Sobre os Apologistas

Este texto visa demonstrar a opinião que formei após manter contato com debatedores no tema “religião”. Após estudar suas posições em relação a cada crença, seus argumentos e estilos, pude chegar a conhecer algumas características da apologética (em especial a cristã). Dentre estas características estão o fato da teologia poder ser “forjada”[1][15][17]; a comparação de um apologista com um advogado e não com um filósofo honesto; e a diferença de raciocínio “demonstrativo” para um raciocínio “dialético”[2][14].

Um apologista cristão é alguém que defende as afirmações do cristianismo como sendo algo real, verdadeiro e procura convencer o público cético ou ignorante de que acreditar no cristianismo é o melhor caminho para a felicidade[1]. Segundo a Apologética alguns fatos sobre Deus podem ser provados puramente pela razão, outros pela razão e fé nas revelações e alguns somente pela fé[1]. Cabe ao apologista argumentar a favor das afirmações do cristianismo. Porém, há vários tipos de apologistas. Uns modernistas, outros fundamentalistas, ortodoxos ou tradicionais[1][15][17]. Tudo depende da forma como a Teologia é “forjada”[1] e do tipo de abordagem utilizada por eles[15][17]. Por exemplo, os fundamentalistas se baseiam primeiro na autoridade da bíblia, já os modernistas recusam até os milagres de Cristo como algo literal[1][15]. Outros se apoiam em documentos históricos, etc. A forma como eles fazem isso é parecida com a de um “advogado”[1][3]. Isto é, não precisam necessariamente falar a verdade, só precisam ser convincentes. O raciocínio utilizado por eles é dialético e não demonstrativo[2][14]. Ou seja, a rigor não são “provas” e sim “justificativas” para convencer o “júri” de que é melhor crer no cristianismo deles.

Um raciocínio é um argumento que a partir de certas coias estabelecidas (premissas) fazem-se deduções lógicas de outras (conclusão)[1][2][19][20][21]. Uma demonstração ou prova é um argumento que parte de premissas VERDADEIRAS e por dedução lógica se conclui necessariamente a VERDADE[2][14][19]. Entenda por “verdadeiro” uma verdade matemática, uma tautologia ou um fato documentado SEM MARGENS PARA AMBIGUIDADE[14] (coisa rara de se encontrar em meios desonestos ou interesseiros). Um raciocínio dialético é um argumento baseado em premissas GERELMENTE ACEITAS por todos, pela maioria ou por pessoas notáveis, especialista[2], cuja conclusão não é necessariamente verdadeira, muito menos provável. Pois a aceitação de um fato não implica probabilidade. É o contrário. A frequência de vezes que um fato ocorre implica probabilidade[4][5][6] e a probabilidade implica aceitação[14]. Os argumentos dialéticos são CONVINCENTES. Algo, em essência, diferente de VERDADEIRO. Coisas verdadeiras podem não ser convincentes e coisas convincentes podem não ser verdadeiras.

Alguns argumentos apologéticos são prováveis, como o da Causa Primeira. Observa-se com frequência que as coisas particulares que se iniciam têm uma causa[14] (mesmo que a transição do quantum individual nos átomos não tenha[7][8]). Faz-se então uma indução (generalização) para o total das coisas particulares[7][14][18]. É bem aceito e até justificado pela Cosmologia que o universo teve um início[8][9][10], daí é provável que ele tenha sido causado. Porém, isto, de nenhuma forma “prova” a existência do deus dos teístas, apesar de muitas vezes não ter esta intenção. Além disso, é dialética pura tentar convencer o “júri” de que a melhor explicação para esta Causa Primeira é o teísmo. Acreditar que o universo teve uma causa (pois é possível, sejamos honestos) também é característica do deísmo e do panteísmo, por exemplo. Duas correntes diferentes da visão teísta (pelo menos após a Origem) que também usam a dialética a seu favor[1], mas isso é outro assunto. Isso sem falar nos interesseiros e às vezes desonestos apelidados de neo-ateus, que também usam e abusam da dialética. De forma até menos preparada que alguns apologistas cristãos[1][11][12][13].

Ser honesto consigo mesmo é analisar profundamente e rigorosamente uma opinião, inclusive experimentando-a[1][18], sem ter preconceitos e ter em mente que aceitar o fato mais provável é melhor do que aceitar o menos provável ou sequer não aceitar nada[4][5][6][14][18]. Saber que “provável” é diferente de “determinado”. E que “estar” errado não é “ser” errado. Deixemos o “orgulho intelectual” de lado e assumamos uma postura de “maturidade intelectual”. Sem militâncias despropositadas e prepotentes, ricas em ataques pessoais[13].

Infelizmente a tendência é escolher o que é mais convincente e não necessariamente o que é verdadeiro. Como saber onde está a verdade então? Geralmente é impossível decidir com consciência frente a argumentos tão convincentes. Se for impossível decidir pela veracidade da questão principal do debate, saia do debate, volte ao mundo real e observe se as afirmações que se relacionam com o tema possuem elementos que de fato ocorram ou existam. A maioria das pessoas, religiosas ou não, acreditam em fatos corriqueiros, simples, contados por pessoas que mentem pouco, ou mesmo fatos incomuns podem ter crédito fácil se os elementos que o compõem forem comuns, normais (as famosas “coincidências”). Lembrando que “fatos corriqueiros” não são necessariamente “fatos geralmente aceitos” e vice-versa. Por exemplo, é muito comum alguém aceitar que uma pedra de 4 kg cairá no chão mais rápido do que uma de 1 kg, mas isto não ocorre de fato. Entenda a palavra “corriqueira” como a característica de algo que “acontece com frequência”. Já os eventos anômalos perdem crédito justamente por fugirem a todas as “regras” conhecidas. Fogem de tudo que é provável. A maioria das pessoas nunca experimentou ou é incapaz de conceber pelo bom senso através dos elementos que compõem a afirmação. Dos eventos anômalos geralmente se cobram provas. Pelo menos alguém com bom senso cobraria. E “provas”, no sentido puramente lógico e demonstrativo, como vimos, são diferentes de “justificativas” para a crença. Se for impossível te provarem um evento maravilhoso e incomum, rejeite ou seja indiferente. Assim como se é indiferente a tudo o que não te interessa. A não ser que a significância do evento seja grande para você. Nestes casos não se é tão rigoroso com o valor verdade[4][5][6]. A Estatística Matemática demonstra que rejeitar eventos anômalos causa menos enganos em longo prazo[4][5][6].

