Homilia Pe. Ângelo Busnardo: III Domingo Comum.

III DOMINGO COMUM

27 / 01 / 2013

Ne.8,2-4ª.5-6.8-10 / 1Cor,12,12-30 / Lc.1,1-4;4,14-21

Em 587 antes de Cristo, a Babilônia derrotou Israel, matou grande parte da população e deportou os sobreviventes para diversos países dominados pelos caldeus. Jeremias que, apesar de ter sido deixado livre pelos caldeus, preferiu acompanhar os deportados para incentivá-los a confiar em Deus que os libertaria da escravidão profetizou que futuramente Deus repatriaria seu povo.

Setenta anos após a deportação, a Pérsia derrotou a Babilônia e o rei Ciro deu ordens aos judeus para voltar para Israel, reconstruir Jerusalém e o templo. Os judeus que na época da deportação eram adultos assim como Jeremias já tinham morrido, mas os descendentes deles puderam voltar. Obviamente, os israelitas que tinham prosperado no exílio não deixaram suas propriedades e seus negócios para recomeçar na pátria. Mas uma parte do povo de Deus voltou e começou a reconstrução.

Neemias que tinha um posto importante no palácio real da Pérsia não voltou para a pátria. Mas, ao receber notícias que os judeus que voltaram para Israel estavam passando por sérias dificuldades, compadeceu-se e pediu permissão para o rei Artaxerxes, a cujo serviço se encontrava, para socorrer os irmãos na Palestina. Artaxerxes o autorizou a viajar e lhe deu cartas de apresentação para os reinos vizinhos. Em Jerusalém, Neemias encontrou uma população fraca e ameaçada pelos samaritanos e reinos vizinhos que se opunham à reconstrução dos muros de Jerusalém e do templo. Usando a experiência adquirida na administração do palácio real da Pérsia, Neemias organizou os operários que trabalhavam na construção e os treinou e armou para se defenderem de eventuais ataques da parte dos samaritanos e povos vizinhos.

Conscientes que Deus permitiu a derrota de Israel pelos caldeus setenta anos antes por causa da infidelidade, Neemias, Esdras e os demais sacerdotes reuniram o povo para ouvir uma leitura pública da lei de Moisés: 2 O sacerdote Esdras levou o Livro da Lei à presença da assembléia, composta de homens, mulheres e de todos quantos eram capazes de compreender. Foi no primeiro dia do sétimo mês. 3 Assim na praça fronteira à porta d’Água, ele fez a leitura, desde a manhã cedo até ao meio-dia, na presença dos homens, das mulheres e de todos os capazes de compreender. E os ouvidos de todo o povo estavam atentos à leitura da lei (Ne.8,2-3). Neemias sabia que o sucesso do empreendimento dependia da fidelidade dos governantes e do povo. Se a maioria observasse os mandamentos, a reconstrução de Jerusalém e do templo teria um resultado positivo. Por isto, o povo devia tomar consciência das suas obrigações para com Deus.

Devemos distinguir os dons carismáticos dos dons de santificação pessoal. Em toda pessoa que recebe um batismo válido são infundidos por Deus os sete dons do Espírito Santo para a santificação: sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus. A maioria das pessoas que foram batizadas pela Igreja Católica, a única que recebeu os sacramentos diretamente de Jesus e, portanto, a única que pode conferir um batismo válido, ignora que possui os dons do Espírito Santo. Assim os preciosos dons não produzem os frutos que deveriam produzir.

Os dons carismáticos são distintos dos dons de santificação pessoal e têm uma função distinta na vida das pessoas e da Igreja. A Igreja Católica é uma comunidade. Todo católico fiel, além de zelar pela sua santificação pessoal, deve preocupar-se também com a comunidade a que ele pertence. Os dons carismáticos são infundidos pelo Espírito Santo para ajudar as pessoas a servir a comunidade: 7 A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum (bem da comunidade a que o indivíduo pertence) (1Cor.12,7). Se um membro da comunidade tem o dom de cura não é para curar a si mesmo e nem para curar qualquer pessoa, mas para curar membros da comunidade a que ele pertence.

Como o corpo humano tem muitos membros e cada membro tem a sua função específica, também para os membros da comunidade, o Espírito Santo dá a cada membro um ou mais dons para o serviço da comunidade. Se todos os membros do corpo estão bem e funcionam, o corpo todo está bem. Também na comunidade, se todos os membros cumprem com fidelidade sua obrigações, a comunidade toda vai bem.

