CRISTIANISMO NÃO É RITUALISMO
Desde o início de minha caminhada cristã aprendi que devemos ler a Bíblia, orar, frequentar os cultos, evangelizar e procurar viver de uma maneira agradável dando um bom testemunho de vida ao mundo. Apesar do meu desejo de fazer a vontade de Deus e de sempre ter sido ativo na obra, eu achava que isso era o bastante. No entanto, ser cristão é mais que fazer essas coisas.
No diálogo com Jesus, a mulher samaritana indagou: “nossos pais adoravam neste monte, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar. Ao que Jesus lhe respondeu: Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai.... Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; ...Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”. (Jo. 4:21,23,24). Assim como a mulher samaritana (buscando um local de adoração), passei boa parte de minha vida tentando me enquadrar num sistema. Eu acreditava que servir a Deus era cumprir certas formalidades. Mesmo amando a Deus e servindo a igreja eu estava preso a um esquema fechado que dificultava que eu percebesse que o cristianismo é mais do que isso. É liberdade. Liberdade para ouvir a voz de Deus e não para cumprir tradições (formalidades, rituais) criadas por nós.
Quando me refiro à tradições, tomo como primeiro exemplo a liturgia da igreja. Não encontramos em todo o Novo Testamento uma liturgia de culto como a que aprendi e que é praticada na maioria das igrejas evangélicas. Jesus nunca falou, e nem seus apóstolos, que temos que começar com uma oração, depois cantar três hinos de algum hinário, em seguida ter o momento das ofertas, mais cânticos, a pregação, o apelo e a oração final. O problema é que para muitas denominações isso virou mandamento de tal maneira que se fizermos diferente estaremos, segundo estes, cultuando de forma errada. Inclusive, o paletó e a gravata, sentar na tribuna, tornaram-se obrigatório aos oficiais da igreja. Toda esta institucionalização do sagrado fez-nos acreditar que já estamos dentro da vontade de Deus. Um outro problema grave é que esperamos que Deus opere um avivamento, curas e milagres em nossas reuniões. Porém, quando determinamos o que vai acontecer (muitas denominações já tem a grade de como vai ser o culto, inclusive a hora das revelações) fechamos nossos corações para o Espírito de Deus. O Espírito deve ter liberdade para agir como Ele quer. A nossa liturgia não deve ter preeminência frente ao Espírito de Deus em nossas reuniões. Mas infelizmente é que, de ante mão, queremos dizer o que vai acontecer ou como vai acontecer. Não é muita petulância de nossa parte?
Eu acredito na igreja que Cristo criou. A igreja cuja as portas do inferno jamais prevalecerão. Não estou dizendo que não é importante se congregar (a Escritura é clara a esse respeito em Heb.10:25). Apenas estou afirmando que ser cristão é mais do que isso.
No texto inicial, a mulher samaritana estava buscando um local de culto e muitos hoje estão investindo em prédios. Porém, Jesus nunca nos pediu para construirmos prédios. Essa nunca foi uma prioridade da igreja primitiva.
O que percebo é que há uma inversão de valores porque muitos estão preocupados em fazer cultos de oração, mas não em visitar os doentes pelos quais estão orando. Muitos estão preocupados com a manutenção do “templo” e doam grandes somas de dinheiro, mas não doam seus corações. Não perdoam a quem os ofenderam (Mat. 5:22-26 e 6:12). Nem estão preocupados em repartir o pão e as vestes com quem não tem e não são gratos pelo que tem, como pregou João Batista (Luc. 3:8-14). Da mesma forma não assistem aos órfãos e as viúvas em suas necessidades (que é a verdadeira religião), como lemos em Tiago (Tg. 1:7).
Normalmente somos tentados a não nos preocupar desde que o prédio esteja lotado e o povo alegre, cantando, pulando, dando glória a Deus, mesmo que suas vidas estejam arruinadas espiritual e moralmente. Até arrumamos uma desculpa: “é melhor fraco na igreja que forte no mundo”.
Amados irmãos, a Escritura nos dá exemplos de tarefas importantes que ajudam o nosso crescimento espiritual:
“Exortamo-vos, também, irmãos, a que admoesteis os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para com todos. Evitai que alguém retribua a outrem mal por mal, pelo contrário, segui sempre o bem entre vós e com todos. Abstende-vos de toda forma de mal”. (I Tes. 5:14,15,22)
Jesus também nos dá exemplos:
“Vinde, benditos de meu pai!....Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; Estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me” (Mat. 25:34-36).
O cristianismo tem como base a Escritura e o amor a Deus e ao próximo. Sem o amor de Deus nenhuma obra vale nada. E o Seu amor e Sua graça nos levarão, necessariamente, a amar e servir o próximo. Por isso o cristianismo deve ser prático e não um mero ritualismo.
Estejamos abertos a voz de Deus e que Ele governe nossas vidas para que sejamos mais para Sua glória.