SENTINELAS DE SÃO CLEMENTE

SENTINELAS DE SÃO CLEMENTE

- Vovô, o senhor vai à missa lá nos prédios?

- Sim, vou, por quê?

- Posso ir com o senhor?

- Claro querida, vamos às 18h15min horas, que a celebração começa, aos domingos, às 18h30min.

Assim, Letícia e seu avô chegaram lá no alto da Borboleta e começaram a subir uma grande rampa em zig-zag.

- Poxa, vovô, essa subida é bem puxada, né? Parece até que estamos indo para o Céu; dizia a netinha, com o peito arfando e a respiração curta.

- Por que seria que escolheram esse lugar, tão alto?

- Pois é, Letícia, a idéia primitivamente era esta mesmo, ficar mais perto do Céu e de Deus e assim construíam a Igreja num lugar bem alto.

Vou te contar uma pequena história deste lugar:

- A Borboleta, desde 1858 era parte da Colônia D. Pedro II e habitada pelos alemães que para aqui vieram contratados pelo Imperador D. Pedro II e Mariano Procópio Ferreira Lage, para construir a Estrada União e Indústria, que ligaria Juiz de Fora ao Rio de Janeiro e também ajudar na colonização da cidade.

Os descendentes daqueles alemães viveram e ainda vivem no Bairro, como eu e você. Entendido querida?

Aqui no lugar onde estamos, era uma Grota, ao pé do Morro do Sweider (Chuáida), habitada por várias famílias alemãs, desde então e lá pelos idos dos anos 60, ficou um sítio, conhecido como Sítio do Delduca, onde proliferavam pássaros diversos e árvores e vegetações centenárias, quase em abandono, onde os meninos da Borboleta e eu, naturalmente, com meus irmãos íamos brincar e “pegar passarinhos” (coleirinhos, canarinhos da terra, sabiás, azulões, melros, etc) e para lá se dirigiam com suas gaiolas e alçapões, quando ainda algumas famílias moravam aqui.

Alguns anos mais tarde, por volta de 1970, a área foi negociada com uma empreiteira, que construiu no local um conjunto de 27 edifícios, com 342 apartamentos, salão de reunião e algumas lojas, desalojando do local a família do Sr. Oswaldo Kremers (Sr.Vadinho), último morador e responsável pela guarda do imóvel.

Então, aqui no alto do Bairro Borboleta, surgiu, onde era uma mata e pastos, o Conjunto Residencial Parque dos Flamboyants, onde cerca de 1.300 pessoas residem e convivem no local.

A comunidade, por volta de 1980, começou a celebração da missa no salão comunitário, onde Padre Mário Antonio de FREITAS, um Missionário Redentorista da Igreja da Glória, que dava assistência à Igreja de São Vicente de Paulo, celebrava há tempos, com a ajuda dos fiéis, que acompanhavam e davam respaldo ao Padre.

Interrompidas por um breve tempo, as celebrações, foram retomadas por outro padre, desta feita Padre LIMA, sempre aos domingos à noite, 19 horas.

Com a transferência de Pe. Lima, novamente foram interrompidas as celebrações no Conjunto dos Flamboyants e somente em 1994 reiniciadas com a chegada do Padre JOSÉ CARLOS

Aí então, com o apoio do Pároco Pe. BARBOSA, foi lançado um desafio à Comunidade local, já denominada de São Clemente, em homenagem ao grande Santo e Padroeiro dos Redentoristas: passar as celebrações para os hall dos prédios.

A comunidade topou e foram reiniciadas as missas dominicais, mensais.

Levavam-se cadeiras que eram esparramadas pela exígua área da entrada do prédio e uma mesa era posicionada ao fundo, para servir de altar da celebração. Todo mês (as missas eram somente um domingo por mês) se revezavam os locais da celebração, ora o prédio A, ora o prédio B e assim por diante, atendendo os fiéis interessados e residentes.

Assim, por muitos anos, o povo de Deus dividia espaço com os moradores e visitantes dos prédios, numa convivência nem sempre pacífica, já que dava passagem para os moradores e visitantes acessarem seus apartamentos.

Então a Comunidade, junto com o Pároco da Igreja da Glória, Pe. Viol e o padre CLÁUDIO, recém chegado, resolveram que já passava da hora de se construir uma Capela para suas celebrações.

Escolhido o terreno, a Administração do Condomínio, convocou uma Assembléia Geral Extraordinária para tratar da autorização e cessão do terreno: uma área perto da grande Caixa D'água que abastecia todo o conjunto de prédios, no dia 27/10/2001, onde compareceram 50 condôminos e a votação favorável foi de 39 votos, e 11 votos contrários.

