nair lúcia de britto
No decorrer do século XVIII, intelectuais de toda Europa: artistas, professores, filósofos e cientistas passaram a reunir-se na França. Daí porque, apesar das extravagâncias econômicas e de um comportamento libertino dentro da corte parisiense, Paris ficou sendo conhecida como a “Cidade Luz”.
A Alemanha, França, Inglaterra enfrentaram as imposições do clero e da aristocracia com a idéia inovadora de que o homem era um ser independente e capaz de raciocinar com sua própria cabeça. Foi esse pensamento que gerou o Iluminismo ou Século das Luzes: movimento intelectual que caracterizou o pensamento europeu de que todos os homens são iguais e que visava buscar na razão a solução dos problemas sociais existentes.
A Revolução Francesa tinha como objetivo desmistificar a pseudo-superioridade das classes privilegiadas, abraçando um novo ideal: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, respeitando-se os direitos do homem e do cidadão.
A Reforma, movimento revolucionário contra a Igreja Católica antecedeu ao Iluminismo, no século XVI. Teve como seu principal representante o monge alemão Martinho Lutero. O Luterismo, por sua vez, surgiu quando Lutero começou a estudar a Bíblia e percebeu vários erros cometidos pela má interpretação da religião católica e, com a intenção de corrigi-los, fundou uma nova igreja; que ficou conhecida como a igreja da música, porque foi a partir dela que o povo começou a cantar.
O próprio Lutero era poeta e compositor e suas músicas até hoje são cantadas nas igrejas luteranas. Despertou também nos seus adeptos o interesse pelos músicos consagrados como Joham Sebastian Bach, Ludowich, Van Bethoven, Paul Gerhardt e outros.
O Protestantismo deu origem a muitas guerras religiosas, contra o domínio papal. Essas guerras transformaram o cenário político europeu de se estenderam desde a Idade Média até o século XX.
Foi em 1804, depois de todos esses episódios históricos, em que se clamava por mudanças, na tentativa de se reconstruir um novo mundo, é que nasceu Allan Kardec. Sua formação era para que se dedicasse apenas ao professorado e à Ciência; não fossem as circunstâncias inesperadas que a ele se apresentaram.
Depois de pesquisar muito sobre os fenômenos espirituais ocorridos na França, Kardec começou a estudar com afinco sobre o assunto. Levando-se em conta seu alto padrão moral e intelectual passou a receber mensagens esclarecedoras, dos espíritos de luz, através da psicografia; com a missão de propagá-las ao mundo.
De forma que não foi Kardec quem instituiu uma nova religião, como fez Lutero, Calvino e outros líderes do movimento protestancionista. O que Kardec fez foi buscar uma explicação para todos aqueles fenômenos que estavam ocorrendo e descobriu a existência de um outro plano espiritual, destinado aos que deixassem de viver na Terra. Com a ajuda de outros médius, Kardec foi, na verdade o decodificador das mensagens recebidas. O Evangelho segundo o Espiritismo é o mesmo Evangelho cristão, explicado por Kardec, conforme as mensagens que ele recebeu dos espíritos de luz.
Os estudos e as experiências, vivenciadas por Kardec, confirmam a existência de Deus e de que somos eternos. O mundo espiritual que nos espera é composto por várias as moradas, que serão habitadas conforme o grau de merecimento de cada um de nós que deixar a Terra. É neste planeta que todos nós temos a oportunidade de corrigir nossas imperfeições, nos aprimorarmos e cumprirmos a missão que nos foi destinada. Esta missão está implícita dentro de nós mesmos, e nos é mostrada pela vocação.
O objetivo da doutrina Espírita é oferecer uma interpretação correta dos ensinamentos de Jesus, trazer uma mensagem de luz, esperança; de paz e de fé; respeitando o nosso livre-arbítrio, o uso da razão e da nossa própria consciência; nossas escolhas e liberdade de agir.
Segundo à essa doutrina, os Anjos, Arcanjos e Serafins são espíritos puros que atingiram o mais alto grau de perfeição. A palavra anjo significa perfeição moral, mas na verdade refere-se a todos os seres bons que estão na humanidade. Diz-se anjo bom ou anjo mau; anjo de luz ou anjo das trevas.
A palavra demônio é de origem grega: daimôn que significa gênio, inteligência. A mesma palavra em sentido vulgar significa seres malfazejos predestinados a fazer o mal. Ora, Deus que é justo não criaria seres condenados a permanecerem eternamente nas trevas e no sofrimento; fazendo o mal perenemente. De onde facilmente se deduz que o demônio não existe da forma como se imagina. O que existe são seres malfazejos cuja prática da maldade é transitória; pois estes terão, igualmente, a oportunidade de se arrepender do mal que fizerem, de se arrependerem e se modificarem.
A semeadura é livre, mas a colheita é certa. Quer dizer: Todos nós temos liberdade de ação, mas todas as criaturas serão punidas ou recompensadas, de acordo com o bem ou o mal que fizerem. O inferno não existe, como se imagina, porque Deus que é nosso Pai não haveria de querer que um filho seu sofresse para sempre. Tampouco ninguém sairá ileso de punição pelos erros cometidos.
Todo erro conduz ao sofrimento. Mas...
A dor é uma luz que Deus dá às pessoas para que elas possam refletir melhor.
A religião escolhida para se conectar com Deus não é o mais importante; desde que esteja voltada para o amor ao próximo e para a fraternidade.
Através das várias reencarnações e das várias provações passadas na Terra, todos têm a chance de se aperfeiçoar. O bandido mais cruel também é filho de Deus. Chegará o dia em que, cansado de sofrer, buscará a Deus. Terá a oportunidade de abandonar o mal e praticar o bem; de evoluir a cada reencarnação até chegar à condição de anjo.
As religiões são muitas, mas as leis divinas são uma só e são perfeitas. No dia em que as leis humanas coincidirem com as leis de Deus, e forem respeitadas pelos homens, não haverá mais injustiças, nenhum tipo de preconceito e a paz reinará na Terra.
(Edição final, composta no dia 2 de setembro de 2012, às 15 horas.)