Um senador da República teve o mau gosto de citar, no encerramento de uma das sessões uma surrada anedota religiosa sobre Nossa Senhora. Ninguém obriga um possível candidato à presidência da República a ser católico, mas seria de esperar que começasse por respeitar a religião dos outros. Mas, para sermos honestos, devemos reconhecer que muitos que se pretendem católicos, e o são talvez de coração, confundem freqüentemente dois dogmas diferentes: o da Imaculada Conceição e o da Virgindade de Maria. Escrevo sobre isso porque os católicos celebram no dia 8 de dezembro o dogma da Imaculada Conceição, o do mistério que antecedeu o próprio nascimento de Maria.
A ignorância do que seja realmente a Imaculada Conceição tem raízes muito profundas. Decorre de uma visão diminuída do que há de essencial no Cristianismo, que é a nossa deificação, por assim dizer, decorrente de uma permanente intervenção de Deus em nossa alma, tornando-nos realmente seus filhos. Pois, para a maioria, o cristão é apenas um homem de bem, um homem honesto, um homem que ama o próximo às vezes até ao heroísmo, imitando exteriormente Jesus Cristo. Quando a realidade é outra, não se situando apenas no plano moral.
O homem, por mais perfeito que fosse humanamente, jamais mereceria a vida divina, que excede infinitamente todo mérito. Só podemos possuí-la se nos for dada por Deus, colocada por ele em nossas almas, para que cresça em nós como a semente, até desabrochar na glória eterna. Dom de Deus, essa vida divina em nós, que excede as nossas capacidades e antecipa as nossas ações, recebe com razão o nome de “graça”, isto é, dom gratuito. Com esse dom misterioso, Deus quis ornar nossos primeiros pais, que nos transmitiriam junto com a vida humana, a vida divina. Mas eis que estes perderam tão precioso dom. Não por se terem unido sexualmente, pois Deus os fez homem e mulher para que fossem uma só carne e fonte de vida, mas porque duvidaram que Deus fosse Pai, um pai que quisesse o melhor para eles, e tentaram buscar sem Deus, e contra Deus, a própria felicidade. Foi o pecado a que chamamos com razão “original”, não só por ter ocorrido na aurora da história humana, mas por nos afetar também na origem de cada um de nós, quando começamos a existir no seio materno.
Jesus Cristo, o Filho de Deus, veio ao mundo e se fez homem justamente para se oferecer por nós, como novo (e obediente) Adão, segundo São Paulo, a fim de que pudéssemos obter de novo, por meio dele e do Batismo que nos deixou, a vida eterna. Por isso mesmo, o Batismo não é apenas uma festinha de família nem mesmo um ato de piedade qualquer, mas a maior transformação ou transfiguração que pode ocorrer num ser humano. Passamos a ser filhos de Deus não por metáfora, mas realmente, enquanto não expulsarmos de nós a vida divina pelo pecado mortal.
Ora, com Maria, destinada a ser Mãe do Filho de Deus no seu plano de salvação, passou-se algo de extraordinário. Antecipando para ela os frutos do sacrifício do seu Filho na cruz, Deus quis dar-lhe, desde o primeiro instante em que foi concebida por seus pais num matrimônio comum, aquela graça que só recebemos no Batismo. E por isso o Anjo da Anunciação a chamará “cheia de graça”, por ter sido filha de Deus desde o primeiro instante. E isso, apenas isso (e é tanto!) a Imaculada Conceição: Maria concebida por sua mãe sem o pecado original.
Outro mistério, outro dogma, outro privilégio é a Virgindade de Maria. Pois o Filho de Deus deveria nascer de alguém que se houvesse consagrado inteiramente a Deus, como ocorrera com Maria, a ponto de ter ela declarado ao Anjo o seu voto, ao dizer-lhe: “Não conheço homem!” José deveria, sem dúvida, conhecer o seu voto e aceitou desposá-la, a fim de poder levá-la sem escândalo para sua companhia, provavelmente parentes, descendentes ambos de Davi. A concepção de Maria em relação a Jesus foi virginal, mas não poderíamos por isso, dizê-la “sem pecado”, pois não cometem nenhum pecado o homem e a mulher que se tornam uma só carne no matrimônio, já criado pelo Pai no Paraíso, e tornado um sacramento pelo Filho, que fez aliás seu primeiro milagre, a pedido de sua Mãe, nas bodas de Cana. Maria concebida sem o pecado original, concebeu virginalmente o Cristo, que no-la deu por Mãe.
