Escolho a fé e não a razão
O mundo está um caos, ainda mais agora que atingimos a casa dos 7 bilhões. Com toda certeza dentre esses bilhões de habitantes, não são poucos os que estão passando por algum tipo de sofrimento. Basta voltar os olhos para a África e ver o tanto de gente que está na miséria. Mas não precisamos olhar para outro continente é só prestarmos a atenção no cotidiano onde estamos para logo percebermos que a miséria está por todos os lados.
Não atentamos para isso porque já nos acostumamos. Dia após dia vemos e ouvimos todo tipo de horror nos noticiários. Parece que a função de muitos jornais sensacionalistas é sempre nos lembrar o quanto esse mundo está bagunçado. E diante dessa constante lembrança não são poucos os que acabam se lançando nos braços da desesperança. O que é compreensível.
A história da humanidade é uma história pautada pelo sofrimento e mesmo depois de tanto tempo, parece que nada mudou. E embora acreditemos que a luz prevaleça sobre a escuridão, às vezes o Dexter (personagem de uma série de TV com o mesmo nome) parece estar certo ao dizer que a escuridão geralmente vence. Talvez por isso tantas pessoas abandonaram e abandonam a fé, por não conseguirem ver as coisas melhorando, afinal, se Deus existe porque está tudo desse jeito? Para quê orar se oro e oro e nada muda?
Como missionário e teólogo tenho convivido com esse conflito dia após dia. Tenho a frustração de pregar, orar, visitar e não ver os efeitos por mim esperados. Em muitas das vezes eu me questiono se as coisas que prego e acredito não são meros clichês psicológicos para fazer com que os outros se sintam bem. Às vezes eu nem falo por medo de repetir clichês.
Ontem assisti novamente ao filme “O livro de Eli” que retrata a história de um homem (Eli) que vive em um mundo devastado pelos efeitos de uma guerra mundial. E esse homem caminha há 30 anos sempre rumo ao Oeste carregando em sua mochila um livro que tem a missão de proteger, por ser o último exemplar. Essa missão lhe foi dada por uma voz, apenas isso, uma voz. E esse homem caminha determinado enfrentando as dificuldades desse planeta desolado para cumprir essa missão.
Após uma série de acontecimentos, Eli encontra uma garota chamada Solara, a qual passa a segui-lo em sua jornada. A cena que quero destacar aqui é a cena em que Solara começa a fazer uma série de perguntas para Eli sobre a voz que ele ouviu. Ela pergunta para Eli se durante esses 30 anos em que ele esteve caminhando se ele pensou alguma vez que estava perdido. Eli responde que não. Não satisfeita ela pergunta como que ele sabe que está caminhando na direção certa. Um questionamento totalmente lógico já que sua jornada é baseada em uma voz, loucura não? Não para Eli. Transcrevo aqui o ponto chave do diálogo na resposta que Eli da à última pergunta de Solora:
‎" … (Eli) Sou guiado pela fé, não pela visão.
(Solora) – E o que isso (Fé) significa?
(Eli) – Significa que sabe de algo mesmo que não saiba nada.
(Eli) – Não faz qualquer sentido.
(Eli) – Não precisa fazer… é Fé. É uma flor de luz em um campo de escuridão. Está dando-me força para continuar … "
O autor da carta aos Hebreus diz que “a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos” (Hebreus 11.1). Porque eu continuo a falar e a acreditar? Por fé. De certa maneira todos nós somos Eli caminhando em um mundo devastado e também ouvimos uma voz e carregamos um livro. É essa voz e esse livro (Bíblia) que nos dá força para continuar, nenhum dos dois precisa fazer sentido, na verdade eles nem querem. Mas é difícil já que na maioria das vezes nós queremos ser guiados pela visão.
Compreendo então o porquê continuo a acreditar que as coisas irão mudar e que um dia o mundo não será mais essa bagunça que é. E se me perguntarem se acredito mesmo nisso, digo que sim e repito as palavras de Eli: “Sou guiado pela fé, não pela visão”. No entanto, pode ser sim que tudo isso não passe de clichês, que não produzem efeito nenhum, mas prefiro continuar a jornada tendo esperança e acreditando nessa voz, do que ficar no meio do caminho entregando-me a desesperança. Porque se não for para ter esperança em dias melhores para que acordar todos os dias? Para que continuar a jornada? Se não for para ter fé em algo “comamos e bebamos, porque amanhã morremos” (Isaías 22.13; I aos Coríntios 15.32). Mas como não quero morrer continuo caminhando rumo ao Oeste enfrentando todo tipo de sofrimento e mantendo a esperança “porque sei em quem tenho crido e estou bem certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia” (II a Timóteo 1.12).
E creio porque em milhares de anos não fui o único a crer. Mentes mais brilhantes que a minha também creram e creem. Creio também porque até hoje a ciência não descobriu nada que me obrigue a deixar de acreditar. Outra razão porque creio é que acreditando consigo explicar um monte de coisa que se eu não acreditasse não conseguiria explicar. E é justamente minha fé que me dá esperança e a minha esperança que me dá força para levantar todos os dias e continuar minha jornada rumo ao Oeste.