Homilia Pe. Ângelo Busnardo- III Domingo da Quaresma.

III DOMINGO DA QUARESMA

03 / 03 / 2013

Ex.3,1-8ª.13-15 / 1Cor.10,1-6.10-12 / Lc.13,1-9

Quando Deus fez aliança com Abraão prometeu dar a terra de Canaã aos descendentes dele: 18 Naquele dia o Senhor fez aliança com Abrão, dizendo: “A teus descendentes dou esta terra, desde a Torrente do Egito até o grande rio, o Eufrates” (Gn.15,18). Jacó, neto de Abraão, transferiu-se com a família para o Egito. No Egito, os israelitas se multiplicaram sem se misturar com os egípcios.

Ao constatar que os israelitas formavam um povo separado na sociedade egípcia, o faraó ficou preocupado com a possibilidade de, em caso de guerra, os israelitas apoiarem os inimigos do Egito: 8 Surgiu um novo rei no Egito, que não tinha conhecido José, 9 e disse ao povo: “Olhai como a população israelita está se tornando mais numerosa e mais forte do que nós. 10 Vamos tomar precauções para impedir que continuem crescendo e, em caso de guerra, se unam também eles a nossos inimigos, e acabem saindo do país” (Ex.1,8-10). Precavendo-se contra esta possibilidade, o faraó tentou forçar os judeus a se misturarem com os egípcios. Por isto, decretou o extermínio dos meninos judeus para forçar as meninas a casarem com egípcios: 15 Depois o rei do Egito disse às parteiras dos hebreus, uma das quais se chamava Sefra e outra Fua: 16 “Quando assistirdes as mulheres hebréias no parto, prestai atenção ao nascer a criança: se for menino, matai; se for menina, deixai viver” (Ex.1,15-16). Como o projeto do faraó não deu resultado porque as mulheres hebréias tinham seus filhos sem a ajuda das parteiras egípcias, o faraó determinou que os meninos recém-nascidos fossem jogados no rio Nilo: 22 O Faraó deu uma ordem a toda a sua gente: “Lançai no rio Nilo todos os meninos hebreus recém-nascidos, mas poupai a vida das meninas” (Ex.1,22).

A mãe de Moisés conseguiu mantê-lo escondido durante três meses. Temendo que seria descoberta, ela mesma decidiu colocá-lo no Nilo dentro de uma cesta impermeabilizada no dia em que sabia que uma princesa costumava tomar banho no rio, deixando a irmã do menino escondida observando o que iria acontecer. A princesa resgatou o menino e a irmã dele se ofereceu para arranjar uma mulher para amamentá-lo: A filha do Faraó desceu para tomar banho no rio, enquanto as companheiras passeavam na margem do Nilo. Ela viu a cestinha no meio dos juncos e mandou que uma criada a apanhasse. 6 Abrindo-a, viu a criança: era um menino que chorava. Ficou com pena e disse: “É uma das crianças dos hebreus”. 7 A irmã do menino disse para a filha do Faraó: “Queres que vá chamar uma ama de leite entre as mulheres hebréias para criar o menino?” 8 “Vai”, disse-lhe a filha do Faraó. E a moça foi chamar a mãe do menino (Ex.2,5-8).

Assim que o menino foi desmamado, a mãe o entregou à princesa. Moisés foi criado na família real recebendo uma esmerada educação intelectual e militar. Na família real, Moisés não recebeu educação religiosa hebraica. Por razões políticas, Moisés precisou fugir do Egito e foi para Madiã (Cf.Ex.2,11-15).

Abraão teve um filho com uma escrava egípcia chamado Ismael. Os descendentes de Ismael habitavam em Madiã. Moisés acabou casando com a filha do sacerdote de Madiã e, através deste sacerdote, recebeu a educação religiosa hebraica que não tinha recebido no Egito: 21 Moisés concordou em morar com ele, e este homem deu-lhe a filha Séfora em casamento. 22 Ela teve um filho, a quem ele chamou Gérson, pois disse: “Tornei-me hóspede em terra estrangeira” (Ex.2,21-22). Assim, Moisés estava preparado para liderar o povo judeu na conquista da terra de Canaã, tendo recebido educação política e militar no Egito e educação religiosa hebraica em Madiã.

