A TRAGÉDIA DE SANTA MARIA.
Sempre tem muito falatório depois que as tragédias acontecem. E em Santa Maria não tem sido diferente. Logo aparece um vereador, um deputado, um prefeito, e dependendo da proporção da fatalidade, um Ministro de qualquer coisa, uma Presidente, e outros tantos espertalhões querendo seus minutos de propaganda eleitoral grátis. O pior é que, sempre, ninguém tem culpa alguma.
Talvez seja culpa do alvará que estava vencido. Se o alvará estivesse atualizado a tragédia não aconteceria? O que é preciso para ter um alvará atualizado, dando condições de funcionamento? Trabalhei numa empresa onde eu era o responsável pela atualização dos alvarás, e sei que muitas são as exigências. Um alvará provisório pode ser concedido com promessa do proprietário de que as exigências serão fielmente cumpridas. Talvez fosse o caso de não expedir o tal documento sem que todas as exigências estivessem realmente cumpridas de acordo com as normas de segurança para o local.
Vivemos num país que não é sério. A frase “O Brasil não é um país sério.”, originalmente atribuída ao general Charles de Gaulle, mas que, na realidade, foi dita pelo embaixador brasileiro na França, Carlos Alves de Souza Filho, por volta de 1963, nos mostra que somos uns brincalhões há muitos anos. Conhecemos o tão famoso “jeitinho brasileiro” de se fazer as coisas. Infelizmente a corrupção rola solta neste país, que pretende ser de primeiro mundo. Então, as coisas são feitas de acordo com a moral, com o caráter, com a ganância, daqueles que são os responsáveis por elas. Alguns míseros trocados bastam para que se faça “vista grossa”, e se deixe passar alguns detalhes que podem, no futuro, serem cruciais para salvar vidas.
Um garotinho brincando com um game no avião, chama a atenção do pai e diz: “Pai, ele entrou no caminho da morte, vem ajudar ele sair”. No game da vida muitos estão no caminho da morte por sua irresponsabilidade desenfreada, que não mede as consequências que podem advir de suas decisões corrompidas pelo desejo de “se dar bem”, e não agem com seriedade em suas funções. Assim as tragédias vão se amontando por ai, em todos os lugares. Sejam incêndios em locais como a Boate Kiss, ou enchentes como na Região Serrana do Rio de Janeiro e em Xerém, em naufrágios como o Bateau Mouche 4 no Rio, em 1988, e tantas outras.
Talvez estejamos vivendo tempos de Noé, quando “viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque todo o ser vivente havia corrompido o seu caminho na terra” (Gn 6:12). Para Jeremias Deus disse: “Percorram as ruas de Jerusalém, olhem e observem. Procurem em suas praças para ver se podem encontrar alguém que aja com honestidade e busque a verdade” (Jr 5:1). Para nós, hoje, diria: “Procurem pelo seu país para ver quantos encontrarão que ajam com honestidade, que não se corrompam com facilidade, que busquem a verdade”.
“A justiça engrandece a nação, mas o pecado é uma vergonha para qualquer povo” (Pv 14:34), diz o texto sagrado. É assim que me sinto vendo algumas coisas que acontecem no nosso país.
Falta vergonha na cara de alguns que ficam na telinha se dizendo verdadeiros santos, enquanto provas e mais provas são apresentadas contra eles. É uma vergonha essa falta de vergonha. Até mesmo de alguns que se dizem cristãos. Isso me irrita muito.
No sermão profético Jesus Cristo avisa que “devido ao aumento da maldade, o amor de muitos se esfriará, mas aquele que perseverar até o fim será salvo” (Mt 24:12,13). Sendo assim não podemos nos admirar disso tudo que ocorre por ai, mas sim entender que faz parte do inicio do fim, ou do meio do fim. Entender, mesmo sem compreender às vezes, que tudo isso era previsto de acontecer.
Tanto quanto o personagem do game do garotinho do avião os personagens reais da vida estão também caminhando a passos largos para a morte. Então, vale lembrar o enfático apelo de Judas: “Queridos amigos, lembrem-se do que os apóstolos do nosso Senhor Jesus Cristo lhes disseram, que nos últimos tempos viriam esses escarnecedores, cujo único propósito na vida é deleitar-se em todas as formas de maldade que se possam imaginar. Eles provocam discussões; amam as coisas pecaminosas do mundo; não têm o Espírito Santo morando neles. Procurem ajudar aqueles que contendem contra vocês. Tenham compaixão daqueles que duvidam. Salvem alguns, arrebatando-os como se fosse das próprias chamas do inferno. E quanto aos outros, ajudem-nos a encontrar o Senhor, sendo bondosos com eles, mas tomem cuidado para que vocês mesmos não sejam arrastados para os mesmos pecados deles. Detestem qualquer vestígio do pecado deles, enquanto têm compaixão deles como pecadores” (Jd 17-19 e 21-23).
Como o garotinho do avião, nos resta pedir a Deus, nosso Pai, pelo consolo e conforto das famílias que perderam seus filhos na boate Kiss, e pelos que andam nos caminhos da morte, para que tenham tempo de arrependimento.