Deus dê vida longa aos meus inimigos...

A teologia classifica como imprecatórios alguns salmos que têm como característica principal um forte e intenso desejo de vingança contra eventuais inimigos. A classificação proposta nos ajuda a entender textos como o do Sl 109: 6 - 13, a saber:

“Põe acima do meu inimigo um ímpio, e Satanás esteja à sua direita. Quando for julgado, saia condenado; e em pecado se lhe torne a sua oração. Sejam poucos os seus dias, e outro tome o seu ofício. Sejam órfãos os seus filhos, e viúva, sua mulher. Sejam errantes e mendigos os seus filhos e busquem o seu pão longe da sua habitação assolada. Lance o credor mão de tudo quanto tenha, e despojem-no os estranhos do seu trabalho. Não haja ninguém que se compadeça dele, nem haja quem favoreça os seus órfãos. Desapareça a sua posteridade, e o seu nome seja apagado na seguinte geração”

Parece contraditório que David, o mavioso salmista de Israel, o homem que não ousava tocar no ungido do Senhor, tenha postura tão objetiva contra seus inimigos. Esse tipo de posicionamento tem como precedente a própria Lei de Moisés que, cumprindo seu objetivo para aquele tempo, pregava o “olho por olho; dente por dente”. (Dt 19: 21)

“Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei,” (Gl 4:4). Ah! Como gosto desse versículo – ele faz parte do G-10 (grupo dos dez versículos que sei de cor). Nele Paulo diz que, no tempo pleno de Deus, Jesus veio dar nova acepção à Lei mosaica. Paulo explica que o cumprimento da Lei é o amor (Rm 13:10). Por isso não cabe mais esse tipo de conduta por parte do crente em Cristo Jesus.

Para o homem, em sentido genérico, é difícil desincumbir-se da roupa velha, mesmo para aquele que pretende ser nova criatura. E, talvez por isso, algumas pessoas – digo crentes – encontram resistências internas para revestir-se do novo homem e despojar-se do velho (Ef 4: 22,24)

Como bem disse a missionária Paulina Faria, Israel deixou o Egito, mas levou-o dentro de si, com todos os seus costumes reprováveis. Vejo em mim essa lei; há muitos hábitos arraigados que eu já os deveria ter lançado fora, mas, tal como alguns outros objetos inúteis, os mantenho bem guardados.

Bem, toda essa viagem é só para dizer que essa mania imprecatória de orar, e, sobretudo de cantar, precisa ser extirpada por nós e queimada no Monte Sinai. Nem tanto, cara pálida!

Há algumas canções que prestam verdadeiro desserviço à Educação Cristã, pois, substituem a pregação do amor incondicional pelo espírito beligerante da lei fria que resolvia tudo na base da pedra.

“Meus inimigos vão ver; Deus vai me exaltar e meus inimigos vão ver; chega de ser humilhado, é hora de exaltação” são algumas propostas para as canções imprecatórias do nosso século. É interessante notar que esse tipo de música “mexe” com a igreja.

Basta de imprecação. É tempo de amar!