SÍMBOLOS RELIGIOSOS
O filósofo e antropólogo alemão Ernst Cassirer ensina que o homem deveria ser definido preferencialmente como “animal simbólico”, e não como “animal racional”. Pois são os símbolos que caracterizam a sua cultura. E estes símbolos encontram-se nos mitos, nas religiões, na linguagem, na arte e na história. Todos os povos, etnias, culturas e organizações em geral revelam sua identidade através de símbolos. Cada país possui uma bandeira, como símbolo nacional; clubes são representados simbolicamente por suas flâmulas; alianças são símbolos conjugais; a cruz é o símbolo máximo do cristianismo; muitas imagens são vistas como símbolos. Há poucos dias, Recife e outras cidades de Pernambuco foram percorridas pelos símbolos da cruz e de um ícone de Nossa Senhora para avivar a fé , especialmente, dos jovens católicos, em vistas à preparação do Encontro Internacional da Juventude Católica no Rio de Janeiro em 2013. Interessante, tais símbolos são capazes de agrupar ao seu redor milhares de pessoas. Repara-se, assim, que o símbolo não é mais simplesmente um objeto material, mas é significativo. E isto é, justamente, o essencial dos símbolos: representam conteúdos significativos. Assim, quando se trata dos símbolos religiosos eles lembram ao fiel aspectos de sua fé, de seus valores, de seu modo de vida. Tudo isto revela que o símbolo não pertence mais somente ao mundo físico, contudo também não é simplesmente transcendente. O símbolo constrói como que uma ponte entre o mundo material e o mundo transcendente e espiritual. Dali as emoções, os sentimentos e significados que sua presença suscita. Isto vale não somente para os símbolos religiosos, mas também para os símbolos civis, ou de qualquer outra categoria. Os símbolos são como que elos que ligam os mitos, as religiões, as linguagens, as artes e a história. Todas estas manifestações humanas apenas são compreensíveis quando deciframos as suas expressões simbólicas. Interessante é que, na história, já aconteceram conflitos, e até guerras, por causa do desrespeito a símbolos. E ainda hoje, nem todos os símbolos são publicamente autorizados nas sociedades. Por exemplo, desde o movimento do Iluminismo e, especialmente, a partir da Revolução Francesa, há questionamentos e polêmicas em relação à presença de símbolos religiosos em repartições públicas de governos, ditos como laicos, com separação entre as igrejas e o Estado. Esta polêmica, há algum tempo, também criou força no Brasil, onde grande parte das repartições públicas ainda está “enfeitada” com o crucifixo. Uma ala laica de nossos políticos, e mesmo cristãos evangélicos, gostariam que se banisse não só o crucifixo das assembleias, dos tribunais, das delegacias, das agências bancárias, etc. O que dizer disto? Penso que, de fato, seria melhor tirar os símbolos religiosos de assembleias que não cuidam de fazer leis justas; de tribunais que não julgam com justiça e igualdade os ricos e os pobres; de delegacias que torturam presos; de prisões desumanas; de agências bancárias, que praticam a agiotagem, etc. O que admira é que há movimentos contra os símbolos religiosos, mas, ao mesmo tempo, se permite por toda a parte os símbolos das mais diversas alienações ideológicas, capitalistas ou não.
Inácio Strieder é Professor de Filosofia - Recife-PE