O Pentateuco - Para uma melhor compreensão
O Pentateuco e Históricos.
Introdução:
O Pentateuco é o grupo dos cincos primeiros livros que traz a Sagrada Escritura: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e o livro de Deuteronômio.
A origem da palavra “Pentateuco” vem do grego (liber), no qual provém do latim: (pentateuchus) e traz em sua raiz penta que significa cinco e teuchos que significa instrumento ou utensilio.
É a parte do Antigo Testamento e da Biblia Hebraica. O Pentateuco vai desde o texto da criação até a morte de Moisés (Dt 34, 10-12).
Por ser um livro escrito durante o tempo não faltou estudos que mostravam as contradições que neles apresentavam sempre no sentido de situar o leitor ao tempo presente, mas não irei me deter aqui nas teorias de que não deveria ser Pentateuco e sim Tetrateuco, Hexateuco ou Eneateuco, pois como vimos, à tradição vai preservar o Pentateuco.
Minha intenção e olhar para cada livro do Pentateuco na intenção de ter uma compreensão melhor de cada livro, tendo em mente que nestes livros encontramos tradições Javista, Davídica, Eloista, Deuteronomista e Sacerdotal, e por isso o trabalho é muito grande para identificar a tradição de cada texto, uma vez que estamos diante de livros que foram escritos em conchas de retalhos, ou seja, foram fragmentos acoplados durante a historia e organizados conforme a pretensão de cada organizador.
Portanto em todo o Pentateuco iremos encontrar interesses seja da casa sacerdotal, seja da monarquia e assim por diante, o mais importante é ter em mente que por mais que algumas vezes parece alto individual e egoísta, foi desta forma que uma tribo se tornou em um povoado para depois se organizar como povo e por fim ser considerada uma nação.
O livro de Gênesis:
Ao abrirmos a Bíblia, especialmente no primeiro livro que forma a Tora, temos o livro de Gênesis, que é o livro das origens.
O Gênesis é dividido em duas partes:
Gn 1,11, e Gn 12, 50; onde apresenta a narração da historia primitiva, cercada de estilos literários, como lendas o que era muito comum entre os povos mesopotâmios, e traz também uma linguagem mítica bem peculiar ao período redacional, onde se acentua os símbolos, figuras, e imagens.
Carlos Mesters, na sua obra Paraiso Terrestre: saudade ou esperança, fala de alguns elementos chaves de toda essa narrativa de Gn 1, 11: onde está presente a criação, paraíso, homem e mulher, pecado, imortalidade, terra fértil, relacionamento com os animais, a relação com Deus e o Homem, a violência, o desejo, e etc...
Na figura de Adão e Eva temos a totalidade da raça Humana e sua representação de forma mitológica.
Segundo Jean Louis em sua obra “Introdução à leitura do Pentateuco” (p. 36) o livro de Gênesis fala do que foi gerado do céu e da terra, salienta também as compreensões que oscilam variando de um texto para outro, como por exemplo, em Gn 1 não fala de geração e sim de criação.
O livro de Gênesis é uma forma de contar ao povo da época a criação do mundo a partir do Deus Israelita, mostra que o poder daquele Deus, era fundamental para se criar uma unidade nacional, mesmo que eles não tinham isso em mente, mas hoje podemos ver como foi importante para a formação daquele povo. Não podemos esquecer que este livro e suas partes estão “espalhados no tempo”, ou seja, foi sendo construído conforme a realidade do povo e suas necessidades.
O livro do Êxodo:
Para que possamos entender o livro do Êxodo e para que leve o leitor a gostar desta leitura tem que se entender que o Êxodo tem um papel fundamental na historia do povo judeu.
O livro do Êxodo supõe um mínimo de informações sobre o império egípcio durante o século XIII a.C.
O Egito nesta época é um império muito forte e conquista varias etnias (1610 – 1085 a.C.) Canaã-Palestina ficou cerca de quatro séculos sobre o controle do Egito. Depois vamos ter um período onde o Egito começa perder seu poderio e com isso se inicia as migrações e fugas para a montanha e neste contexto que vai se formar o povo de Israel, precisamente nas montanhas.
O fundo histórico das narrativas se situa aproximadamente no período da 19° Dinastia de faraós entre as quais temos Seti I, Ramsés II, e Meneptá.
