O discipulador que [não] sou.

Por que o plano de Jesus [não] funciona pra mim…

Há problemas sérios, grandes demais e intransponíveis com os quais eu tenho que lidar na tentativa de implementar o modelo de Cristo em evangelizar o mundo. Senão vejamos:

(1) O maior problema é que requer muito pouco dinheiro. Pense bem: sem orçamentos enormes, como eu posso obter um grande salário atrelado a grandes benefícios!?

(2) Não é hierárquico. Na verdade, é simples demais da conta, com cada convertido se reportando a Um só líder. É pura mentoria, daquele tipo que se requer ser amigo na longa jornada. Ocorre que eu gosto de exercer poder sobre o povo e, desta forma, eu preciso de um grupo grande de seguidores cuja marca relacional seja a admiração incondicional que tenham por mim. Do contrário, meus padrões de sucesso e senso de realização não sobrevivem!

(3) A coisa começa devagar demais e parece demorar pra sempre! Sim, eu entendo a matemática da multiplicação: “em 36 anos não haverá nenhuma só pessoa na terra ainda por ser evangelizada – quase 7 bilhões... blá-blá-blá, blá-blá-blá!”, mas nos primeiros 5 anos eu terei menos de algumas dezenas de discípulos e, pior ainda, a maioria deles poderá vir a me deixar e ir embora para alguns dos cantões mais remotos do mundo. E eu? Como fico?

(4) No final das contas, a glória toda acaba indo pra Deus! É óbvio, então, que se eu começar assim, como Ele quer, somente alguns poucos poderão me conhecer, e estes provavelmente não se darão conta de que fui eu quem comecei isso tudo. Isso é chato e inglório demais!

(5) Gosto de me sentir essencial, indispensável, insubstituível. Se eu abraço o sistema d’Ele, torno-me desnecessário a curto, médio e longo prazo para o sucesso da evangelização do mundo. Posso até fazer tudo direitinho, de forma que discipular seja um tratalho completo e definitivo, mas após fazer apenas um só discípulo, eu passo a ser um candidato ao martírio da memória a qualquer momento. Isso porque, após ter feito o primeiro discípulo, eu não sou essencial para completar o trabalho que se estende sobre o planeta.

(6) Leve-se em conta que eu sou um homem de negócios, cuja mente se orienta pelo seguinte: planos de 5 anos, gestão de pessoas, agendas lotadas, pessoas secundárias ao objetivo; eu não quero ser interrompido, eu sou auto-suficiente, e eu não tenho paciência em esperar por outros. Além do mais, o sistema de discipulado de Cristo leva, para uns, alguns meses, e, para outros, 20 anos ou mais! No método d’Ele, cada pessoa é um caso e precisa de foco individual. Enquanto alguns que treino começam imediatamente, outros podem precisar de minha ajuda pessoal, presença significante marcada por calor humano e amizade na jornada, além de amor e encorajamento por anos e anos! Isso significa muita demanda para pouco retorno imediato. Fere a lei do mercado!

(7) O sistema de Cristo coloca muita ênfase nos poucos ao meu redor e ênfase absolutamente insuficiente em animar as massas. As massas podem até ser inconstantes, eu sei, mas a verdade é que elas provêem alguns feitos e efeitos excepcionais que me façam mais significante, valoroso e visibilizado do que outros.

(8) Eu gosto do meu tempo pessoal e amo o dispêndio deste tempo em me preocupar comigo mesmo. É quando eu posso sonhar em ser o grande mestre -- isso sim é que é bom e digno! -- e não um homem humilde fazendo o que lhe é pedido, sensível às necessidades ao redor, capaz de olhar nos olhos e de sentir o coração do outro, à busca de servir e acolher mesmo quando não é solicitado e sem as espectativas de ser reconhecido. No plano de Cristo eu tenho que me vestir deste homem humilde aí... Ô, visãosinha pequena!

(9) Eu não gosto de esperar por aquilo que eu quero agora. O prêmio por fazer as coisas na maneira de Jesus faz demorar e atrasar as gratificações e os apreços por mim. Eu até sei que o galardão é mais do que eu possa pedir ou mesmo pensar, mas o fato é que vou ter que esperar 30, 50, 70 ou até 90 anos pelos prêmios eternos. Onde ficam os meus incentivos do aqui e do agora?

(10) Preferiria escrever um livro delineando o “como” de um “plano”, de forma que eu fizesse um dinheirão e tivesse muitos convites pra falar em conferências e grandes congressos nacionais e internacionais. O problema é que o tal livro já foi escrito, e, certamente, alguém viria com perguntinhas do tipo: “Por que você simplesmente não implementa o plano d’Ele, ao invés de perder tempo escrevendo outro sobre isto?”

(Nota aos menos informados: O texto acima é escrito na

perspectiva da ironia, e não representa, em absoluto,

minha postura pessoal no que tange ao discipulado.

O plano de Jesus nada tem de errado)

Luís Wesley
Enviado por Luís Wesley em 12/09/2012
Código do texto: T3878540
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.