As dimensões do Pecado
Primeiramente temos a dimensão do pecado enquanto alienação de Deus. O homem alienado de Deus é o homem que se encontra longe e alheio do Senhor. Este homem sendo “criatura de Deus”, mas não “filho de Deus”, transformar-se num estranho. No pecado, o homem, criado à "imagem e semelhança de Deus", para evitar a dolorosa sensação de orfandade que esta falta de comunhão produz, recorre à negação e torna-se um duplo ateu, porque não tem Deus e porque o nega.
A segunda dimensão do pecado é a alienação do irmão. O distanciamento, o conflito, os ódios raciais, a luta de classes, as guerras "frias" e todo tipo de opressão, são resultados desta alienação. Vemos no relato de Gênesis, com Adão e seus descendentes, que o pecado produziu o efeito de distanciar os homens até o ponto de colocá-los uns contra os outros. Vemos uma descendência direta entre a “alienação do próximo” e a “alienação para com Deus”, uma vez que esta última é a alienação principal, da qual brotam todas as outras. "Se não existe Deus, tudo é permitido", disse um personagem de Dostoievski. A rebelião do homem contra Deus foi a comporta que se abriu dando passagem a todos os males humanos.
A segunda dimensão do pecado é alienação para com a natureza. O homem, antes de seu pecado, devia lavrar e guardar o Éden (Gn 2.15), uma tarefa agradável e gratificante. Tratava-se de transformar toda a terra num jardim semelhante ao que Deus havia plantado (Gn 2.8,9). Este é o sentido do domínio que o homem deve exercer sobre a natureza, mas o pecado de Adão produziu uma conseqüência imprevista com um duplo aspecto. Adão foi expulso do Éden "para lavrar a terra, de que fora tomado" (Gn 3.23), e em segundo lugar a terra se lhe tornou hostil: "maldita é a terra por tua causa; em fadiga comerás dela todos os dias da tua vida. Ela te produzirá espinhos e abrolhos; e comerás das ervas do campo. do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, porque dela foste tomado; porquanto és pó, e ao pó tornarás" (Gn 3.17-19). Desta maneira, diz a Bíblia, pelo pecado de Adão, o que devia ser uma experiência feliz tornou-se numa frustração. Hoje, o homem continua sentindo-se, mais amo e senhor da terra do que administrador ou mordomo da criação de Deus. O resultado desta falsa perspectiva é o que preocupa a posteridade, resultado que se expressa sob as alcunhas de “contaminação ambiental”, “esbanjamento dos recursos renováveis e dos não-renováveis”, “alterações climáticas”, “acúmulo de lixo” e, recentemente, “acumulo de resíduos do uso da energia nuclear”.
Por fim, como última dimensão a ser abordada, temos o pecado enquanto alienação do homem consigo mesmo. Esta alienação do homem para consigo mesmo é o resultado das outras alienações. O fato de ter rompido as relações com Deus, de achar-se constantemente em rivalidade com os outros, e o de viver em um ambiente contaminado e conturbado, faz do homem um ser com motivações deformadas e com diversos complexos de culpa. Sua vida deixa de ser um projeto bem traçado, que o faça gostar da realização pessoal de metas alcançadas, para se tornar uma busca desordenada de progresso e auto-realização, segundo padrões traçados pela sociedade e não por valores cultivados por si mesmo. A felicidade e a paz interior se encontram cada vez mais distantes e inacessíveis. Este ser, alienado de si mesmo, é o resultado mais evidente do pecado.