A MULHER NAS RELIGIÕES
1. A mulher no Cristianismo:
Segundo a teologia cristã fundamental, enunciada pelo Apóstolo Paulo, “Não há mais homem e mulher; todos vós sois um em Cristo Jesus” (Carta do Apóstolo Paulo aos Gálatas, capítulo 3, versículo 28 – Gl 3,28). Este enunciado de Paulo, considerado pelo cristianismo como inspirado, significa que no Cristianismo se transcende a questão dos sexos, e num sentido teológico puro (teórico) homem e mulher são absolutamente iguais, podendo, em princípio, exercer qualquer função dentro da Igreja cristã. E por que na prática isto não acontece? Diz-se: por causa da tradição. Jesus somente teria escolhido homens para serem apóstolos. Os apóstolos não teriam ordenado mulheres para serem presbíteras (padres!), mulheres não teriam sido eleitas para epíscopos (bispas!), etc... Portanto, num sentido prático, não teológico, o que diferencia homens e mulheres no Cristianismo é fruto da tradição, de circunstâncias históricas e, por que não denominar tudo isto como fruto de preconceitos em relação à mulher? No entanto, se olharmos para a prática dos apóstolos, no primeiro século de nossa era, constatamos que havia mulheres diaconisas, mulheres profetas, mulheres catequistas, e mulheres líderes de comunidades, ao menos nas regiões onde o Apóstolo Paulo missionava. Portanto, no cristianismo, teologicamente não existe argumento que impeça que as mulheres exerçam qualquer função dentro da Igreja cristã. Homens e mulheres doutrinariamente têm a mesma dignidade e podem exercer as mesmas funções. Circunstâncias acidentais históricas, culturais, étnicas... fizeram com que se instaurassem diferenciações. E estas circunstâncias um dia poderão se modificar. E em algumas igrejas já se modificaram aspectos deste mofo histórico. Em outras o mofo ainda permanece. Vejamos:
A mulher na Igreja Católica:
Na prática, a mulher na Igreja católica não pode aspirar aos cargos mais elevados na hierarquia da Igreja. Somente ocupa posições subalternas: pode ajudar ao padre a distribuir a comunhão (o que nem é permitido por todos os bispos!), ser catequista, ser secretária da igreja, limpar e enfeitar as igrejas: as irmãs religiosas(freiras) devem ter um homem (padre), geralmente indicado pelo bispo da região, para ser orientador espiritual e confessor das mesmas. Portanto, em relação ao poder, as mulheres na Igreja Católica ocupam um lugar subalterno e de submissão. Em princípio há uma desconfiança originária em relação ao trabalho da mulher, por parte da hierarquia masculina, sempre se está na expectativa de que não se pode confiar na mulher, um dia fará besteira.
Mesmo assim, o que de certa forma é paradoxal, quem instrui os homens na religiosidade, desde o nascimento, são as mulheres como mães, como catequistas, como animadoras da vida religiosa das paróquias. Sem as mulheres o catolicismo não teria a dinâmica que demonstra em muitas de suas atividades pastorais, sociais e culturais. O Brasil não seria o maior país católico do mundo sem as mulheres, que, por exemplo, no Brasil-colônia instruíam os escravos na prática e doutrina cristãs. Os homens, muitas vezes, apenas possuem a compreensão religiosa que aprenderam nos joelhos de suas mães. A hierarquia masculina da Igreja sabe disto. Mesmo assim não cede a uma participação plena da mulher na organização hierárquica de funções.
Novamente, num sentido teológico teórico, nada se deveria exigir diferentemente dos homens e das mulheres no que se refere à pureza de vida e à prática religiosa. Na prática, no entanto, se exige da mulher atitudes que deveriam corresponder ao que se imagina ter sido a vida da Mãe de Jesus, a Virgem Maria: pura, casta, submissa, dona de casa, doméstica, calada. Assim se propõe: que a mulher se cale na Igreja (ela não deve fazer homilias); a mulher deveria usar véu na Igreja (pois assim ela encobre sua beleza, que poderia ser tentação para os anjos e os homens); que a mulher seja submissa a seu marido, seja reservada mãe-de-família, preferivelmente cuidando da casa. Por isto, durante séculos, as mulheres, também na Europa, em quase sua totalidade permaneciam analfabetas, não tinham profissão fora de casa. O que, com toda certeza, era um equívoco, inclusive para uma sã teologia cristã.
Para legitimar certas restrições às mulheres se argumentava que fora Eva que induzira Adão ao pecado, que motivou a expulsão da humanidade do Paraíso. Em outras palavras, isto significava que as mulheres eram culpadas pelos males, de toda ordem, existentes na humanidade. A partir desta ideia, a mulher era vista como um perigo para homem, ela induzia o homem ao pecado; na questão sexual, ela era a prostituta (o homem nunca foi denominado de prostituto!); as bruxarias, pactos com o demônio teriam sido mais frequentes entre as mulheres, dali terem sido reprimido mais as mulheres como autoras de bruxarias. Claro, também houve homens condenados por bruxaria na Idade Média.
A mulher nas igrejas evangélicas:
A presença da mulher nas igrejas evangélicas é muito diversificada. Na igreja luterana, a mulher do pastor geralmente assume uma função de liderança na comunidade. Auxilia seu marido na pastoral. Hoje em dia, inclusive, há pastoras, diaconisas na Igreja Luterana.
Nas igrejas presbiterianas (fiéis a Calvino), a mulher não participa da administração suprema da igreja. Isto está reservado ao conselho de presbíteros, que todos devem ser homens.
No anglicanismo, existe hoje um conflito, quase de cisma, em que alguns grupos admitem a ordenação da mulher para todos os cargos hierárquicos. Outros grupos não admitem isto. Num sentido originário, continuaram , mais ou menos com a tradição da Igreja católica. Embora, pastores e bispos não precisassem ser celibatários. O que já é muito, pois isto supõe admitir que a mulher não necessariamente representasse um perigo para a pureza da fé e do culto do pastor.
Nas igrejas evangélicas mais recentes, cada uma vai se institucionalizando de acordo com certas circunstâncias locais. Se existem líderes femininas nas comunidades, elas, geralmente, conquistam mais poder e participação na igreja. Mas, de fato, se vê na mídia (TV especialmente) que também nestas igrejas recentes, os pregadores (pastores) geralmente são do sexo masculino.
2. As mulheres no Islamismo
No islamismo a presença da mulher na religião corresponde às tradições machistas da cultura semítica. Esta tradição machista semítica também se encontra no Antigo Testamento, pela qual o judeu apenas inicia a sua celebração nas sinagogas quando um determinado número de homens está presente. Se não estiverem os homens, mesmo que tenha centenas de mulheres, o culto não se realiza.
No islamismo, a mulher permanece no fundo da mesquita durante as celebrações. Todo o culto é celebrado pelos homens. As mulheres se cobrem até os pés. Em comunidades fundamentalistas devem usar burca. O homem pode ser poligâmico, a mulher deve ser monogâmica e fiel ao marido. Se for infiel, até pode ser apedrejada. A mulher que engravida solteira, é discriminada e até apedrejada.
Há dois anos viajei ao Egito com minha filha, que é promotora de justiça no Brasil. Ao sair do aeroporto do Cairo devíamos assinar uma ficha. Dei a minha filha para assinar, mas não foi permitido, pois esta ficha só poderia ser assinado por homens. Isto no Egito, que é um país constitucionalmente leigo. O que, então, dizer de países em que o governo é politicamente teocrático, de acordo com o Islão?
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Inácio Strieder é Profesor de Filosofia - Recife