O Filho Pródigo Reencarnado
Uma das mais sublimes passagens evangélicas, muito conhecida e estudada, nos faz refletir sobre alguns ensinamentos.
É dispensável aqui relatar toda a parábola. No entanto, nos chama a atenção o seguinte: Em algum momento você age como filho pródigo? Quando? E quanto a seu irmão, com quem mais nos identificamos?
Se visualizarmos a situação sob a ótica de um jovem que após pedir sua parte da herança a seu pai, sai pelo mundo em busca de sexo, drogas e rock and roll, alguns irão se identificar. Mas dentro de um raciocínio reencarnacionista, imaginemos, ou melhor, intuímos quantos séculos, ou quantas vidas de filho pródigo já vivemos?! Quantas vezes, ou quantas encarnações já desperdiçamos à procura dos prazeres do mundo carnal, das paixões, da ganância e de outras vicissitudes?!
O íntimo de nosso ser guarda a sete chaves os mistérios de nossa existência que, embora não nos permita ter consciência sobre tais registros, nos faculta intuir as sensações advindas dessa longa jornada.
Assim sendo, toda a dor que nos aflige está relacionada a um longo caminho percorrido, cujo qual não começou na presente encarnação.
Contudo, se sentimos dor, é sinal que ela (a consciência) nos assalta. Do mesmo modo, o filho pródigo teve sua consciência tocada e retornou para junto de seu pai. Sabemos que para que ele entendesse, teve de receber um bom dinheiro, gastá-lo com amigos, perder os amigos, trabalhar como tratador de porcos e, pior ainda, não podia comer a lavagem, pois era dos animais. Em suma, nosso protagonista sofreu muito para retornar para junto de seu pai.
Sabemos que é uma fábula, mas se fosse um caso verídico, nos dias de hoje, teria como agravante um sistema econômico e um modelo político social que estimula mais ainda suas atitudes consumistas. Mas é apenas um adendo, pois, como foi dito acima, nossa jornada de filhos pródigos já começou há muitas vidas atrás.
Agora, uma pergunta se faz necessária: Em que fase se encontra sua jornada de filho pródigo?
Sem a intenção de fazer prejulgamentos, vemos, hoje em dia, pessoas que mesmo sem ter recebido uma herança, saem por aí, comprando todos os prazeres que a vida pode lhes dar. Existem aqueles que estão em outra fase. São escravos do cartão de crédito, todo o dinheiro que ganham é para pagar os juros bancários e, mesmo com reajustes salariais, não conseguem se equilibrar financeiramente. Os amigos desaparecem e encontram-se na solidão.
Outros ainda se encontram em grau mais avançado. Já perderam todo o seu tesouro (lembrando que seu tesouro está aonde depositas seu coração), e nada lhes sobrou. Para alguns, seus tesouros eram seus carros de luxo; para outros, era uma linda residência. Há pessoas que fazem da jovialidade seu tesouro, pois depositam nela seu coração. Daí então, gastam uma fortuna comprando beleza e chamam isso de autoestima. Mas também existem os que fizeram das paixões o seu tesouro, pois construíram um harém e assim, se sentiram verdadeiros reis.
Pois bem, continuando nossa jornada de filho pródigo, seja qual for o seu tesouro, seja carros, beleza, paixões; enfim, quem sente a dor do vazio desde que nasceu, é sinal de que muito cedo, na presente encarnação, já conheceu a fase da perda de sua herança, herança esta que não foi a que o Divino Pai lhe deu, mas sim aquela que seu coração elegeu, pois vale a pena repetir: seu tesouro está aonde depositas seu coração.
Arrisco dizer que em pleno século XXI, nós, espíritos reeducandos, ou seja, reencarnantes, estamos, em nossa grande maioria, na fase em que perdemos nossos tesouros pessoais.
Agora é a hora do retorno.
O retorno para a casa do Pai requer muita, mas muita humildade para aceitar regressar à nossa essência que, para tanto, sentimo-nos, muitas vezes, como um tratador de porcos que dá de comer aos seus animais, mas não pode sequer consumir seu alimento. Obviamente, embora este caminho seja previsível, não é o preparado pelo Pai. Mas Ele, bondoso como é, mesmo prevendo o que acontecerá, permite nosso retorno. E hoje quem nos castiga é nossa decisão equivocada de ter cedido aos prazeres mundanos.
Ressalto que essa decisão, dentro de uma visão reencarnacionista, já foi tomada há séculos atrás.
Mas nós, por um ato de coragem, nascemos e estamos aqui para seguir essa caminhada.
Quanto tempo levará o retorno? Somente nossa consciência poderá dizer.