo da língua – a Confissão e Penitência entre outros. Alias eu nunca entendi como pode uma pessoa “pecar” muito e, em seguida ser perdoado através de uma simples confissão. Isto vira um círculo vicioso, o indivíduo até pode estar arrependido mas, a certeza da absolvição lhe oferece garantias para os próximos atos torpes e vis que certamente cometerá. Não seria mais justo avisar que todos os seus erros e ações indignas farão parte da sua vida para sempre? O fato de confessar-se não fará com que estas faltas sumam das gavetas do nosso ser em um passe de mágica. Por que não alertar que o propósito de nossas vidas e nos tornarmos cada dia melhor? O aperfeiçoamento diário é o caminho.
Mas deixemos estas considerações á cargo de Ítalo Calvino.
Bem, se estas dúvidas em relação ao Catolicismo já faziam-me pensar muito no assunto, quando avancei nos estudos e entrei na adolescência dei de cara no currículo escolar com a descrição das atrocidades que a Igreja Católica cometeu durante a chamada Idade Média, sob o disfarce de Santa Inquisição. Fiquei estarrecido ao saber que Bispos acompanhavam – provavelmente com certo prazer -os torturadores enquanto os mesmos arrancavam os mamilos de mulheres para que confessassem a prática bruxaria (que alias não deixa de ser uma doutrina de cunho sagrado, a Wicca.)
Com estas práticas hediondas, os inquisidores atrasaram o desenvolvimento intelectual e científico da humanidade em mais de 1.000 anos. Exemplos desta afirmativa se dão quando condenaram o filósofo-astrônomo Giordano Bruno à fogueira por disseminar “doutrinas subversivas” – leia-se Ciência. Ou quando tantos outros intelectuais tiveram que admitir estarem errados – como Galileu Galilei (condenado por heresia em 1648 e inocentado pela Igreja em 1992!).
Fico imaginando se Platão e Sócrates tivessem vivido na Europa naquela época... Arderiam na fogueira ou seriam despedaçados nas mesas de torturas, com certeza!
Mais adiante, prosseguindo nos estudos da História, apresentaram- me às Cruzadas e, outra perplexidade – quantas mortes em nome de Deus!
Conquanto existam muitas lendas á respeito destas expedições “santas”, o fato é que a Cruzada dos Inocentes, ou das crianças, como foi conhecida, existiu e conduziu centenas de jovens á morte e á escravidão, visto que tal expedição não obteve êxito.
Dando um salto enorme, chegamos ao século XXI e nos deparamos com o lamaçal em que se encontra atualmente a instituição católica: a proliferação de padres pedófilos, a corrupção no Vaticano – fatos que abreviaram o papado de Bento XVI, só para ficar com estas duas mazelas. Na tentativa de corrigir estas situações, alguns fiéis perguntam por que a Igreja não permite logo que os padres se casem? Tal beneplácito diminuiria consideravelmente o problema de pedofilia e do relacionamento íntimo de alguns párocos com suas fiéis, algumas até bem infiéis.
Inicialmente, declara-se que o celibato faz parte da constituição da instituição católica e que não há a mínima possibilidade de sua revogação. Ora, se analisarmos a questão sob o prisma da administração e economia, imaginem o que aconteceria se o Vaticano tivesse que dar abrigo e sustento não só aos padres, mas também ás suas mulheres e filhos? Educação, alimentação, plano de saúde, pensão para viúvas e órfãos, etc. A conta não iria bater e a riqueza da instituição se reduziria à situação de uma simples Associação, padecendo das peripécias para fechar a equação mais mundana que existe: Receita X Despesa.
Portanto, o casamento para padres passa longe do viés sacramental, pois o “x” da questão chama-se grana!
Assim, por conta destas e outras hipocrisias, considerei-me desobrigado de seguir a religião que meus pais me impuseram.
Mas e quanto às outras religiões?
