Eco-feminismo
         A cada ano a humanidade celebra o dia internacional da mulher. Aparentemente a condição feminina na sociedade ainda não foi radicalmente transformada. Estatísticas demonstram que, apesar de leis mais claras e até de uma Secretaria especial da Presidência da República para as mulheres, estas ainda continuam sendo objeto de abusos e violências. Infelizmente, as religiões que deveriam ser instrumentos de humanização e justiça, quase todas têm sido elas mesmas injustas com as mulheres. Desenvolveu-se e arraigou-se uma visão patriarcal de Deus e da fé. Por isso, discriminam a mulher no acesso aos ministérios. No Judaísmo, são raríssimas as mulheres rabinas. No Islã, os imãs são homens, no hinduísmo não existem mulheres reconhecidas como lamas (gurus). No Cristianismo, as Igrejas Orientais e a Romana não aceitam o sacerdócio feminino. Somente nas religiões de matriz africana, as mulheres sempre tiveram um papel importante. Vários templos do Candomblé são chefiados por Ialorixás ou mães de santo, reconhecidas em suas comunidades como sacerdotisas.
         Entre todas as grandes mudanças sociais que caracterizaram o século que passou, o feminismo foi, sem sombra de dúvida, uma das principais conquistas da sociedade. Sou de opinião que foi a maior revolução pacífica de nossa história recente. O feminismo nasceu fora das religiões, transformou a democracia e os direitos humanos individuais e coletivos. Incluiu as mulheres como sujeitos e protagonistas de sua história e da libertação da terra e da humanidade. O feminismo surgiu na sociedade civil, mas acabou contagiando as comunidades religiosas das principais tradições espirituais. O Catolicismo, por exemplo, elevou à condição de Doutoras da Igreja a Catarina de Sena, Teresa de Ávila e Teresa de Lisieux (título concedido pelo papa a santos escritores que se destacaram por sua sabedoria e ortodoxia).
         Apesar da marginalização injusta que as mulheres têm sofrido por parte da maioria das religiões, elas formam a maioria dos fiéis e assumem a responsabilidade maior da coordenação. No Brasil, ainda que não sejam reconhecidas como ministras, muitas comunidades são chefiadas e animadas por mulheres. Certamente, por isso, nas últimas décadas, em todas as religiões e especialmente nas igrejas cristãs, tem se desenvolvido uma genuína teologia feminista que ressalta a profecia da mulher nas igrejas e no mundo.
         A teologia feminista parte das experiências de sofrimento, lutas e resistência das mulheres contra o patriarcado. Reescreve a história das religiões e da espiritualidade a partir da perspectiva de gênero, dando voz e protagonismo às mulheres. Criou o eco-feminismo que liga à luta pela libertação da mulher à opressão que tem sofrido a terra e a natureza. A teologia feminista da libertação tem dado uma contribuição inédita à caminhada da fé no meio do povo, ao revelar que a luta pela libertação tem de passar pela superação do patriarcado para suscitar uma verdadeira relação de gêneros na luta por um mundo novo e melhor.
         Durante a semana da mulher desse ano, o Congresso Nacional deveria ter discutido e votado o novo Código Florestal que anistia fazendeiros que desmataram onde não podiam e entre outras aberrações, diminui a área preservada que era de 15 metros de cada lado dos rios e fontes. Agora passaria a ser de apenas cinco metros. Sem esse código aprovado, a Amazônia perdeu somente em 2011, 207,6 Km² de floresta. Os números são do Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). E nos últimos meses, tem registrado 113,61 Km² de derrubadas e queimadas. Como se pode aprovar um código que piore essa situação?
         A floresta Amazônica necessita de uma edição própria da Lei Maria da Penha.