A única resposta que posso dar
Sempre me disseram que o ministério pastoral tem muitas dificuldades. li em livros sobre o assunto que muitas são as demandas que necessitam ser atendidas. Tenho apenas dois anos na caminhada pastoral, mas já descubro qual dentre essas demandas será a mais difícil pra mim. Não me incomoda tanto as exigências institucionais, ou lidar com uma geração secularizada cheia de marra que acha que sabe tudo da vida. Não tenho tanto problema em lidar com os mais velhos que vêem com desconfiança o vigor da juventude e tentam sempre manter as coisas da mesma maneira que eram em seu tempo, sem perceberem que a vida é dinâmica. Não, o que será, e já é, mais difícil pra mim são as visitas.
Uma das minhas atribuições como pastor é promover e zelar pelo bem estar espiritual e emocional de “minhas” ovelhas. No entanto, enquanto me preocupo em fazê-lo da melhor maneira possível me deparo com situações em que as pessoas esperam de mim mais do que eu posso dar. Nesses meus dois anos já tenho lidado com perguntas que me dão um nó na garganta. Ontem foi um dia em que uma dessas perguntas me encontrou. Visitei uma senhora que me apresentou o dilema que carrega em seu coração. Emocionada e profundamente triste com o aniversário da morte de duas de suas filhas ela me pergunta: “Pastor por que Deus levou minhas duas filhas e não eu? Por que ele me deixou chegar até aqui vivendo com a dor da ausência de minhas filhas que se foram tão novas?”. Meu grande problema no ministério são perguntas como essa.
Geralmente as pessoas se achegam a mim com suas inquietações como se eu tivesse todas as respostas. O mais dolorido é que elas se achegam, pois realmente esperam que eu possa aliviar a angustia do não saber por que estão sofrendo. Uma avó que me pergunta por que sua neta sofreu paralisia cerebral durante o nascimento a deixando deficiente. Uma mãe que não se conforma com o autismo de seu filho. São porquês que me perseguem. Porquês que eu também carrego comigo. Não são poucas as vezes que me pego perguntando por que meu sobrinho está condenado a viver morrendo por causa de uma doença degenerativa, que o está matando a cada ano que passa. Às vezes tenho vontade de dizer às pessoas que sou teólogo e não Deus.
Eu já não tento mais responder a essas perguntas. E também não me coloco como advogado de Deus diante do sofrimento. A única coisa que sei é que nem sempre saberemos o porquê. Mas me conforto em saber que Jesus tem compaixão (sofre com) dos que sofrem. A única resposta que posso oferecer a tais questões é a resposta do consolo. E até hoje a única resposta que tive as minhas indagações foi o consolo. Concordo com uma frase que li que diz que “uma das punições de quem vive sem Deus é sofrer sem consolação.” Ontem só pude abraçar aquela senhora e deixar que suas lágrimas caíssem em meu ombro. Só pude segurar a mão de uma filha chorosa diante da cama do pai que está na UTI. Só posso oferecer o consolo diante do sofrimento humano. Assim eu entendo que a resposta de Deus ao sofrimento humano é o consolo. E se é pra sofrer, melhor sofrer recebendo consolo.