Exercício da Fraternidade: amar, acolher e dialogar

Exercício da Fraternidade: amar, acolher e dialogar

“O Senhor me deu irmãos” (Test 14)

Por: Zilmar Augusto M. de Oliveira

INTRODUÇÃO: O presente texto tem por finalidade, proporcionar-nos uma breve e simples reflexão a cerca da Fraternidade, com o tema: Exercício da Fraternidade: amar, acolher e dialogar. Aqui não serão abordada todos os aspectos relacionados a temática. Refletiremos apenas sob alguns aspectos que consideramos fundamentais para se viver a fraternidade. Desde já, que nossos corações abram-se e neles floresçam o sabor da fraternidade do Reino de Deus.

1. Reunidos em Fraternidade

Partindo da definição oferecida pela nova ortografia do Dicionário Aurélio, Fraternidade é o parentesco de irmãos; amor ao próximo; harmonia, concórdia. Seguindo com nosso próprio conhecimento a cerca do que é fraternidade, podemos defini-la como uma reunião de pessoas de diferentes personalidades e vivência, que vivem unidas por um mesmo objetivo. São homens e mulheres congregados com amizade, comungando das mesmas idéias. Contudo, viver em fraternidade é viver nutridos pelo amor fraternal entre os irmãos.

A leitura a seguir nos aponta a um modelo de fraterna união. A vontade do Pai é que estejamos congregados em seu amor:

“Como o Pai me amou, assim também eu vos mai. Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, como eu também guardei os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor. Disse-vos estas coisas para que minha alegria seja completa. Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos.Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando. Já não vos chamo escravos, porque o escravo não sabe o que faz o seu Senhor. Eu vos chamo amigo porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai. Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi. Eu vos destinei para irdes dar frutos e para que vosso fruto permaneça, a fim de que ele vos dê tudo o pedirdes ao Pai em meu nome. É isto que eu vos mando: que vos ameis uns aos outros.” (Jo 15, 9-17)

Na fraternidade, somos chamados a produzir o amor. Somos convocados a aderir ao projeto de amor aos amigos. Afinal, Jesus é o amigo que dá a vida pelos amigos. Nossa missão enquanto fraternidade é participar alegremente da tarefa comunitária, que consiste no testemunho do amor de Deus que quer nos transmiti e oferecer a vida.

2. A fraternidade e a exclusão

“Eu vos dou um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros. Assim como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros” (Lc 13,34).

Jesus nos deixou este mandamento, essa Lei. A fraternidade é um ambiente propício para por em prática esse amor. Amor esse exprimido na vida de cada dia. Porém, infelizmente, há alguns momentos que não conseguimos viver, transmitir e amar esse amor que jorra da fonte de Deus.

Quando assim agimos acabamos por excluir nosso irmão. E, ao dividir ou deixar de lado esse irmãozinho, que o Pai nos deu, percebemos também que automaticamente estamos indo contra a Lei do Mestre.

Quando gostamos, amamos. É natural que transmitimos nossa estima aqueles que estão mais próximos a nós. Ao meu irmão que não alimento um bom contato, ofereço apenas uma pequena parte de meu sentimento- forma de amar.

Com relação a essa mesma temática, Frei Anselmo Fracasso, ofm, em seu Livro O Desafio de Deus, nos fala da condição de nosso amor pelos outros:

“...É claro que o amor pode ser maior ou menor, de acordo com a proximidade ou motivado pela gratidão em relação aos que nos beneficiam ou segundo a carência ou necessidade do próximo. Podemos dar mais amor aos mais próximos e menos aos mais distantes. Podemos amar mais àqueles a quem mais favores devemos e menos àqueles a quem nada devemos; podemos amar mais os mais carentes, os mais necessitados e menos os que estão em melhores condições de vida. Isto não é nada errado. O erro está na exclusão de alguém. Irmão Cristão é aquele que se esforça para amar ao modo de Deus, sem excluir ninguém”.

Dessa forma, é perceptível como na vida em fraternidade, organizamos nossa maneira de amar. Selecionamos aqueles a quem vamos dedicar nosso amor e, com isso tantos outros acontecimentos e fatos ocorrem baseados nessa maneira de amar.

