Sobre Sábios e Santos

Houve um tempo, em algum lugar da história humana, que qualquer pessoa que fosse detentora de uma arte secreta, corria logo o perigo de ser tomada por feiticeiro, ou herege (diferente). O filósofo, artista, geômetra, astrônomo, teólogo ou qualquer pensador que se afastasse da terminologia comum era logo acusado pelos fanáticos, julgado pelos velhacos, condenado pelos poderosos e queimado vivo pelos idiotas. Esse período cômico de nossa história, que não é engraçado nem poético, fez surgir para a humanidade o maior contingente de homens e mulheres que hoje chamamos de sábios e santos.

Quando se pretende falar de sábios e santos, é preciso viajar muito para trazer ao nosso tempo memórias tão adormecidas. Infelizmente, tantos chamados de santos não merecem serem se quer lembrados, já outros tantos chamados de sábios, igualmente.

Com efeito, em que base poderá fundar-se o juízo de classificar alguém como sábio e, ou, santo? Pelas respostas que nos dá os eclesiásticos e os acadêmicos, afirma-se que sábio é aquele que em sua obra engendra algum invento, escreve livros, torna as objeções em respostas e interpreta alguns enigmas, de certa, os mais ambíguos. Finalmente, sobre a santidade, argumentam os eclesiásticos que santos, são tão somente, homens e mulheres, que viveram em tudo as virtudes, o amor ao próximo, o temor a Deus, e, para justificarem seus veredictos, acrescentam que santo também o é aqueles ou aquelas que obedecem aos dogmas da igreja católica.

Os Papas canonizam os santos e os editores os sábios. O mínimo que se pede para ser santo, além de estar morto, são dois milagres consumados. Já o insignificantíssimo pedido para se ser sábio é a impressão de uma obra, contanto que seja volumosa.

Que lastima! Como poderemos ser sábios e santos se a igreja, os editores e as academias não nos conhecer? Ora, para justificar isto, criaram o dia de todos os santos e posteriormente os blogs e redes sociais da internet, onde cada um diz o que pensa, sem, contudo, pensar no que diz e mesmo assim obter fama.

Considero que os santos e os sábios foram gente de fidalga nobreza, e isso, tanto no espírito, quanto nas ideias. Essa mesma consideração leva-me mais longe: vejo que os bons sábios e santos são também os mais antigos. No entanto não há nércio no mundo que não admire se quer um sábio ou um santo.

Ainda sobre meu julgamento, considero santo quem em tudo viveu a autenticidade, a fé em Deus e a misericórdia. Por outro lado, acrescento que sábio, seja aquele que reúne em si e em suas obras o conhecimento e a experiência. Em outras palavras, neste quesito, sábio seria aquele que sabe ler: ler os céus (Galileu), ler a alma (Freud), ler os tempos (Weber), ler os números (Ptolomeu), ler a natureza (Aristóteles), ler a física (Heráclito), ler a metafísica (Platão), ler os desígnios de Deus (Jesus Cristo).

Quanto aos santos, não há gênero de estudo na Teologia moderna, tanto para os antigos como para os novos, que distinga suas histórias e feitos. Hoje em dia, apesar de continuarem sendo venerados, o estudo dos santos (Hagiologia) está relegado ao ostracismo. Nesse mesmo gênero de estudo das histórias, enterraram também o estudo dos sábios. Na filosofia moderna, que, singularmente parece merecer mais as confusões e hermetismos, do que os inventos e esclarecimentos; observa-se um enveredar-se nas linguagens rebuscadas que nada traz de valor. Enquanto que na teologia, observa-se uma linguagem amena e agradável, sem conteúdo e repetitiva, que é a narração pura das almas vazias que enchem nossa época.

Mas em suma, ainda hoje há grande quantidade de coisas dignas de serem sabidas e reflexões invulgares que estamos deixando de lado, trocando-as por coisas de indevido valor. Entretanto, o mundo sabe: Pode-se ocultar os santos e os sábios; mas calar de uma vez por todas o que eles foram e ensinaram são ações de conseqüências imperdoáveis.

Bara
Enviado por Bara em 01/07/2012
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