"... todos os Profetas e a Lei profetizaram até João..." (Mateus 11:13).

"... todos os Profetas e a Lei profetizaram até João..." (Mateus 11:13).

Durante muitos séculos, muitas cabeças rolaram pela força do cumprimento da palavra. Até porque, fazer as vontades de Deus não é andar por veredas margeadas por frutos do Céu. Pois 400 anos sob a opressão da escravidão (Gênesis 15: 13...), mais 40 anos no deserto (Deuteronômio 29: 4), mais a missão de ocupar a terra prometida, ao preço da espada em punho e o sangue de várias nações, 70 anos sob o jugo do poder da Babilônia, e a dispersão de um povo que ouviu tantas promessas, por ser o povo escolhido, se torna, para os limites da mente humana, algo além da natureza e da capacidade recebida. E como se não bastasse, a punição ainda se estendia às gerações futuras: “... Se você não colocar em prática todas as palavras desta Lei escritas neste livro, temendo o nome glorioso e terrível de seu Deus, Ele ferirá você e sua descendência com pragas espantosas, pragas tremendas e persistentes, doenças graves e incuráveis...” (deuteronômio 28: 58-62). E Deus, que criou o homem e viu que era bom, agora diz pela boca de Moisés: “Vocês são um povo de cabeça dura. Se eu os acompanhasse por um momento, eu os exterminaria...”( Êxodo 33: 5).

Não foram poucas as vezes que Deus exterminou grandes porções de Seu povo por motivo de desobediência, até que um dia resolveu revelar algumas das Suas vontades, e ordenou aos profetas: “Os pais não serão mortos pela culpa dos filhos, nem os filhos pela culpa dos pais. Cada um será executado por causa do seu próprio crime” (2 Crônicas 25: 4). Em 2 Samuel 24:16 diz: “O anjo estava já com a mão estendida sobre Jerusalém para destruí-la, quando Deus se arrependeu desse mal, e disse ao anjo que estava exterminando o povo: “Chega! Agora retire a mão”. Em Isaías 57:16, Deus diz: “Eu não vou ficar demandando eternamente, não vou ficar irado o tempo todo, senão a vida humana evaporaria na minha presença e seria destruído tudo aquilo que eu criei...” No capítulo 54:7,8 também de Isaías diz: “Por um instante eu abandonei você, mas com imensa compaixão torno a reuni-la. Num ímpeto de ira, por um momento eu escondi de você o meu rosto; agora, com amor eterno, volto a me compadecer de você...” E revelou também que queria adotar os pagãos e os estrangeiros que quisessem seguir as normas da nova aliança proposta por Ele e anunciada pelo filho; e O mandou para que, com a Sua crucificação, caísse o véu e fosse aberto o entendimento, mostrando que a essência que eleva o homem à Vida não é o sacrifício, mas sim, a misericórdia (Isaías 1: 11-18; Mateus 9:13).

Cristo veio para renovar a Aliança do Pai e também renovar o homem. Portanto, não devemos ficar ocupando o coração e o espírito com coisas pequenas, pois já fazem parte dos velhos costumes. Cristo mostrou a renovação, agindo: quem era para ser apedrejado, Ele perdoou, e pediu para não pecar mais (João 8:1-11); quando o sábado escravizava o homem, Cristo diz que o sábado é para o homem, e não o homem para o sábado (Mateus 12:1-14); o que devia ser: olho por olho, Cristo ofereceu a outra face (Mateus 5:39); quando o homem era apenas servo, Cristo o chamou de amigo, chorou por ele e o ressuscitou (João 11:1-44); quando a lepra excluía da sociedade os doentes, Cristo frequentou a casa do leproso (Mateus 26:1...); quando o traidor recebia sua devida punição, Cristo o chamou de amigo (Mateus 26:50); pois tinha luz divina para entender que: “...eles não sabem o que fazem” (Lucas 23:34); e disposto a renovar o homem e abrir-lhe o entendimento, mesmo sendo Ele justo, inocente e Rei dos reis, aceitou a humilhação da coroa de espinhos e a crucificação que era apenas para os malfeitores. Tudo isso para pagar o preço pelos pecados dos homens e resgatar a liberdade para o caminho da salvação. Ele pagou por nós o preço da humilhação, do chicote, dos pregos na cruz e da lança Lhe furando o peito até escorrer todo o sangue que pronuncia a ressurreição. E a nós, Ele apenas recomendou uma missão: “... Eu dou a vocês um mandamento novo: Amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos outros...” (João 13:34,35; 15:12-17). E reforça dizendo: “Tudo que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam vocês também a eles. Pois nisso consistem a Lei e os profetas” (Mateus 7:12; 22:40).

Nesta repetição, Cristo está tentando dizer que, a partir do preço pago por Ele na cruz, ficou sem custos seguir o caminho do Pai.

Estes custos não foram retirados logo após a ascensão de cristo para junto do Pai. Os poderes religiosos e políticos, por vários séculos, oprimiram, torturaram, queimaram e enterraram vivos os seguidores e discípulos de Cristo. Ao custo de muitas vidas é que foi rompido o período dos 1260 anos.

Vários grandes discípulos empenharam a vida nas pesquisas e traduções para expandir o material que temos hoje às mãos. Pena que, com o material e a liberdade que temos, para aprender o caminho e as vontades de Deus, haja comboios seguindo pregadores de promessas falsas e soluções imediatas.