Nosso amor fraterno deve ser o mesmo para com todos indiferente de seu jeito de proceder. Somos filhos do mesmo Pai; que nos ama com o mesmo amor: amor sem limites.

Para amar a Deus precisamos antes amar a nosso irmão: “Se alguém disser: “Amo a Deus”, mas odiar o seu irmão, é um mentiroso. Pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. Recebemos dele este mandamento: quem ama a Deus ame também o seu irmão” (1Jo 4, 20-21). Entretanto, para conhecer a Deus, necessitamos antes comungar da vida do nosso irmão; conhecer suas fraquezas, limitações, capacidades e bonomia.

Eis aí o nosso desafio: amar com o mesmo amor do Pai os nossos irmãos. Busquemos com todas as nossas forças amar ao nosso próximo. Se assim fizermos estaremos por conseqüência amando também a Deus. No cotidiano da vida fraterna, lembremos, pois, o que nos diz o Mestre: “Quem recebe os meus mandamentos e os observa, esse é quem me ama. Que me ama será amado pelo meu Pai. Eu também o amarei e me revelarei a ele” (Lc 14,21).

3. Fraternidade e Afetividade

Quando falamos em Fraternidade, logo pensamos, pelas entre linhas em amizade; companheirismo; viver como irmãos. Cometemos o deslize de pensar que, meu irmão é aquele que se assenta ao meu lado nas horas da refeição, que trabalha no mesmo serviço no qual trabalho, que possui e partilha dos mesmos pensamentos que gostamos etc.

Se pararmos para pensar, isso não é fraternidade!Não podemos chamar a esse conjunto de ações, fatos e vivencias de fraterno.

Muitas das vezes acabamos por confundir fraternidade com simpatia. Compartilhar dos pensamentos dos meus é mui fácil. Difícil é partilhar e comungar dos pensamentos alheios. Enquanto dialogamos com aqueles que consideramos nosso amigo ou nos simpatizamos, não corremos o risco de sermos apontados como quem discorda do pensar, do falar ou até mesmo do agir do nosso próximo. Contudo, acabamos por confundir amizade com possessão. Começamos a sentirmo-nos dono dos amigos que temos. Acabamos por alimentar um clima de ciúmes bobos. È muito bom termos amigos numa comunidade. Porém, não é saudável alimentarmos uma amizade possessiva. O amigo não é minha propriedade:

“Em todo o relacionamento falta equilíbrio se na houver harmonia entre a inteligência e a afetividade. Em nosso relacionamento deve haver complementaridade entre razão e paixão. Mesmo levando em conta os diversos tipos psicológicos de uma mesma entidade fraterna, todos têm a responsabilidade de manter o equilíbrio entre a cabeça e o coração. As idéias e os valores não devem excluir os sentimentos; ao contrário! A revisão de vida permite uma avaliação periódica de nossa comunicação no seio da fraternidade e com o mundo. Todos os frades devemos ser vigilantes neste tempo”. (todos vós sois meus irmãos 2004).

É comum que num grupo de pessoas haja amigos, colegas, comparsas etc. É muito bom ter amigos: “Amigo fiel é refúgio seguro. Quem o encontra, encontra um tesouro“ (Eclo 6,14). O amigo que temos confiança pode nos ajudar em alguma conversa particular, pode ser força nos momentos incertos.

São Paulo adverte-nos na carta aos Colossenses.

“Vós, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, revesti-vos de sentimentos de carinhosa compaixão, bondade humildade, mansidão, paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente toda vez que tiverdes queixa contra alguém. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai também vós. Mas, acima de tudo, revesti-vos do amor, que é vínculo da perfeição. E a palavra de Cristo permaneça em vós com toda sua riqueza, de sorte que com toda sabedoria possais instruir e exortar-vos mutuamente. Sob a inspiração da graça cantai a Deus de todo o coração salmos, hinos e cânticos espirituais. E em tudo quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai” (Cl 3, 12-17).