Com a autorização dos órgãos municipais, a área foi limpa e preparada, celebrando-se ali, na área determinada, sob um frondoso abacateiro, a primeira missa campal, presidida pelo Padre Claudinho, no dia 09 de dezembro de 2002, inaugurando assim com o lançamento da pedra fundamental, o início das obras da Capela.

- Puxa, Vovô, que história bonita. Mas, como conseguiram construir a Capela? A Igreja da Glória é que financiou a obra?

- Não, Letícia, somente uma parte. Uma comissão de construção foi formada e a comunidade “meteu mãos à obra”, com realizações de bazar de roupas usadas, bingos, festas e a grande disposição do Povo de Deus, em doações periódicas, além de dezenas de colaboradores do Conjunto dos Flamboyants e da Comunidade de São Vicente de Paulo, cujos nomes estão inscritos no coração de São clemente e sobre todos sempre está agindo a “Copiosa Redenção”.

- Continuando, minha netinha, no dia da missa, na procissão de entrada, um quadro de São clemente, o padroeiro escolhido pelos Redentoristas, para a Comunidade, foi levado solenemente e dependurado no tronco do abacateiro, acima do improvisado altar.

Durante a celebração, que se deu pela manhã, podia-se notar um casal de “pássaro-preto” (**) que chilreava num galho da árvore, como que cantando à vida, junto ao povo, logo no início da missa. Um respeitoso silêncio se fez para ouvir os pássaros. Era como se o Cântico de Entrada estivesse acontecendo...

Parecia que havia um ninho, (próprio ou alheio) lá no alto e para lá se recolhiam, todas as noites!

- Pois bem, para o início das obras, dever-se-ia, infelizmente, derrubar o abacateiro, bem como as bananeiras e outros arbustos que proliferavam no local.

Assim se fez e o terreno foi preparado e as obras tiveram início, em maio de 2003, cuidando-se de deixar a árvore dos pássaros, para o final.

Uma vez concluída o básico da obra, com terraplenagem, entijolamento e cobertura de telhas francesas, antes mesmo da festa do Padroeiro, em 2005, foi inaugurada a primeira parte da Capela, notava-se que o mesmo casal de pássaro-preto teimava em visitar o local, agora uma das peças do engradamento e lá permanecia durante as celebrações, chamando a atenção do povo.

Com o acréscimo da parte frontal do templo, desta feita em laje batida, que atualmente está acoplada à parte em telhas, pré-existente, restaram duas pontas de ferro sobressaindo de uma das colunas, bem lá no alto, quase rente ao teto.

Não é que nossos visitantes “batem ponto” até os presentes dias, regularmente todo início de noite, por volta das 19 horas e para lá se recolhem , pousando, cada um em sua ponta de ferro, tranquilamente, como que dois guardiões, não se importando, nem importunando com o ruído das missas que se celebram no local, nas noites de quarta-feiras e domingos?

- Vô, estou vendo, é incrível, primeiro chegou um passarinho preto e uns minutos depois chegou outro e pousou, cada um num canto. E nem se incomodam com o barulho da celebração, ficam lá quietinhos! Parece até que existe uma afinidade entre eles e São clemente.

Até parecem fazer parte do mesmo exército, pois o uniforme de todos é preta, pretinha, tanto dos passarinhos quando da batina do Santo!

- Pois é, Letícia, é de se louvar a fidelidade dos Pássaros de São Clemente, que despejados de seu abacateiro, há mais de oito anos, retornam diariamente ao local, fixando residência no interior da Igreja, no mesmo lugar onde existia a frondosa árvore de abacates, como que retornando ao seu abacateiro, seu antigo território.

- Vô, seriam os mesmos passarinhos despejados há tanto tempo, ou seus filhotes, agora já crescidos?

- Letícia querida, pode ser, sim, os mesmos pássaros, já que vivem muito tempo, quando em liberdade, como é o caso deles.

Quem quiser conferir, é somente ir à até a Igreja nas celebrações noturnas e notar que primeiro chega um e momentos depois a outra ave negra pousa no seu posto noturno e lá permanecem, como guardiões do templo, mesmo após as pessoas deixarem o local;

Coisas da natureza ou “Coisas” de São Clemente??

** Chopim, Melro,(turdus-merula) Pássaro-preto ou Vira-bosta, família de pássaros que vivem na natureza de 15 a 20 anos e botam seus ovos em ninhos alheios, para que outros pássaros criem seus filhotes.

(Vicente de Paulo Clemente)

VICENTE DE PAULO
Enviado por VICENTE DE PAULO em 29/08/2012
Reeditado em 16/01/2022
Código do texto: T3854802
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.