Todos podem pedir dons ao Espírito Santo, mas ninguém deve atribuir-se dons e começar a exercê-los por conta própria, porque é o Espírito Santo que determina o dom ou os dons que cada membro da comunidade deve exercer: 11 Todas estas coisas as realiza um e o mesmo Espírito, que distribui a cada um conforme quer (1Cor.12,11). Para que o exercício dos dons carismáticos tenha resultado são necessárias a fé carismática e a fidelidade tanto da parte daquele que exerce o dom como da parte daquele em favor do qual o dom é exercido. Suponhamos que um membro da comunidade está doente e outro membro da mesma comunidade tem o dom de cura e se puser a rezar pela cura do irmão doente. Para que a cura aconteça é necessário que ambos:

1. Sejam fiéis na observância dos mandamentos.

2. Ambos tenham fé carismática. A fé carismática e distinta da fé teologal. A fé teologal consiste em crer em tudo aquilo que foi revelado por Deus. A fé carismática consiste numa confiança plena no poder de Deus, convictos que Ele irá agir em favor da pessoa para quem se está rezando.

3. E que a cura seja útil para a salvação da pessoa doente. Deus conhece também o futuro e sabe se a cura da pessoa em questão será útil para ou prejudicial para a salvação. Se a pessoa doente for uma criança e Deus que conhece o futuro prevê que, se ela morrer logo, se salvará e se for curada e se tornar adulta não perseverará e se condenará, obviamente, perante Deus, é melhor que tal criança morra antes de se tornar adulta.

Todos os dons carismáticos são importantes para o bom andamento da comunidade, mas nem todos têm a mesma importância. São Paulo indica os dons mais importantes que são o dom do apostolado, o dom da profecia e o dom do doutorado: 28 A uns Deus constituiu, na Igreja, primeiro apóstolos, segundo profetas, terceiro doutores; depois o poder dos milagres, as graças de cura, de assistência, de governo, de falar em línguas estranhas (1Cor.12,28).

1. O apóstolo tem a função de anunciar o Evangelho a todos. Alguns daqueles que ouvem o anúncio do Evangelho se convertem e passam a fazer parte da comunidade. A conversão consiste numa adesão firme e sincera à pessoa de Jesus Cristo. Para aderir à pessoa de Jesus não é necessário conhecer toda a doutrina ensinada por Ele. Aquele que se converte precisa ser instruído. Ali entra a função do profeta.

O profeta é aquele que fala em nome de Deus. Não se pode falar em nome de Deus para pessoas que ainda não aceitaram a Deus. Jesus mandou os apóstolos a fazer discípulos, batizar e ensinar a observar tudo aquilo que Ele tinha ensinado: 19 Ide, pois, fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, 20 ensinando-os a observar tudo quanto vos mandei (Mt.28,19-20). É função do profeta ensinar as pessoas que se convertem a observar tudo aquilo que Jesus ensinou.

O doutor é aquele que se aprofunda no conhecimento da doutrina ensinada por Jesus para zelar pela fidelidade da pregação do apóstolo e do ensino do profeta. O apóstolo e o profeta no seu entusiasmo pelo anúncio e ensino do Evangelho podem cometer erros. Caso isto aconteça, o doutor deve intervir e corrigir.

Jesus exerceu a atividade de carpinteiro até à idade de trinta anos sem revelar a ninguém efetivamente quem Ele era. Em vez começar sua vida pública em Nazaré, aos trinta anos mudou para Cafarnaúm onde começou a anunciar a Boa Nova e arrebanhar discípulos. Voltando para Nazaré, foi à sinagoga no sábado e revelou quem efetivamente Ele era: 17 Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, deu com a passagem onde se lia: 18O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para anunciar a boa-nova aos pobres; enviou-me para proclamar aos aprisionados a libertação, aos cegos a recuperação da vista, para pôr em liberdade os oprimidos, 19e para anunciar um ano da graça do Senhor. 20 Jesus fechou o livro, devolveu-o ao assistente e sentou-se. Os olhos de todos os presentes na sinagoga se fixaram nele. 21 Então começou a falar-lhes: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabais de ouvir” (Lc.4,17-21).

Sempre houve e sempre haverá safados que, através de truques simulam milagres e atraem e enganam pessoas ingênuas ou desesperadas por causa de doenças para extorquir dinheiro. Enganar parentes e conhecidos é difícil. Por isto, esses safados procuram ambientes onde não são conhecidos para aplicar os seus golpes. Como Jesus começou a fazer milagres em Cafarnaúm, os conterrâneos dele, que pensavam que Ele fosse apenas um carpinteiro, supuseram que os tais milagres de que tinham ouvido falar fossem apenas truques e o desafiaram fazer Nazaré os prodígios que tinham ouvido falar que Ele fizera em Cafarnaúm: 23 Ele lhes disse: “Certamente me direis o provérbio: ‘Médico, cura-te a ti mesmo; tudo quanto ouvimos que fizeste em Cafarnaum, faze-o aqui em tua terra’” (Lc.4,23). Como o milagre exige fé tanto daquele que pede a intervenção do Pai como daquele que será beneficiado pelo milagre Jesus não pôde fazer muitos milagres em Nazaré.

Código : domin824

Àngelo José Busnardo

e-mail : ajbusnardo@gmail.com

Pe. Ângelo Busnardo.
Enviado por Joanne em 23/01/2013
Código do texto: T4100263
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