Nessas arenas de milagres e recompensas fáceis, os que se dizem estar cheios do Espírito Santo, enchem a cabeça dos que se dizem fiéis, com crenças pagãs e opressões que escravizam a mente e o coração, impedindo a libertação dos cristãos para a nova Aliança que, a altos custos, foi ofertada com o recheio de fraternidade, misericórdia e perdão.

Em toda história da peleja da pregação, vimos que os profetas pregaram a palavra para o povo escolhido e que já conhecia a Deus, pela transmissão dos patriarcas, e que cristo e os Apóstolos pregaram para as ovelhas dispersadas do povo Israel. Porém, Paulo, teve a missão de pregar para os pagãos. Mesmo assim , apesar da desconfiança por ele ter sido perseguidor dos cristãos, e da dificuldade de convencer um povo não circuncidado a aceitar um Deus até então desconhecido, ele conseguiu fundar comunidades. Mas conseguiu porque nas suas palavras havia a dosagem do amor pelos irmãos. Ele entendeu que para circuncidar a mensagem de Deus no coração do povo excluído (Jeremias 4:4; Ezequiel 44:7,9), era necessário se recolher e se fazer o menor dos servos, como recomendou o Rei dos judeus: “... Pois bem: eu, que sou o Mestre e o Senhor, lavei os pés de vocês; por isso vocês devem lavar os pés uns dos outros...” (João 13:12-17). E o maior obstáculo que encontrou foi reeducar a mente e o coração de um povo que foi conduzido e alimentado por ensinamentos de crenças doentias, que aprisionavam a alma e amedrontavam com maldições de deuses pequenos e que não davam vida.

O esforço de Paulo foi quase insuportável, mas conseguiu plantar boas sementes. E enquanto teve vida, procurou orientá-las com o cuidado de quem tange um rebanho por caminhos de pedras para saciar-lhe a sede com a água da Fonte que não seca, e devolver-lhe a Vida.

Escrevendo às comunidades de Frígia e Galácia, na Ásia menor, Paulo diz: “No passado, quando vocês não conheciam a Deus, eram escravos de deuses, que na realidade não são deuses. Agora, porém, vocês conhecem a Deus, ou melhor, agora Deus conhece vocês. Então, como é que vocês querem voltar de novo àqueles elementos fracos e sem vida? Por que vocês querem novamente ficar escravos deles? Vocês observam cuidadosamente dias, meses, estações e anos! Receio que me cansei inutilmente por vocês” (Gálatas 4:8-11).

Falando aos Efésios (2:1-22): “Lembrem-se de que vocês, pagãos de nascimento, eram chamados incircuncisos por aqueles que se dizem circuncidados, devido à circuncisão que se fez na carne com mão humana. Lembrem-se de que nesse tempo vocês estavam sem Cristo... Mas agora, em Jesus Cristo, vocês que estavam longe, foram trazidos para perto, graças ao sangue de Cristo. Cristo é a nossa paz. De dois povos, Ele fez um só. Na Sua carne derrubou o muro da separação: o ódio. Aboliu a Lei dos Mandamentos e preceitos. Ele quis, a partir do judeu e do pagão, criar em si mesmo um homem novo, estabelecendo a paz. Quis reconciliá-los com Deus num só corpo, por meio da cruz; foi nela que cristo matou o ódio. Ele veio anunciar a paz a vocês que estavam longe, e a paz para aqueles que estavam perto. Por meio de Cristo, podemos, uns e outros, apresentar-nos diante do Pai, num só Espírito.” “...Deus não manifestou esse mistério para as gerações passadas da mesma forma com que o revelou agora, pelo Espírito, aos seus santos apóstolos e profetas: em Jesus Cristo, por meio do evangelho, os pagãos são chamados a participar da mesma herança, a formar o mesmo corpo e a participar da mesma promessa...” (Efésios 3:1-6).

A partir de Jesus o homem é convidado a beber da água que se torna fonte e jorra para a vida (João 4:7-15); e a fazer parte dos adoradores que o Pai procura (João 4:23,24), adorando-o em Espírito e verdade. Pois as amarras do homem escravo foram quebradas com o batismo de Cristo até a Sua crucificação. “De fato, todos os profetas e a Lei profetizaram até João...” (Mateus 11:13).

Aliviando os que lhe abrem o coração, Cristo diz: “Venham para mim todos vocês que estão cansados de carregar o peso do seu fardo, e eu lhes darei descanso. Carreguem a minha carga e aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para suas vidas. Porque a minha carga é suave e o meu fardo é leve” (Mateus 11:28-30).

O homem velho se prende à fidelidade aos costumes, às regras e às leis, e se faz escravo da obediência às normas. É aquele que se conduz apenas pelos parâmetros das leis : “Eis que os teus discípulos estão fazendo o que não é permitido fazer em dia de sábado!...” Cristo responde: “Se vocês tivessem compreendido o que significa: ‘Quero a misericórdia e não o sacrifício’; vocês não teriam condenado estes homens que não estão em falta...” (Mateus 12:1-8).

Já o homem novo, é aquele que rompe correntes e não se deixa ser algemado sequer pela razão. É aquele que quebra regras e desconhece limites para as ações do coração.

O homem é o único ser que, pode até não mover montanhas pela fé, mas é capaz de fazer montes tremerem pela força que lhe move do coração: “... a terra tremeu, e as pedras se partiram...” (Mateus 27:51-53). É o único ser capaz de beber o Cálice por amor ao irmão: “Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos...” (João 15:12-14).