TAL MÃE, TAL FILHO
No contexto judaico da Palestina do tempo de Jesus, ao homem cabia a responsabilidade de provedor do lar; enquanto que a mulher responsabilizava-se pelas tarefas da casa e a educação religiosa dos filhos.
Maria era uma hebréia autêntica. Mulher orante e fiel, transmitira ao menino Jesus, desde a mais tenra infância, o temor de Deus: uma reverência profunda ao Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó; o Deus três vezes Santo; o Deus vivo, onipresente, onipotente e onisciente. Jesus assimilara de tal forma os ensinamentos da Mãe que, aos doze anos de idade, discutia com os doutores da Lei no Templo de Jerusalém.
O preceito sabático vivenciado na freqüência à sinagoga tornava-se evidência do crescimento do menino em “idade, sabedoria e graça, diante de Deus e diante dos homens”. Jesus crescia e se desenvolvia vendo a Mãe testemunhar o que dizia. A coerência de Maria estampava-se em seus atos e gestos.
Quantas vezes em conversas íntimas ela o havia revelado o mistério que a envolvia; o anúncio do anjo; a visita à sua parenta; a estrebaria de Belém; a fuga para o Egito... E ele ouvia. Apenas ouvia. Relatara a profecia do Magnificat: “...De agora em diante todas as nações me proclamarão bem-aventurada...”
É partindo deste ponto que faremos a nossa reflexão. Eu penso que se todas as bíblias desaparecessem da face da terra e restassem unicamente as “Bem-aventuranças” proclamadas por Jesus no Sermão do Monte, estaríamos com a sinopse de toda a Palavra de Deus. Sinopse e ao mesmo tempo homenagem, elegia, elogio à Mãe.
Somente quem presenciou e compartilhou esta experiência pode transmiti-la. Ao sair de casa para iniciar a missão levara no coração o adensamento de todas estas realidades. Somente a Bem-aventurada poderia inspirá-lo a compor as Bem-aventuranças.
Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus!
Houve, há ou haverá na face da terra alguém tão despojada quanto Maria? Escrava por excelência, não tinha direito a nada. Era nada. Por isso é mãe do Filho Pobre!
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados!
Lágrimas em Belém; lágrimas no Egito; lágrimas em Nazaré; lágrimas em Jerusalém... Lágrimas! Por isso é mãe do Filho Humano!
Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra!
A paz inquieta à procura do filho que se perdera. Balbucia: “Filho, não sabias que teu pai e eu estávamos apreensivos?” Por isso é mãe do Filho Manso!
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados!
No Magnificat ela cantara: “Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes; saciou os famintos e despediu os ricos de mãos vazias”. Por isso é mãe do Filho Justo!
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia!
Em Cana ela sofre, se compadece pela falta de vinho. A Misericórdia atende a misericordiosa. Por isso é mãe do Filho Compassivo!
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!
Cheia de Graça; filha dileta do Pai; mãe carinhosa do Filho; e esposa amantíssima do Espírito Santo... Quem mais pura do que ela? Por isso é mãe do Filho Puro!
Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!
Shalom! Shalom! Shalom! Sua saudação ainda hoje percorre o universo, desde a Visitação. Por isso é a mãe do Filho Pacificador!
Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus!
Belém, Egito, Nazaré, Herodes... Por isso é mãe do Filho Perseguido!
Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus.
Grávida antes do casamento... Impropérios, dedos apontando, mudanças de trajeto, o noivo querendo deixá-la em segredo. Por isso é mãe do Filho Caluniado!
Bem-aventurada, bendita, feliz é a Mãe! “Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus”. Por isso a Mãe do Filho Ressuscitado está no céu de corpo e alma, como Rainha dos Anjos e dos Santos.
ALMacêdo