AMAI-VOS UNS AOS OUTROS
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Apresentamos hoje, sob o enfoque da Doutrina Espírita, a exuberante ópera dramática “Lúcia de Lammemoor”, musicada pelo Maestro Gaetano Donizetti (1797-1848), partindo do libreto escrito pelo poeta e dramaturgo Salvatore Cammarano, e cuja estreia ocorreu na cidade de Nápoles em 1835.
A ópera narra a saga de duas famílias nas terras da Escócia, nos anos de 1670, dominadas por muito ódio, que nutriam desde os tempos da Idade Média, com alternâncias de perseguições politicas, religiosas e espoliação de bens matérias. De um lado aqueles da linhagem dos Ravenswood e do outro, os da Casa de Lammemmor, sobrenome da heroína do melodrama.
O que mais se destaca nesta ópera, além da linha melódica de Donizzetti, é a atmosfera mística criada pelo “libretista” Cammarano. Sem meias palavras descreve ele cenas tipicamente mediúnicas, como se já fosse familiarizado com as obras da codificação do Espiritismo. Oportuno considerar que “O Livro dos Espíritos” foi editado em 1857.
Nas árias, tão românticas quanto dramáticas, encontramos a relação existente entre os dois planos da vida, a física e a espiritual, o que se pode constatar logo no primeiro ato da ópera, quando Lucia descreve um dos seus encontros com o Espírito de uma antepassada, o qual lhe faz sérias advertências sobre os perigos que rondam a sua vida. Na ária “Regnava Nel Silenzio” (Reinava no Silencio) ela descreve, inclusive, a volitação do Espírito sobre as águas do lago, e que o Espírito amorosamente pede para segui-lo. Consta dos registros da família Lammemoor, que aquela parenta foi vitimada por membro da família Ravenswood, cem anos antes, em consequência de doentio ciúme.
Para amenizar o antagonismo e pacificar as duas famílias, surge no enredo, aquele que deu apoio e sustentação afetiva ao coração sensível de Lucia de Lammemoor. E eleve vem exatamente da família dos Ravenswood. Seu nome é Edgard, que deve dividir com Lucia a tarefa da harmonização daqueles corações dominados pelo ódio. A união de todos viria através do casamento dos dois, dispostos a testemunharem a grandeza do amor naquele clima de acerbada aversão. Mas, para desespero de ambos, o irmão de Lucia resiste tenazmente ao casamento e obriga Lucia a casar-se com um certo Lord Arthur, por quem Lucia nutria incontida e inexplicável antipatia, provocada, no entanto, por reminiscências de vidas passadas, ou ainda por influencia daquele Espirito, com o qual Lucia dialogava a beira do lago. E o Espírito lhe fizera mesmo advertências íntimas. Lord Arthur era o assassino reencarnado do Espírito, que vagava ainda pelos jardins do castelo. A tragédia ocorrera cem anos antes , por volta de 1560.
O casamento se realiza, a contragosto de Lucia e enorme amargura de Edgard, desconhecedor das Leis de Ação e Reação e de Causa e Efeito. Na noite de núpcias acontece outra tragédia: Lúcia mata Lord Arthur, para assombro dos familiares e de muitos convivas, ainda no castelo, quando jovem entra no grande salão em total desequilíbrio. “Esta louca, completamente louca”, gritam todos. Ninguém compreendia o drama que acontecia no mundo psíquico de Lucia. Uma cena forte, conhecida pelos amantes do belo-canto como “a cena da loucura”. Lúcia balbucia palavras sem nexo, dialogando com alguém invisível, com o olhar fixo em algo que ninguém via, entra em violenta convulsão e tomba para não mais se erguer.
Entra Edgar, avisado que fora da tragédia, e desafia o irmão desnaturado de Lúcia para um duelo, no que é contido por um sacerdote, que grita: “Embainha a tua espada, pois quem com ferro fere com ferro será ferido!”, recordando a advertência de Jesus a Simão Pedro.
O poeta Cammarano, autor do “libreto”, foi, sem dúvida, portador de dons mediúnicos, e a música de Donizetti embalou, com sua beleza, a ópera que representa, como não reconhecer, vigorosa mensagem para a Humanidade.
Giovanni Scognamillo – Serviço Espírita de Informações – Boletim Semanal.