O QUE SERÁ DEPOIS

                                           O QUE SERÁ DEPOIS (?)

Os dias passam numa corrida desenfreada e nós vamos atrás, perdendo forças, as passadas mais lentas, envelhecendo a cada momento. Mas alheios, despercebidos, indiferentes ao que nos acontecerá depois, no outro lado de lá, quando nos despojarmos do invólucro físico, com a realidade da morte.

O fim espiritual não deve acontecer, não obstante. Eu acho. A espiritualidade deve ser imortal, eterna; os teólogos, teoricamente, afirmam e a lógica nos ensina acreditar que seria irracional o extermínio, a implosão dessa força, que é o nosso pensamento, que, na verdade, é a nossa alma, o nosso espírito, que se engaja ao nosso corpo tão logo aqui, neste planeta, aportamos, vindos sei lá de onde. De outras galáxias? De mundos outros ainda inalcançáveis pela ciência dos terráqueos? As sondas espaciais, lançadas de Cabo Canaveral, são ainda rojões de festejos juninos, meros brinquedos de crianças, sem capacidade de desvendar a grandeza do firmamento.

Daí, a interrogação, talvez não somente minha, por que a determinação do Criador limitou-se, ao que me parece, a privilegiar, entre tantos mundos arquitetados por Ele, este nosso insignificante planeta que gravita, com outros, de dimensões bem superiores, em torno do Sol? E tantas mais galáxias, constituídas de tantos outros mundos, então? Qual a finalidade dessa abóbada universal insondável que nos envolve, repleta de estrelas de grandezas variáveis? Seria, apenas, para deslumbrar os amantes, nas noites de lua-cheia, para as serenatas (ao luar), inspirando poetas e seresteiros? Seria uma definição, um significado reles, não convincente. Em João, 14:2, diz a Bíblia: Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. Um segredo ainda inexplicável, no meu rudimentar entender.

De repente, então, a morte nos surpreende, antes até mesmo do tempo que nos foi determinado, se é que estamos aqui cronometrados por uma Lei suprema, por uma ordem misteriosa, enigmática, nessa complicada jornada que aprendemos a chamar - por princípios determinantes - de vida. Qual será, daí para frente, o nosso destino? O Céu? Que beleza...! Se o merecermos, o quê nos estará reservado no mundo espiritual? Anjos e querubins estarão a nos receber sob sons estridentes de trombetas e acordes maviosos de harpas e violinos, conduzindo-nos à Sala do Trono, à presença do nosso Deus? E nesse trajeto ouviremos vozes de parentes, de amigos, de contemporâneos que para ali já se foram e que nos acenam com euforia, sabendo-nos também participantes agora de uma multidão realmente feliz, vivendo uma vida perfeita, sem desentendimentos, sem contendas, sem terroristas, sem seqüestradores, sem traições, sem mal de Parkinson, sem Alzeimer, sem AVC (acidente vascular cerebral), nem diabetes, nem câncer de próstata, nem de mama, nem de útero, nem de pulmão, sem leucemia, sem isolamentos nem sanatórios em que seres humanos, feitos à semelhança de Deus, definham à sanha maldita, satânica do vírus HIV, e outros, à persistência do bacilo de Koch. Um mundo, então, sem dores de qualquer natureza. Tudo pode ser tão maravilhoso, que, ali, estejamos livres até de George W. Bush, daquele seu jeitão de cow-boy do Texas dando tiros para todos os lados, na invenção das suas guerras, provocando o excêntrico, o fanático, o lunático Osama Bin Laden e os seus seguidores, que rechaçam com homens e carros-bombas as traquinagens bélicas de Mr. Bush contra o Iraque e, brevemente, contra outros mulçumanos donos de territórios ricos em petróleo.

Vir ao mundo, a este planeta em que há mais erros do que acertos, não foi escolha nem minha nem de ninguém. Mas aqui estamos; uns, ainda preocupados; outros, não estão nem aí... para o que venha acontecer depois. Esses são mais matéria, que termina e... ponto. Se o viver, com todos os percalços, representa para eles gozo, fantasias etc, etc, pra que se dá conta do final da caminhada, mesmo que sejam dragados por um mal súbito, por uma bala perdida ou outro acidente qualquer? Aqueles estão centrados nos prazeres terrenos, inclusive no cheirinho do pó que a Colômbia manda para nós; no consumo da maconha, que a Bolívia e o Paraguai - nossos bons vizinhos - clandestinamente, ou acobertados por autoridades da fronteira, fazem chegar até nós. E, assim, tudo é maravilhoso. Para os demais (incluo-me) ainda persistem incertezas, mesmo que creiam na imortalidade, em um modus vivendi em outra dimensão, deixando transparecer vacilações quanto ao que seremos e quanto ao que sentiremos em estado espiritual (ou fluídico?).

A hipótese de um Inferno, do outro lado, não esse que apregoam os católicos: de fogo ou de enxofre derretido. Aliás, para esse “lugarzinho”, sim, deveriam ir os assassinos da freira norte-americana Dorothy Stang e os de Chico Mendes, os predadores dos nossos rios e florestas, os pichadores de monumentos históricos, os queimadores de índios e mendigos, os fraudadores da Previdência Social, os estelionatários em geral, bem assim os tiranos, os ditadores sanguinários. Aquela hipótese talvez não esteja descartada. Mas, que tipo de inferno seria, sem fogo abrasador de caldeiras incandescentes nem fumaça tóxica de enxofre queimado, para onde iriam os cépticos, os materialistas. Será?

Outro inferno seria demais da conta para castigar-nos após o desencarne. Os “inferninhos” que por aqui curtimos já não seriam suficientes? Não bastavam as agruras, as decepções que, até mesmo em família, experimentamos com casamentos desfeitos, com delegacias de mulheres registrando boletins de ocorrências, com clínicas de drogados, com centros de alcoólicos anônimos, prostituição e homossexualismo infernizando tantos lares, onde as religiões, por mais esforço que se empenhem, não conseguem “exorcizar” as dores cruciantes desses fardos tão pesados? Já não seriam suficientes tais penalidades para que, depois da morte física, merecêssemos o tão propalado paraíso celestial, que as religiões pregam como descanso eterno? O quê será depois, então?

(MEU BLOG: vozdomeuser.blogspot.com)


 
Pablo Calvo
Enviado por Pablo Calvo em 18/05/2012
Código do texto: T3675208
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