O NOVO GÊNESIS

O livro do Gênesis é o primeiro de toda a Bíblia. Ele narra o início de tudo. Deus cria o universo, com tudo o que ele contém. A redação definitiva do texto do Gênesis foi feita no Exílio Babilônico dos judeus, cerca de 600 anos antes de Cristo. Isto significa que ele não podia ter a mesma compreensão do universo como nós a temos hoje. Mesmo assim, o seu texto é maravilhoso, cheio de beleza e grandiosidade. Deus é o Senhor do mundo, nada no universo existe sem Ele. Destaque especial é atribuído à terra, o paraíso em que Deus colocou o homem. E esta terra Deus a entregou ao homem para que a cultivasse e a tornasse favorável para o seu bem-estar. O homem será o jardineiro desta terra, pois o seu dono continuará sendo Deus, que com seu Espírito renova constantemente a terra. Mas, no decorrer da história, muitas vezes, a humanidade se esqueceu de que a terra não lhe pertence, ela é um dom que Deus lhe emprestou. E o homem começou a abusar da terra. Em vez de cuidar dela como se fosse sua mãe, abusou dela. E esta situação de abuso está ocorrendo de forma intensa em nosso tempo. Por isto, a preocupação de muitas pessoas, instituições e ONG’s comprometidas com a salvaguarda da criação. E, mesmo que estas pessoas não estejam agindo apenas em nome da fé, elas, sem dúvida, estão agindo no Espírito do Deus da Vida. Neste sentido, o Novo Gênesis de Robert Müller, assessor da ONU, pode ser lido, e assumido em sua vida, por qualquer um que se sinta motivado em zelar pela natureza e pela vida em plenitude. Eis, a seguir, o belo texto do Novo Gênesis de Robert Muller:

E Deus viu que todas as nações da terra, negras e brancas, pobres e ricas, do Norte e do Sul, do Oriente e do Ocidente, de todos os credos, enviavam os seus representantes a um grande edifício de cristal às margens do rio do Sol Nascente... para estudarem juntos, pensarem juntos e juntos cuidarem do mundo e de todos os seus povos.

E Deus disse: “Isto é uma coisa boa!”

E foi este o primeiro dia da nova era da terra.

E Deus viu que os soldados da paz separavam os combatentes das nações em guerra, que as diferenças eram resolvidas pela negociação e com a razão, e não mais com as armas. E que os líderes das nações se encontravam, trocavam ideias, e uniam seus corações e suas mentes, as suas almas e seus esforços em benefício de toda a humanidade.

E Deus disse: “Isto é uma coisa boa!”

E foi este o segundo dia do planeta da paz.

E Deus viu que os seres humanos amavam a totalidade da criação, as estrelas e o sol, o dia e a noite, o ar e os oceanos, a terra e as águas, os peixes e os pássaros, as flores e as plantas, e todos os seus irmãos e irmãs humanos.

E Deus disse: “Isto é uma coisa boa!”

E foi este o terceiro dia do planeta da felicidade.

E Deus viu que os seres humanos eliminavam a fome, a doença, a ignorância e o sofrimento em todo o globo, procurando para cada pessoa uma vida decente, consciente e feliz, reduzindo a avidez, a força e a riqueza de poucos entre eles.

E Deus disse: “Isto é uma coisa boa!”

E foi este o quarto dia do planeta da justiça.

E Deus viu que os seres humanos viviam em harmonia com seu planeta e em paz com os outros, gerindo seus recursos com sabedoria, evitando os esbanjamentos, refreando os excessos, substituindo o ódio pelo amor, a avidez pela sobriedade, a arrogância pela humildade, a divisão pela cooperação, e a suspeita pela compreensão.

E Deus disse: “Isto é uma coisa boa!”

E foi este o quinto dia do planeta de ouro.

E Deus viu que as nações destruíam suas armas, bombas, mísseis, naves e aviões de guerra, desativando suas bases, desmobilizando seus exércitos, limitando-se a manter uma polícia de paz para proteger os bons dos maus, e os normais daqueles que se comportam de modo insano.

E Deus disse: “Isto é uma coisa boa!”

E foi este o sexto dia do planeta da razão.

E Deus viu que os seres humanos restabeleciam Deus e a pessoa humana como o Alfa e o Ômega, reduzindo instituições, credos, políticas, governos e todas as entidades humanas a simples servidores de Deus e dos povos. E Deus viu-os adotar uma lei suprema: ama a Deus do universo com todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua mente e com todas as tuas forças. Ama o teu belo e milagroso planeta, e trata-o com infinito cuidado. Ama os teus irmãos e tuas irmãs humanos como amas a ti mesmo. Não há outros mandamentos maiores do que estes.

E Deus disse: “Esta é uma coisa boa!”

E foi este o sétimo dia do planeta de Deus.

Este poema de Robert Muller pode ser ampliado por cada um de nós. Serve, ao menos, de inspirador para que enriqueçamos o texto bíblico sobre a criação no Gênesis. Pois, Deus continua enviando seu Espírito para renovar a face da terra (cf. Sl 104,30). Assim o Gênesis bíblico não seria apenas um poema de 3.000 anos atrás, com uma visão do mundo mítica.

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Inácio Strieder é professor de filosofia e teologia - Recife