4. Diálogo como construção da Fraternidade

Na vida fraterna podemos dizer que alguns itens devem ser observados com absurda atenção e sensibilidade. Precisamos, portanto, treinar a caridade do perdão de Deus e prezar por uma sadia comunicação entre os irmãos que comigo formam a fraternidade.

A vida fraterna não é composta apenas por horários que devem ser cumpridos; muito menos pelos momentos breves que passamos em torno à mesa. Achamos que ao cumprir esses momentos já demos nossa parte e nossa contribuição para a Fraternidade. Aderir a esse modelo de vida requer acima de tudo, muito diálogo. Tudo acontece em torno à palavra (comunicação).

Há inúmeras maneiras de expressarmo-nos. Pode ser por linguagem verbal ou não verbal. Podemos até mesmo expressarmo-nos através de nosso comportamento – maneira na qual fomos educados- ou então não precisamos sequer expressar nossa manifestação, somente pelo olhar ou aparência indicamos nosso consentimento ou não.

A Fraternidade é formada por irmão de diferentes personalidades, culturas e costumes. Temos desde irmãos que falam exageradamente até àqueles que nada dizem. Essas são apenas algumas maneiras de expressão dos irmãos da fraternidade.

Para tudo nesta vida, precisamos usar de nossas palavras. Há muitos que dizem: “A comunicação é a alma do negócio”; ou então, “quem não se comunica se trumbica”. Na fraternidade não é diferente. Precisamos nos comunicar para manter relações com nossos irmãos. Seja na oração, no trabalho, na mesa,... tudo requer comunicação.

Nesse contexto, podemos perceber o quão saudável é o diálogo entre os irmãos. A conversa tem o poder de cultivar as coisas boas; de perceber o dom que meu irmão carrega consigo; de consolar aquele que sofre; de levantar o ânimo daquele que está abatido etc. Porém, também tem a força de matar, provocar divisões e causar tantos outros males a comunidade dos irmãos.

Pelo diálogo podemos nutrir laços de amizade e irmandade. Podemos ao mesmo tempo, partilhar de nossa vida, anseios e experiências. Como irmãos, parte de uma fraternidade, é sempre saudável estarmos abertos ao diálogo; sempre pronto a acolher o que meu irmão tem a me falar.

Outro aspecto muito importante no diálogo é saber ouvir. Sacrificar um pouco de nosso tempo para escutar àquele que está empolgado no falar, nunca é demais. Dar ouvidos a um irmão de idade já avançada, que quer contar de suas experiências cansaços ou até mesmo se queixar das dores que sente, é treinar o dom da paciência. Basta pegarmos o exemplo de Maria que, derrama-se aos pés de Jesus com toda paciência a escutar seus ensinamentos: “pondo-se a caminho, Jesus entrou num povoado. Uma mulher, de nome Marta, o recebeu em sua casa. Ela tinha uma irmã chamada Maria que, sentada aos pés do Senhor, escutava a sua palavra” (Lc 10 38-39).

Sendo assim, podemos concluir que, fraternidade é diálogo e escuta. É estarmos atentos a voz de cristo que, através de meu irmão que entrar em minha casa e conversar comigo.

5. Com Francisco por Cristo

Ao longo dessa reflexão falamos tanto em “fraternidade”, mas ainda não sabemos de fato, o sentido dessa tão linda palavra para o Irmão Francisco. Para os seguidores do Menor de Todos, a fraternidade é uma comunidade de irmãos ou irmãs, reunidas com Francisco por Cristo, fazendo reinar entre si o amor, a harmonia e a concórdia proporcionando assim um clima de confiança entre os membros dessa família.

Na fraternidade uma coisa é essencial: o amor fraterno, que deve exprimir-se no acolhimento aos outros.

A vida fraterna é feita das coisas de todos os dias. A partilha de vida exige simplicidade, verdade e acima de tudo atenção. Consiste em lavar os pés uns dos outros, isto é, prestar serviço uns aos outros.

Para estarmos de fato, congregados com Francisco por Cristo, cabe-nos acolher a diaconia fraterna, carregando os fardos uns dos outros. O meu irmão nunca deve ser um peso a ser carregado, mas um ser a ser ajudado. Afinal, “Ele levou nossas enfermidades e carregou nossas doenças” (Mt 8,17).