Conclusão. Em um debate no tribunal do júri o “réu” ou é culpado ou é inocente. No debate, a “promotoria” acusa a culpa, o “advogado” defende a inocência e o “júri” dá o veredicto. Ou o “promotor” ou o “advogado” está falando a verdade. Um deles sempre estará em essência mentindo (desonestos) ou omitindo fatos (interesseiros), mas sempre pretendendo argumentar de forma válida e apoiada em premissas geralmente aceitas e em poucos casos em documentos sem ambiguidades (pelo menos na opinião do adversário)[3]. O “júri” dará o veredicto baseado em opiniões pré-concebidas provindas de uma análise superficial - mesmo jurando imparcialidade - ou mudarão de opinião após ouvirem os “apologistas” de cada lado. Sendo que somente um dos lados pode estar certo, qual você escolhe?

Thiago de Oliveira Alves (ToWo).

Apoio Bibliográficos:

[1] KREEFT, Peter, TACELLI, Ronald K.Manual de defesa da fé: apologética cristã; tradução de Bruno Destefani e Maria Eugênia da Silva Fernandes. 1 ed. Rio de Janeiro: Editora Central Gospel Ltda, 2008.

[2] ARISTÓTELES. Tópicos.pdf. Site: www.ciberfil.org. .Novembro de 2000

[3] RIOS, Josué Oliveira. Guia dos seus direitos. 12ª Ed. São Paulo: Editora Globo, 2002.

[4] MEYER, Paul L. Probabilidade: aplicações à estatística; tradução do Prof. Ruy de C. B. Lourenço Filho. 2 ed. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos S.A., 1983.

[5] HELENE, Otaviano Augusto Marcondes, VANIN, Vito R. Tratamento estatístico de dados em física experimental. 2 ed. São Paulo: Edgar Blucher, 1991.

[6] SPIGEL, Murray Ralph. Estatística: resumo da teoria, 875 problemas resolvidos, 619 problemas propostos; tradução de Pedro Consentino; ed. Revisada por Carlos José Pereira de Lucena. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1977.

[7] RUSSELL, Bertrand. Porque não sou cristão: e outros ensaios sobre religião e assuntos correlatos; tradução Breno Silveira. Livraria Exposição do Livro, 1972.

[8] EISBERG, Robert, RESNIK, Robert. Física quântica: átomos, moléculas, sólidos, núcleos e partículas; tradução de Paulo Costa Ribeiro, Enio Frota da Silveira e Marta Feijó Barroso. Rio de Janeiro: Campus, 1979.

[9] NUSSENZVEIG, Herch Moysés. Curso de física básica – vol. 2, 4. São Paulo: Blucher, 1998.

[10] MOURÃO, Ronaldo. O livro de Ouro do Universo. Rio de janeiro: Ediouro Publicações Ltda., 2000.

[11] DAWKINS, Richard. Deus, um delírio; tradução de Fernanda Ravagnani. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

[12] ONFRAY, Michel. Tratado de ateologia: física da metafísica; tradução de Monica Stahel. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2007.

[13] debates sobre religião no facebook, Yahoo! Resposta e no Recanto das Letras, por exemplo.

[14] HUME, David. Investigação acerca do entendimento humano; tradução de Anoar Aiex. http://br.egroups.com/group/acropolis/.

[15]ROGERSON, J.W.. O livro de ouro da bíblia: origens e mistérios do livro sagrado; tradução de Talita M. Rodrigues. Rio de janeiro: Ediouro Publicações Ltda., 1999.

[16]Série Quero Saber: desvendando a bíblia e seus mistérios; tradução Constantino Kouzmin-Korovaeff. São Paulo: Editora Escala, 2009. (Quero saber).

[17] A BÍBLIA DE JERUSALÉM. Tradução do texto em língua portuguesa diretamente dos originais. Tradução das introduções e notas de La Sainte Bible, edição de 1973, publicada sobre a direção da “École Biblique de Jerusalém”. São Paulo: Edições Paulinas, 1981.

[18] KOCHE, José Carlos. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e iniciação à pesquisa. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

[19] ALENCAR FILHO, Edgard de. Iniciação à lógica matemática. São Paulo: Nobel, 2002.

[20] LIPSCHUTZ, Seymour. Matemática finita: resumo da teoria, 837 problemas resolvidos,400 problemas propostos; tradução de Adalberto Panobianco Bergamasco. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1977.

[21] LIPSCHUTZ, Seymour. Teoria dos conjuntos: resumo da teoria, 283 problemas resolvidos, 270 problemas propostos; tradução de Fernando Vilain Heusi da Silva. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1974.

ToWo
Enviado por ToWo em 21/02/2013
Reeditado em 22/02/2013
Código do texto: T4152849
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