Assim, Deus, antes de confiar a Moisés a espinhosa missão de conduzir seu povo para Canaã, o preparou. Na visão da sarça ardente, Deus encarregou Moisés de liderar os judeus durante a travessia do deserto: 4 O Senhor viu que Moisés se aproximava para observar e Deus o chamou do meio da sarça: “Moisés! Moisés!” Ele respondeu: “Aqui estou!” 5 Deus lhe disse: “Não te aproximes daqui! Tira as sandálias dos pés, pois o lugar onde estás é chão sagrado”. 6 E acrescentou: “Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacó”. Moisés cobriu o rosto, pois temia olhar para Deus (Ex.3,4-6).

Evitando se misturar com os egípcios, os judeus puderam conservar-se fiéis ao culto do verdadeiro Deus. Moisés precisava de um argumento forte para convencer os judeus a abandonar tudo o que possuíam no Egito e aventurar-se a atravessar o deserto e, chegando em Canaã, expulsar os povos que habitavam a terra para poder morar nela. Por isto, Moisés interpelou Deus: 13 Moisés disse a Deus: “Mas, se eu for aos israelitas e lhes disser: ‘O Deus de nossos pais enviou-me a vós’, e eles me perguntarem: ‘Qual é o seu nome?’ que lhes devo responder?” (Ex.3,13). O que Moisés precisava era um argumento para provar aos israelitas no Egito que o Deus que o tinha enviado era o mesmo que prometera a Abraão dar a terra de Canaã em herança aos descentes dele. Quando Deus se autodefine com as palavras “Eu sou”, indica que Ele é o Deus que fez uma promessa a Abraão e que mantém a promessa. Em outras palavras, Deus afirma: Eu sou fiel, cumpro o que prometi.

Deus avisou Moisés que endureceria o coração do faraó para não deixar o povo hebreu sair do Egito: 21 O Senhor lhe disse: “Voltando ao Egito, cuida de fazer perante o Faraó os prodígios que pus à tua disposição. Mas eu lhe tornarei obstinado o coração, e ele não deixará o povo partir (Ex.4,21). Parece contradição: Se Deus queria que os judeus saíssem do Egito, por que tornou o coração do faraó obstinado? Deus não se contradiz. Se o faraó tivesse dito a Moisés: “podes sair e levar quantos hebreus quiseres, mas você tem quarenta e oito horas para sair do Egito com quem quiser te acompanhar. Mandarei uma escolta militar para acompanhar o grupo até a fronteira do Egito. Se, porém, após quarenta e oito horas, ainda não tiveres partido mandarei te enforcar na árvore mais próxima do lugar em que fores encontrado, Moisés teria partido sozinho.

Em vez de permitir a saída do povo hebreu, o faraó os castigou aumentando o trabalho que deviam prestar ao governo egípcio: 6 Naquele mesmo dia o Faraó ordenou aos inspetores do povo e aos capatazes, dizendo: “Não forneçais mais palha a esta gente para fazer tijolos, como antes fazíeis. Que eles mesmos busquem a palha. 8 Mas exigi a mesma quantia de tijolos de costume, sem tirar nada. São uns preguiçosos, e por isso reclamam: ‘Queremos ir oferecer sacrifícios ao nosso Deus’. 9 Carregai estes homens com mais trabalho, para que estejam ocupados e não dêem ouvidos a palavras mentirosas” (Ex.5,6-9). Vendo que a vida no Egito se tinha tornado insuportável, parte dos hebreus decidiu acompanhar Moisés e Aarão.

Apesar de acompanharem Moisés, a maioria dos hebreus que saíram do Egito não permaneceram fiéis e morreram durante a travessia do deserto. Todos aqueles que saíram do Egito com mais de vinte anos, exceto Josué e Caleb, morreram no deserto: 26 O Senhor falou a Moisés e Aarão, dizendo: 27 “Até quando devo ouvir esta comunidade perversa que murmura contra mim? Eu ouvi as murmurações dos israelitas que murmuram contra mim. 28 Dize-lhes: Por minha vida –oráculo do Senhor –juro que farei assim como vos ouvi dizer: 29 Vossos cadáveres tombarão no deserto. E todos vós, os recenseados, incluídos entre os maiores de vinte anos, vós que murmurastes contra mim, 30 nenhum de vós entrará na terra em que com mão levantada jurei fazer-vos habitar, exceto Caleb filho de Jefoné, e Josué filho de Nun (Nm.14,26-30).