A mulher na graça reintegrada... Sacou, Senador?
A ignorância do que seja realmente a Imaculada Conceição tem raízes muito profundas. Decorre de uma visão diminuída do que há de essencial no Cristianismo, que é a nossa deificação, por assim dizer, decorrente de uma permanente intervenção de Deus em nossa alma, tornando-nos realmente seus filhos. Pois, para a maioria, o cristão é apenas um homem de bem, um homem honesto, um homem que ama o próximo às vezes até ao heroísmo, imitando exteriormente Jesus Cristo. Quando a realidade é outra, não se situando apenas no plano moral.
O homem, por mais perfeito que fosse humanamente, jamais mereceria a vida divina, que excede infinitamente todo mérito. Só podemos possuí-la se nos for dada por Deus, colocada por ele em nossas almas, para que cresça em nós como a semente, até desabrochar na glória eterna. Dom de Deus, essa vida divina em nós, que excede as nossas capacidades e antecipa as nossas ações, recebe com razão o nome de “graça”, isto é, dom gratuito. Com esse dom misterioso, Deus quis ornar nossos primeiros pais, que nos transmitiriam junto com a vida humana, a vida divina. Mas eis que estes perderam tão precioso dom. Não por se terem unido sexualmente, pois Deus os fez homem e mulher para que fossem uma só carne e fonte de vida, mas porque duvidaram que Deus fosse Pai, um pai que quisesse o melhor para eles, e tentaram buscar sem Deus, e contra Deus, a própria felicidade. Foi o pecado a que chamamos com razão “original”, não só por ter ocorrido na aurora da história humana, mas por nos afetar também na origem de cada um de nós, quando começamos a existir no seio materno.
Jesus Cristo, o Filho de Deus, veio ao mundo e se fez homem justamente para se oferecer por nós, como novo (e obediente) Adão, segundo São Paulo, a fim de que pudéssemos obter de novo, por meio dele e do Batismo que nos deixou, a vida eterna. Por isso mesmo, o Batismo não é apenas uma festinha de família nem mesmo um ato de piedade qualquer, mas a maior transformação ou transfiguração que pode ocorrer num ser humano. Passamos a ser filhos de Deus não por metáfora, mas realmente, enquanto não expulsarmos de nós a vida divina pelo pecado mortal.
Ora, com Maria, destinada a ser Mãe do Filho de Deus no seu plano de salvação, passou-se algo de extraordinário. Antecipando para ela os frutos do sacrifício do seu Filho na cruz, Deus quis dar-lhe, desde o primeiro instante em que foi concebida por seus pais num matrimônio comum, aquela graça que só recebemos no Batismo. E por isso o Anjo da Anunciação a chamará “cheia de graça”, por ter sido filha de Deus desde o primeiro instante. E isso, apenas isso (e é tanto!) a Imaculada Conceição: Maria concebida por sua mãe sem o pecado original.
Outro mistério, outro dogma, outro privilégio é a Virgindade de Maria. Pois o Filho de Deus deveria nascer de alguém que se houvesse consagrado inteiramente a Deus, como ocorrera com Maria, a ponto de ter ela declarado ao Anjo o seu voto, ao dizer-lhe: “Não conheço homem!” José deveria, sem dúvida, conhecer o seu voto e aceitou desposá-la, a fim de poder levá-la sem escândalo para sua companhia, provavelmente parentes, descendentes ambos de Davi. A concepção de Maria em relação a Jesus foi virginal, mas não poderíamos por isso, dizê-la “sem pecado”, pois não cometem nenhum pecado o homem e a mulher que se tornam uma só carne no matrimônio, já criado pelo Pai no Paraíso, e tornado um sacramento pelo Filho, que fez aliás seu primeiro milagre, a pedido de sua Mãe, nas bodas de Cana. Maria concebida sem o pecado original, concebeu virginalmente o Cristo, que no-la deu por Mãe.
A mulher na graça reintegrada... Sacou, Senador?