Corpo, alma e espírito - a constituição elementar do ser humano

A Dicotomia.

Segundo os dicotomistas, o homem é formado de duas partes: a física e a espiritual. A parte material é o corpo palpável e a parte espiritual é composta do espírito, a alma e o espírito são a mesma coisa, segundo esta linha de pensamento. Diz Claudionor C. de Andrade: “Na antropologia teológica, [dicotomia] é a corrente que defende estar a natureza humana constituída de duas partes distintas: matéria e espírito, corpo e alma.”

O que fortalece esta linha é o uso sinônimo que muitas vezes a Bíblia parece fazer das palavras alma e espírito, por exemplo, em Mt 27.50 e Jo 19.30, perder o espírito é morrer, já em Mt 2.20 e Lc 9.24 (no original, alma), perder a alma é morrer.

Segundo Stanley Horton, “A dicotomia é provavelmente o conceito mais sustentado no decurso da maior parte da história do pensamento cristão. Seus adeptos, assim como acontece entre os tricotomistas, têm a capacidade de declarar e defender suas opiniões sem cair em erros doutrinários”. As duas linhas teológicas são tão paralelas, que Myer Pearlman, um grande expoente da teologia pentecostal, escreveu: “Os dois pontos de vista são corretos, sendo devidamente compreendidos”. Desta forma, notamos que nenhuma das duas posições pode ser tida como herética, e, embora defendamos uma delas, não consideramos que os demais estejam ensinando doutrina prejudicial à fé ! É necessário fazer distinção entre base doutrinária elementar – que está lançada pela Teologia ortodoxa e corroborada pelos séculos de vivência cristã, e que são indispensáveis à fé cristã – e os assuntos teológicos periféricos que não influenciam na fé.

Ao estudarmos o desenvolvimento da revelação divina, e, consequentemente, o desenvolvimento da teologia a respeito da constituição do homem, notaremos que, de início, há dificuldade de encontrarmos uma doutrina da vida após a morte. No Pentateuco, não é perceptível sequer um esboço a respeito da vida após a morte, quanto mais da constituição do homem. É no Novo Testamento que veremos uma distinção entre alma e espírito, como veremos logo após.

Outra complicação, na qual os dicotomistas se refugiam em seu ensino, é confundindo atributos da alma com os do espírito. Este suposto erro vem do fato de que, apesar da distinção entre ambos, a alma e o espírito interagem entre si e, obviamente, se confundem em um só; é como o som de uma afinadíssima dupla de cantores, que apesar de cantarem em uma só harmonia, não deixam de ser duas vozes.

A respeito da aceitação da dicotomia pela maioria dos teólogos da antiguidade, os chamados Pais da Igreja, assim escreveu Champlin: “Não é de surpreender, portanto, descobrirmos que a maioria dos teólogos cristãos primitivos se compunham dos que criam na teoria dicotomista, pois muitos deles eram ou filósofos neoplatônicos convertidos ao cristianismo ou estavam sob a influência dessas idéias conforme era o caso de Justino Mártir, de Clemente da Alexandria, de Orígenes e de Agostinho.” Quanto ao neoplatonismo, é derivado da filosofia de Platão que cria, a alma participa do espírito eterno, sendo assim também eterna como uma divindade. O corpo para Platão era uma cadeia da alma, completamente mal, e a realidade estava no imaterial; ainda que esta concepção seja aceita por muitos cristãos, sabemos que Deus criou o corpo com um propósito benéfico, e que ele participa da redenção do homem salvo, sendo finalmente transformado.

Sem dúvida, a grande praticidade da doutrina dicotomista, é o fato de não precisar estudar a diferença entre alma e espírito, isto faz com que muitos a prefiram em detrimento da outra (da doutrina tricotomista).

A Tricotomia.

Os tricotomistas sustentam que o homem é composto de três elementos distintos: corpo, alma e espírito. Segundo esta linha teológica, embora alma e espírito se confundam, pelo fato de interagirem entre si, ambos têm manifestações diferentes e não são a mesma coisa. Cremos ser esta a linha teológica mais acertada, devido a alguns detalhes, conforme exporemos a seguir. Contudo, reitero que o tema é controverso e complexo, e não entraremos em discussões do ponto de vista científico – que leva ao ‘monismo’ – nem sob outras óticas, tais quais a filosofia, a antropologia, a psicologia, etc. Nossa base de exposição, neste momento é unicamente teológica.

Em boa parte dos textos bíblicos é enfocada a essência espiritual do homem, sem definir se é alma ou espírito (Rm 7.22; II Co 4.16; Ef 3.16, etc.), outras vezes fala-se apenas da alma (Tg 5.20; I Pe 4.19; Ap 6.9, etc.), outras, apenas do espírito (Rm 1.9; Hb 12.23; I Pe 3.19). Entendemos que, muito embora os escritores sagrados citassem ora a alma, ora o espírito, não intencionavam ensinar que ambos são a mesma coisa, pelo contrário, Paulo, que às vezes falava do homem interior, às vezes da alma e às vezes do espírito, deixa claro que cria numa evidente distinção de ambos: “E todo o vosso espírito, alma e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (I Ts 5.23), assim, o apóstolo não somente distingue três essências no homem, como exorta que deve haver uma preocupação com uma tríplice santificação-, e que as três partes (tricotomia) participarão ativamente da redenção, ou seja, seremos eternamente corpo transformado, alma e espírito (todos transformados pelo Poder de Deus)!

No texto de I Co 2.14 – 3.4, Paulo fala do homem carnal, no grego, ‘sarkikós’, que significa ‘carnal’ (3.1, 3, 4); do homem ‘psuchikós’, que literalmente significa ‘segundo a alma’, portanto, o homem natural é aquele guiado pela própria alma (2.14); e, por fim, do homem ‘pneumatikós’, significa ‘pertinente ao espírito’, ou, ‘espiritual’ ( 2.15 ).

“Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito…” (Hb 4.12). É inegável a clara distinção que o escritor epistolar faz entre alma e espírito neste texto, ambos são considerados componentes elementares do ser humano.

Assim defende o tricotomismo, o pastor e teólogo Elienai Cabral: “…ele [o homem] é um ser tricótomo, constituído de espírito, alma e corpo (…) A Escritura distingue o papel de cada parte dessa tricotomia e suas respectivas funções (…) Com o corpo o homem tem consciência do mundo físico e do mundo material. Com a alma o homem revela a sua autoconsciência pessoal, a consciência que ele tem de si mesmo. Com o espírito o homem tem consciência de Deus.”

Pr. Fabiano Jadel

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Fabiano Jadel
Enviado por Fabiano Jadel em 18/01/2013
Código do texto: T4091798
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