Baseado neste fato, São Paulo avisa os cristãos de Corinto que não basta fazer parte do povo de Deus, é preciso ser fiel: 1 Não quero, irmãos, que ignoreis que nossos pais estiveram todos sob a nuvem, que todos atravessaram o mar, 2 e todos foram batizados em Moisés sob a nuvem e pelo mar; 3 que todos comeram o mesmo pão espiritual e todos beberam a mesma bebida espiritual, 4 pois bebiam da rocha espiritual que os seguia, e a rocha era Cristo. 5 Porém, Deus não se agradou da maioria deles, pois foram prostrados no deserto (1Cor.10,1-5). O nosso objetivo é a salvação, isto é, chegar à casa do Pai, onde está a nossa morada definitiva. Para alcançar a salvação é necessário filiar-se à Igreja Católica, a única fundada por Jesus e a única que pode conferir sacramentos válidos. Mas, além de pertencer à única Igreja verdadeira, é necessário viver com fidelidade tudo aquilo que Jesus ensinou. Como todos os hebreus que não acompanharam Moisés e a maior parte daqueles que o acompanharam não conseguiu entrar na terra de Canaã, também todos aqueles que não pertencem à única Igreja fundada por Jesus e a maioria dos católicos não se salvará por não viverem com fidelidade os ensinamentos de Jesus: 13 Entrai pela porta estreita, pois larga é a porta e espaçoso o caminho que leva à perdição, e muitos são os que por ele entram. 14 Quão estreita é a porta e apertado o caminho que leva à vida, e poucos são os que o encontram! (Mt.7,13-14).

Os hebreus supunham que aqueles que eram atingidos por grandes desgraças estavam em pecado. Por isto relataram a Jesus a morte violenta de um grupo de galileus: 1 Naquele momento apareceram alguns que contaram a Jesus sobre os galileus que Pilatos matou, misturando o seu sangue com o dos sacrifícios que ofereciam (Lc.13,1). Jesus não disse que aqueles galileus eram inocentes e citou também a morte violenta de dezoito operários que trabalhavam na construção de uma torre em Jerusalém e afirmou que, sem conversão, nenhum galileu e nenhum habitante de Jerusalém se salvariam: 2 Jesus lhes disse: “Pensais que estes galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem sofrido tal coisa? 3 Digo-vos que não. E se não vos converterdes, todos morrereis do mesmo modo. 4 Ou aqueles dezoito sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, pensais que eram mais culpados do que todos os outros que moram em Jerusalém? 5 Digo-vos que não. E se não vos converterdes, todos vós morrereis do mesmo modo” (Lc.13,2-5).

Hoje, muitos pensam que se salvarão porque não fazem mal a ninguém. Quando morre alguém, chamam o padre para benzer o cadáver e depois mandam rezar uma missa, pensando que o defunto está salvo porque era uma boa pessoa. Mas não basta ser bom para se salvar. É necessário amar a Deus acima de todas as coisas, acima de si mesmo para se salvar. Quem não tem duas horas por semana para ir a missa não pode dizer que ama a Deus. Jesus citou a parábola da figueira que era frondosa, carregada de folhas, mas tinha frutos e, por isto, não merecia ocupar o chão em que se encontrava: 6 Contou-lhes ainda esta parábola: “Um homem tinha uma figueira plantada em seu sítio. Veio procurar figos dessa figueira, e não achou. 7 Disse então ao agricultor: ‘Já faz três anos que venho procurando figos desta figueira, e não acho; corta-a! Para que ocupa ainda inutilmente a terra? (Lc.13,6-7). Aquele que nada faz para se salvar, por melhor que pareça aos olhos do mundo, não merece ocupar um lugar na casa do Pai. Através do primeiro mandamento, Deus ordena que o amemos acima de tudo, acima de nós mesmos. Quem não tem duas horas por semana para ir à missa aos domingos, não pode dizer que cumpre o primeiro mandamento e, quando morrer, irá para o inferno”.

Código : domin829

Ângelo José Busnardo

e-mail : ajbusnardo@gmail.com

Pe. Ângelo Busnardo.
Enviado por Joanne em 27/02/2013
Código do texto: T4162004
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