O APOCALIPSE MAIA

Segundo alguns sábios, a estupidez humana é ilimitada. No horizonte desta incapacidade do homem em admitir sua ignorância se situa a capacidade imaginativa do ser humano, que também é ilimitada. Fruto deste imaginário é a literatura apocalíptica ocidental, fortemente presente na linguagem religiosa do judaísmo, cristianismo e islamismo. Fora da cultura ocidental judaico-cristã, o mundo não é compreendido apocalipticamente; não está povoado por seres demoníacos, anticristos, diabos, anjos, em que homens profetizam, falam de paraísos, infernos, monstros, dragões, juízo final. Nem se anuncia que os sinais do fim do mundo são catástrofes gigantescas, terremotos, maremotos, irrupções vulcânicas, pestes, guerras, fomes, tribulações sem fim e morte.

Este catastrofismo provém de uma filosofia dualista maniqueísta, na qual o mundo é um teatro em que acontece a luta entre Deus e Satã. Nesta mesma filosofia o homem é visto como uma espécie de campo de batalha (um campo de futebol) em que estariam se digladiando dois times: o time de Deus e o time de Satanás. Em um momento vence em nós o bem, em outro o mal. O homem seria um joguete desta luta cósmica entre o bem e o mal.

Como todos sabem, há alguns anos se divulgou que estudiosos da cultura maia tinham conseguido decifrar a representação do calendário maia. Este calendário finalizaria em 21 de dezembro de 2012. Segundo a compreensão dos decifradores deste Calendário, os maias, para esta data, estariam anunciando o fim do mundo. Com certeza, esta interpretação está perfeitamente de acordo com a afirmação de que a estultícia humana é sem limites. O que vale ainda para o imaginário humano, mesmo em nossa época científica, racional e tecnológica do século XXI. Neste sentido, já dizia, muito bem Voltaire, no século XVIII: “Primeiramente os homens inventam as mentiras, depois acreditam nelas”.

Pois vejam, ainda não consta que alguém tenha conseguido decifrar o “alfabeto” maia. Por isto, não é seguro afirmar que os sinais gráficos deste suposto “calendário maia”, de fato representem datas. Não há nenhuma evidência de que os maias tenham tido uma visão apocalíptica do mundo, de fim dos tempos, de fim da história. Talvez tenham tido uma compreensão cíclica de sua cultura, mas muito distante da compreensão linear da história judaico-cristã.

Desta forma, quem teme o fim do mundo em 21 de dezembro, porque os maias assim o predisseram, simplesmente segue uma fantasia. Histerias de fim de mundo, suicídios apocalípticos já aconteceram muitos. Dizia-me um pastor, que um fiel seu estava muito preocupado com a possível 2ª. vinda de Jesus. Por isto já não transava mais nu. Pois, que vexame, se Jesus o encontrasse assim nu!

O nosso “apocalipse” será o dia de nossa morte. E nada mais.

Inácio Strieder é Professor de Filosofia - Recife- PE