Sobre os santos da Igreja Católica e o homem hodierno

A realidade das sociedades atuais é complexa. Em todos os âmbitos do cotidiano da difícil vida das pessoas, há sementes desta complexidade. No âmbito religioso e existencial do homem hodierno, fala-se de uma mistura de experiências religiosas e culturais provocadas pela globalização que nivela as diferentes raças, crenças, culturas e línguas, num processo de socialização que tem como fundamento básico o Mercado Econômico. Neste horizonte, o cristianismo é mais uma religião entre outras. Suas doutrinas, para o secularizado homem contemporâneo, não decidem mais qual caminho seguir, já que, em termos de liberdade, tudo nos é permitido, desde que se tenha capital. A espiritualidade se envereda pelo caminho do sincretismo religioso, que mistura as diferentes experiências espirituais, tratando-as de forma amorfa e superficial. Neste atual contexto, surgem as religiões de mercado. A dita pós-modernidade desvincula a experiência religiosa para o campo da sensação intimista e chama a isto de holística, criando, por um lado, nos imbricados e caóticos paradigmas contemporâneos, um pseudo-orientalismo e, por outro lado, faz surgir, um pseudo-pentecostes, fundando no âmago da caminhada humana, um fenômeno religioso denominado por bricolagem, ou seja, o ato de escolher numa prateleira de super mercados o produto que tem na embalagem a proposta mais apetecível.

Por conseguinte, na minha primeira obra, O QUE DIZEM OS SANTOS, onde emitimos um foco sobre o que nos dizem os Santos para os dias de hoje, estamos precisamente diferenciando a fé cristã católica das demais crenças do pluralismo religioso da pós-modernidade. Com efeito, muito se tem discutido sobre o caráter medieval e teocêntrico da personalidade e do pensamento dos Santos da Igreja Católica. A resposta dos autores recentes mais qualificados é a mais óbvia: os Santos foram homens e mulheres de seu tempo. Tempo de reformas, transições e conflitos, no qual, a partir de uma visão de mundo, sob o impacto de novos acontecimentos políticos e culturais, se esboçaram os traços determinantes de novos cristianismos interessados em voltar às suas origens. Neste sentido, é natural, portanto, que a mentalidade dos Santos espelhe o quadro cheio de contrastes das sociedades em que viveram.

Todavia, mais do que refletir passivamente os seus ambientes, eles reforçaram seletivamente certas dimensões da realidade numa síntese criadora, projetando uma imagem que vai concorrer decisivamente para a configuração do futuro da Igreja Católica e das sociedades cristãs da pós-modernidade. Mas, nem por isso, suas figuras complexas de Santos e de personagens históricos de primeira grandeza podem ser interpretadas adequadamente a partir das categorias das contemporâneas sociedades do século XXI. Por isso, decidimos escrever um livro que reunisse o pensamento de diferentes Santos em temas convenientemente apresentados tal qual eles os concebiam e conceituavam. Com efeito, ao mesmo tempo em que o pensamento dos Santos assume alguns traços que caracterizarão posteriormente a civilização hodierna, todos os Santos, redimensionam numa síntese superior esse pensamento que é capaz de orientar os passos do homem contemporâneo para além da própria crise do mundo dito pós-moderno. Daí a atualidade dos Santos e a importância de se compilar suas sentenças numa obra.

Bara
Enviado por Bara em 07/11/2011
Código do texto: T3321537