Os irmãos crescem, quando alimentados pelo bom exemplo de um irmão. A vida em comunidade não se constrói com belos discursos, mas é resultado de um testemunho vivo, humilde e simples; e nosso irmão merece estima por seu testemunho.

Assim, como participantes da vida fraternal, precisamos conhecer nosso irmão. E para isso algumas coisas são necessárias: dar e receber, confiar e partilhar. Enquanto não descobrirmos a face de nosso irmão, ainda será noite dentro de nós. A fraternidade deve estar reunida com Francisco a serviço do pobre, da Igreja e da sociedade.

Francisco era tão alegre, tão humano, enfim, era transbordante de Deus: “E depois que o Senhor me deu irmãos ninguém me mostrou o que eu devia fazer, mas o altíssimo mesmo me revelou que eu devia viver segundo a forma do Santo Evangelho” (Test 4).

COMCLUSÃO: Sendo assim, fazer parte ou formar fraternidade é graça de Deus! Ter um irmão com o qual podemos contar é dom do Pai! Por isso a cada dia, agradeçamos, a Deus, o Bom Pastor, a graça de bem vivermos em comunidade, “suportando, vos uns aos outros, e perdoando um aos outros” (Lc 3, 13). Com certeza, poderemos tornar nossa fraternidade num local sagrado, que seja encontro de irmãos, congregados no amor do Cristo amigo e solidário.

Rezando com São Francisco

Senhor, nós te pedimos por nossa Fraternidade. Com o Beatíssimo Pai São Francisco De Assis desejamos estar congregados pela causa do teu Reino que é de amor, serviço e paz.

Senhor, em nossa Fraternidade não haja irmãos endurecidos pelo rancor e ressentimento, que os afastam do projeto de Deus, pois onde houver ódio levaremos o amor.

Senhor, em nossa Fraternidade não haja desconsiderações com os serviços de nossos irmãos, desempenhados de boa vontade e disponibilidade no servir, pois onde houver ofensas levaremos o perdão.

Senhor, em nossa Fraternidade não haja discussões nem divisões, mas, se caso ocorrer que sirva de crescimento para nossa irmandade, pois onde houver discórdias levaremos a união.

Senhor, em nossa Fraternidade não haja incertezas diante das decisões necessárias, nem irmãos confusos por sua escolha ou duvidosos dos mistérios de Cristo, pois onde houver dúvidas levaremos a fé.

Senhor, em nossa Fraternidade não haja irmão coberto de vestes mentirosas para esconder seus desvios maus, pois onde houver erro levaremos a verdade.

Senhor, em nossa Fraternidade não haja irmãos desencorajados ante as realidades da vida fraterna, pois onde houver desespero levaremos a esperança.

Senhor, em nossa Fraternidade não haja mágoas ou aflições dominando a face de nossos irmãos, pois onde houver tristeza levaremos a alegria.

Senhor, em nossa Fraternidade não haja cortinas de escuridão a cobrir a face de nossos irmãos, deixando-nos a penumbra da noite, pois onde houver trevas levaremos a luz.

Ó Pai Santo, concede-nos a graça de enxugar as lágrimas de nossos irmãos. Ajuda-nos a dar e receber, a confiar e partilhar, para que, alimentados da vida de nossos irmãos e, fortalecidos por seus bons exemplos possamos na vida eterna contemplar a vossa face no Banquete da Fraternidade perfeita. Amém.

REFERÊNCIA:

Fracasso, Anselmo. O Desafio de Deus- Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

TODOS VÓS SOIS IRMÃOS: Stampa Tipografia Mancini s.a.s -2004.

Bíblia Sagrada. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. 50ª Edição.

Miniaurélio, O Dicionário de Língua portuguesa. 7. Ed.- Curitiba: Ed. Positiva; 2009.

Frei Zilmar Augusto OFM
Enviado por Frei Zilmar Augusto OFM em 20/09/2011
Código do texto: T3230971