A loucura de Esaú
A Bíblia narra a história de um camarada chamado Esaú. Ele era o filho mais velho dos gêmeos de Isaque e Rebeca (Gn 25.27) e era também o filho favorito de seu pai (VV. 27,28). Como irmão mais velho, Esaú era o herdeiro de tudo que pertencia a seu pai. No entanto, Esaú era um camarada que não levava as coisas a sério, para ele, os problemas da vida podiam ser resolvidos facilmente.
Certo dia ao voltar da caça, cansado e faminto, ele encontra Jacó, seu irmão, cozinhando. O aroma era tão sedutor e a fome tão grande que numa atitude típica dele, viu tudo de uma maneira exagerada: qual seria a utilidade do direito de filho mais velho se morresse de fome? (Gn 27.29-34). Seu modo de enxergar as coisas e sua fome o levou a trocar seu direito de primogênito por um prato de ensopado de lentinha (Gn 25. 34). Um acontecimento aparentemente frívolo, mas que teve consequências irreversíveis, visto que ele trata o precioso dom da primogenitura como algo sem nenhum valor.
Mais tarde quando Esaú procura seu pai para ser abençoado, já não lhe restava bênção alguma, afinal, ele a tinha concedido a seu irmão. A Bíblia diz que quando ele percebeu o que havia feito só lhe restou chorar em alta voz (Gn 27. 38). Esaú tinha em suas mãos o direito de ser chefe de toda a casa de seu pai, agora está condenado a ser escravo (Gn 27. 37,39-40). E tudo por causa de um estômago faminto.
Qual foi a loucura de Esaú? Trocar de maneira tão desprezível seu direito de primogenitura levado por um apetite carnal e momentâneo e viver como se não existisse vida eterna e nem valores absolutos. Esaú era um cara que só pensava no aqui e agora. Suas necessidades ditavam suas ações. O autor da carta aos Hebreus no capítulo 12 versículo 16 o chama de imoral e profano, ou seja, um escravo dos desejos sensuais e temporais.
Esaú morreu há muito tempo, mas sua loucura vem se propagando ao longo dos anos. Hoje mesmo, muitas pessoas estão loucas como Esaú. Vivem como se não existissem nada para além do que vivemos aqui. Não existem limites para saciar a fome. O prato mudou, mas a fome continua a mesma. Para saciar sua fome alguns se entregam a bebidas, drogas, sexo, baladas e muitas outras coisas que são agradáveis ao paladar, atraentes aos olhos e desejáveis a mente (Gn 3.6).
“Nada a ver” é o que mais se ouve hoje em dia. “Nada a ver” tomar uma bebidinha aqui e outra ali. “Nada a ver” fazer sexo antes do casamento. “Nada a ver” ficar com pessoa do mesmo sexo. “Nada a ver” não guardar o sábado. “Nada a ver” pra isso, “nada a ver” para aquilo e assim ao mal chamam de bem e ao bem chamam mal (Is. 5.20). Loucos como Esaú que preferem o que é efêmero ao que é duradouro.
Matar a fome, curtir a vida, chutar o balde, tudo isso é muito bom e satisfatório, sem sombra de dúvidas. Esaú com toda certeza se satisfez com o prato de lentilha, no entanto, as consequências desse pequeno momento de prazer foram permanentes. O autor da carta aos Hebreus segue dizendo que quando Esaú “quis herdar a benção, foi rejeitado; e não teve como alterar a sua decisão, embora buscasse a bênção com lágrimas” (v.17). Pois é, quando Esaú acordou de sua loucura já era tarde demais. E para muitos “loucos” de hoje será tarde demais.
Lembro-me da frase do filme Gladiador que diz que “o que fazemos em vida, ecoa na eternidade”. Louco é aquele que pensa apenas em 5 minutos, supervalorizando momentos efêmeros, em detrimento dos momentos eternos, sem se dar conta que às vezes curtir a vida pode encurtar a vida.