Bem, nascendo no Brasil, filho de pais não judeus eu não poderia abraçar o Judaísmo – que é mais uma Etnia do que religião, muito menos o Islamismo (até porque não quero ser convocado para nenhuma “Guerra Santa”). Além do mais, esta historia da luta político-religiosa entre Judeus, Muçulmanos e Católicos, em que todos querem se matar em nome de Deus, não me parece ser coisa divina. Religião que manda matar o próximo, tô fora!
Para seguir os preceitos da Religião Hindu falta-me a disciplina ascética. Ah, mas tem o Budismo e as demais religiões orientais. Bom, o Budismo não é religião mas sim doutrina e, embora eu seja simpatizante dos principais preceitos, não pretendo assistir a cultos semanais, fazer votos, etc. - no, no, no, baby!
Tem também as religiões de origem africanas que já fazem parte do sincretismo religioso brasileiro ( lavagem da Igreja do Nosso Senhor do Bonfim , celebração de cerimônia de culto a Iemanjá, entre outras manifestações). Bem, gosto muito do som dos atabaques e de algumas definições dos Orixás que me remetem às lendas da Mitologia Greco-romana, mas não sei se estaria apto a acompanhar os preceitos e rituais da Umbanda ou do Candomblé.
Quanto ao Espiritismo, sinto informar que também não é religião e sim doutrina criada pelo pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail. Apesar de eu ser simpatizante de muitos de seus conceitos, estou longe de poder ser considerado espírita de carteirinha.
Quanto ás religiões ditas evangélicas, derivadas do catolicismo, fico com um pé atrás quando me deparo com o nome de alguns pastores brasileiros na lista da Forbes indicando os homens mais ricos do mundo. Até considero algumas destas religiões protestantes muito respeitáveis, principalmente as mais antigas, entretanto, de 40 anos para cá o surgimento de igrejas com novas denominações cujos templos com cultos teatrais de hora em hora tentam arrecadar o máximo de dinheiro possível e o domínio das mídias com seus pastores eletrônicos que exigem o pagamento do dízimo a cada 15 minutos me deixam imunes às suas pregações.
Enfim, quero ser livre de condicionamentos e crenças fechadas, Não quero ninguém dizendo que não posso comer carne de porco ( embora eu seja Vegetariano por convicção) nem que eu tenha que reservar o sábado para pensar na vida e não possa nem tocar violão. Muito menos quero que me digam que mulheres não devem usar calças, que o sexo antes do casamento é proibido e outras tantas limitações que mesmo aqueles que se dizem religiosos não observam. É o famoso jeitinho brasileiro do tipo, ah, não posso usar camisinha pois sou proibido de controlar a natalidade, mas vou utilizar para não contrair AIDS...
Deixo claro aqui que respeito todos aqueles que discordam de minha opinião assim como respeito a crença de cada um.
Bem, só resta agora responder aquela pergunta tão polêmica: Mas você não acredita em Deus? E para o desespero dos Ateus e Agnósticos eu respondo com uma afirmação de cunho filosófico que reputo inquestionável: Tudo o que existe foi criado por alguém, portanto, tem alguma consciência universal que está por trás de tudo. Nada pode existir, nem planetas, nem Galáxias sem que alguém as tenha criado – de uma maneira que não podemos compreender totalmente. Não adianta vir com teorias científicas mirabolantes, pois não passam de terorias. Não se comprovou ainda o elo entre o homem e o macaco.
Sim, Deus existe, nunca duvidei disto, não importa como o denominamos, mas ele não criou as religiões, foram os homens enquanto se organizavam entre tribos e nações. É sabido que o Homem existe no planeta há mais de 40 mil anos e a religião, tal qual a conhecemos, há não mais de 6 mil anos.
Portanto, vamos deixar o criador dos mundos fora desta discussão. E quando quero relacionar-me com este ser perfeito, evoco a canção do mestre Gilberto Gil e dispenso os intermediários que as religiões criaram:
“Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus.”