Sobre padres e pastores
O mundo não é mais que um perene movimento e é nos braços deste movimento que minhas esperanças acreditam em coisas que não podem cessar. Dentre essas coisas, enumero a pastoral cristã, sua ação social, os sacramentos, a filosofia, a ética, a educação, a justiça do Evangelho. Digo essas coisas porque acabo de celebrar, num assentamento para sem terras a liturgia da Palavra de Deus. Após a leitura do Evangelho, como de costume, balbuciei a sentença: “Palavra da Salvação”, e, em resposta, silêncio. Meditei por um momento, depois disse: “Glória a Deus”, e, então, todos disseram: “Glória. Aleluia”. Com efeito, esta é uma saudação evangélica que, hoje em dia está semeada em toda parte, por vezes difundindo interesses, em detrimento dos que, por profissão, ganham com isso.
A cultura evangélica que está sendo plantada em nosso país, longe de ser uma educação, aproxima-se de um comércio, seus pastores falam e ensinam coisas de seu maior interesse ou para agradar aos fanáticos a quem se dirigem; ou para agradar os grandes, assim como o vendedor procura agradar seu cliente. Variando muito os discursos que devem distanciar-se de suas consciências, estes pastores hodiernos cumprem em unificar por igual a linguagem da religião e até alguns padres já aderiram a este método sem conteúdo ou propósito, que chega a dizer da mesma coisa que esta ora é de Deus e ora é de Satanás.
Estes auditores, sem talento inventivo, comunicam tais dizeres contraditórios, sem nem uma pureza, e, além disso, ou daquilo, por imprudência, deixam escapar, qual os mentirosos que são flagrados pela contradição de suas próprias mentiras, os seus próprios erros morais e interesses econômicos. Tenho visto certas pessoas invejarem essas habilidades, sem perceberem que dessa reputação não se tira nem um proveito.
Em verdade, fazer da religião um comércio é um vício odioso. Somente pela palavra é que somos homens e nos entendemos. Usar da palavra para enganar é um erro e uma falta de respeito ao próximo. Sem mais detalhes, se esses líderes religiosos compreendessem o horror e o alcance maléfico da mentira, contra ela pediriam o suplício da língua que, com menor razão, eles aplicam a outros membros de nosso corpo por outros pecados. Mas, isso, nos deixaria sem pregadores.
A religião de mercado deveria ser combatida desde cedo, pois as crianças de hoje com ela crescem e se desenvolvem e será bem difícil extirpá-la quando esse vício se transformar em hábito. Parece, portanto, que nos dias de hoje, na sua maioria, pastores e padres, erradamente, compreendem a sociedade em que vivemos, a origem do mal e outras dificuldades. Eles empregam os mesmos discursos com o mesmo tom de voz, sem contudo, nada dizer. Seus antepassados, outrora, foram considerados sábios, desgarrados e audaciosos, hoje, encontramos padres e pastores ambiciosos, voluptuosos e encarniçados por poder. Entre nós, é o que se verifica, infelizmente.
É certo que na Igreja Católica os padres têm duas funções teológicas; uma sacerdotal, outra presbiteral. Razoavelmente o magistério da Igreja explica que a razão de ser de um não anula o outro. O certo é que, a Igreja de Bento, o XVI, procura desconciliar os dois ofícios, trazendo para o campo de ação da Igreja Católica padres sacerdotes. Homens voltados ao culto, sem consciência social nem interesses pastorais, gente que não somente crê na infalibilidade papal como tremem perante a hipótese de serem punidos em seus privilégios, ou nas suas pessoas e bens.
Mas já assim, sobre padres e pastores, penso que esse tipo de religiosos, muito perigosos, acabarão jogando os cristãos e o cristianismo em pântanos. Mas, que conclusão devemos tirar de tudo isso? Que padres e pastores são homens monstruosos e perniciosos? Que embora pregando o evangelho difundem um funesto fanatismo que é quase sempre fatal para o próprio sentido do Evangelho? Acrescenta-se, principalmente, que hoje há menos padres e pastores verdadeiros do que nunca?
A verdade é que, além desses gentios que se averberam e são chamados de padres e pastores, vários outros, de mesmo nome, sem freio algum, céticos dessa moda, adiam o seu juízo a respeito disso tudo e esperam momentos propícios para persuadirnos do que trazem nos seus corações. Estes homens, cavaleiros do Evangelho, autênticos cristãos, estão calados. Mas, POR QUÊ?