Laicos: nem Laranjal, nem o Brasil, nem os nossos mandatários!

Não precisamos ir muito longe nem perder muito tempo para chegarmos a conclusão de que essa história de que o Brasil é um país laico é história pra boi dormir. Laranjal do Jari, a cidade que me acolheu de braços abertos e deu-me as maiores oportunidades na vida, também não é um município laico, a começar pela letra do seu hino. E o Brasil? Bem, um país cujas notas de dinheiro trazem a inscrição “Deus seja louvado”, não pode ser laico. O mais famoso cartão-postal do Brasil, a estátua religiosa Cristo Redentor construída em local público no Rio de Janeiro, esgota as possibilidades de sermos um país laico. Além disso, as igrejas não pagam impostos, a religião e os dogmas religiosos interferem diretamente nas leis, religiosos interferem nas pesquisas da medicina, dias-santos são feriados nacionais e até criminosos tem suas penas abrandadas ao se passarem por evangélicos!

Se em Laranjal do Jari não existe confecção de cédulas com inscrições em adoração a Deus, pelo menos existe o hino municipal, por sinal belíssimo, que corrobora de forma contundente as nossas afirmações. Na terceira estrofe afirma-se categoricamente “É a fé que remove montanhas! É a fé, que interrompe rojões.... Tudo podes quando Deus é por ti”. A influência religiosa na construção do hino laranjalense foi tão forte que muitas pessoas já ficaram na dúvida se realmente ouviam um hino municipal ou um hino religioso.

Os políticos, cientes de que os cristãos representam a imensa maioria dos seus eleitorados, também poliram seus discursos com o objetivo claro de se passarem por pessoas “altamente confiáveis”. Há discursos de políticos que confundem com as pregações e sermões de líderes religiosos, ou seja, as nossas lideranças políticas em geral não têm nenhum pudor de trucidar o laicismo previsto na Constituição Federal, pois tal como a história relata, em nome de Deus se pode tudo!

Espero que os meus leitores não confundam as coisas, pois, o que estou condenando aqui é o posicionamento dos nossos governantes e a falsa idéia de que as nossas instituições públicas estão livres dos dogmas religiosos. Nada contra as igrejas, até porque já estou cansado de reconhecer a importância que elas têm na formação de valores e nas atividades solidárias que contribuem para a melhoria da nossa sociedade, entretanto, considero que uma nação que se diz democrática deve de fato garantir o laicismo. Por outro lado, acredito que as instituições religiosas, sobretudo as cristãs, não precisem desses artifícios para se promover, pelo contrário, acredito que a aproximação de algumas lideranças política ou da prática desses subterfúgios prejudique a idoneidade das igrejas.

O que de fato é um país laico? é aquele em que a religião não interfere na República. A nossa Constituição garante que somos um país laico, mas na prática a realidade é bem diferente! Não faltam provas, tanto que a Igreja Católica continua influenciando nas leis sobre células-tronco e aborto e recentemente a bancada evangélica da Câmara Federal conseguiu fazer importantes alterações na “Lei da Palmada” usando textos bíblicos para permitir que os pais continuem realizando os pequenos castigos físicos contra os seus filhos.

Se o Brasil é uma república laica, o maior norteador de condutas deveria ser a Constituição, não textos religiosos. “Assim como não se pode nem criminalizar uma conduta só porque preceitos religiosos de alguns a condenam, também não se pode liberá-la só porque preceitos religiosos de alguns a endossam. Se assim fosse, deveríamos voltar a proibir o sexo fora do casamento e liberar a escravidão,” declarou o Presidente da Associação Brasileira dos Ateus e Agnósticos, Daniel Sottomaior.

De fato o Brasil ainda não é democrático o suficiente, desta forma está longe de ser laico, mas, podemos contribuir para a mudança elegendo mandatários cujo caráter e competência sejam suficientes para se tornar um grande político, sem a necessidade de utilizar as religiões e a fé do povo para alcançar os objetivos pessoais.