A estrutura teológica do povo de Israel acontece em vários êxodos vividos pelos grupos de camponeses e de pastores seminômades que não se reduzem a uma exclusividade da experiência de êxodo. O relato final do Êxodo foi concluído por volta do século IV a.C e começou a ser constituído por volta do século XIII. São grupos sociais redacionais diferentes, que condensam a experiência durante muito tempo, através da memorização das tradições, que chegaram ao texto final formando um só livro.
O livro Levítico:
Todo o livro de Levítico pertence a tradição sacerdotal, e seu maior objetivo é despertar na consciência do povo a comunhão com Deus.
Tem caráter pós-exílio e reuni elementos de diversas peculiaridades, com um objetivo de reconstruir a vida pós-exílio evitando que os sacerdotes se percam no poder.
Temos nele o Código da Santidade onde sua intenção é a sobrevivência da essência Israelita. Javé é o Senhor da vida e por isso o culto é algo que propicia a mesma.
Nele encontramos Javé como o Santo separado do profano. O livro de Levítico traz conceitos que irão entrar definitivamente na cultura Israelita como: a ideia de Santo e profano, puro e impuro, o papel da mulher na sociedade e os procedimentos com os alimentos, os dias a se guardar e por ai em diante.
Parece o ensaio ao decálogo, e se tem em mente quando se segue a Sagrada Escritura em leitura direta uma organização do povo após a saída do Egito uma estrutura social onde as normas tem peso teológico e profético.
O livro de Números:
Como o livro de Levítico, encontramos no livro de Números a tradição sacerdotal, com conteúdo histórico tradicional antigo, mas onde sua ultima redação é bem mais atual marca o período do século V a.C.
Existem varias teses quando a estrutura do livro de Números, mas podemos dividir da seguinte maneira:
1. Preparação da campanha: (1,1 – 10,10)
2. Realização da campanha: (10,11 – 36,13)
a. A caminhada no deserto: (10,11 – 21,20)
b. O inicio da conquista: (21, 21 – 36,13)
Uma vez que YHWH tem diversos modos de agir em Números as vezes se torna difícil compreender em que parte da Historia se situar a narrativa, pois temos um YHWH que ora é tribal, em momentos templário e em outros castigador a ponto de punir toda uma nação. “Sabendo que o Pentateuco é composto para o Israel pós-exílio, o livro de Números explica em que condição ele poderá chegar a terra prometida” (SKA, Jean Louis. Introdução do Pentateuco. São Paulo: Loyola, 2003, p.53).
O livro Deuteronômio:
O livro de Deuteronômio traz uma narração do ano aproximadamente 400 a.C, ou seja, é um texto pós-exílio, é uma recapitulação de varias etapas da historia do povo de Israel no deserto, em busca da terra prometida.
Contem os discursos de Moisés e suas ultimas palavras, também traz a exortação de Moisés ao povo perante como ser na terra prometida e a preservação da fidelidade à YHWH.
No capitulo 12 temos a centralização do culto, Javé agora tem um espaço exclusivo, a lei é posta como norma de conduta do povo, ou seja, ser Israelita significa obedecer a lei. O objetivo da lei naquele momento é animar a vida da comunidade, com o tempo esta lei vai perder sua vitalidade, mas a principio seria a mesma uma forma de vitalizar o povo e assegurar a relação homem e Deus.
Dentro da historicidade temos diversos autores que contradizem no que diz respeito à questão redacional do livro de Deuteronômio, uns dos maiores expoentes é Noth.
Ele apoia os que defendiam que a redação deuteronomistas estão dentro dos livros históricos, mas ainda acredita como varios na existência de um Hexateuco ( ideia de seis livros e não cinco).
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Bibliografia
SKA, Jean Louis. Introdução à leitura do Pentateuco. São Paulo: Loyola, 2003
RÒMER, Thomas. A chamada historia deuteronomista. Petropolis: Vozes, 2008
NAKANOSE, Shigeyuki. Reescrevendo a historia: uma leitura do livro das crônicas.
RIBLA, n°52, p. 184-197.
Biblia de Jerusalém, Paulus, São Paulo, 1985, p.31 a 46
MESTERS, Carlos. Paraiso Terrestre: Saudade ou Esperança, Editora Vozes, Petropolis, 1971, 198p.
LOPEZ, Félix Garcia. O Deuteronômio uma lei pregada. São Paulo, Paulinas, 1992. P.87
BEGANT, Diane e KARRIS, Robert. Comentário Bíblico, (Tradução Bárbara Lambert; revisão Dagoberto Bordin e Maurício Balthazar). São Paulo: Editora Loyola, 1999 p. 295.