Dicotomia ou Tricotomia? Analisando corpo, alma e espírito

Um dos aspectos mais importantes da visão cristã do homem é a de que devemos vê-lo em sua unidade, como uma pessoa total. Em muitos círculos cristãos, erroneamente, tem se falado do homem como constituído tanto de “corpo” e “alma”, como de “corpo”, “alma” e “espírito”. Os cientistas seculares e os teólogos cristãos, contudo, estão reconhecendo que tal entendimento dos seres humanos está errado, e que o homem deve ser visto como uma unidade. Somado a isso, já é um consenso entre os teólogos, opinião asseverada por este autor, que a Bíblia usa termos como alma, espírito e coração de forma intercambiável. Isto é por causa das partes do corpo que são tidas, não do ponto de vista de suas diferenças ou de suas relações entre si, mas como significando ou enfatizando os diferentes aspectos do homem total em relação a Deus.

Devemos rejeitar os termos dicotomia e tricotomia, visto que não são descrições exatas da visão bíblica do homem. As palavras são objetáveis, pois sugerem que a pessoa humana poderia ser cortada em “partes”. Mas o homem não pode ser separado dessa maneira. O melhor modo de determinar a visão bíblica do homem como uma pessoa total é examinar os termos usados para descrever os vários aspectos do homem. No entanto devemos observar que como foi dito, a preocupação primária da Bíblia não é a constituição psicológica ou antropológica do homem, mas a sua capacidade de relacionar-se com Deus. Levemos também em consideração, que no Antigo Testamento “Qualquer parte pode ser tomada pelo todo”, e que em relação ao Novo Testamento “A recente erudição tem reconhecido que termos como corpo, alma e espírito não são diferentes faculdades separadas do homem, mas diferentes modos de ver a totalidade do homem.” Como exemplo claro do que já foi argumentado vemos que:

O homem é descrito na Bíblia tanto como alguém que é corpo e alma como alguém que é corpo e espírito: “Não temais aqueles que matam o corpo mas não podem matar a alma” (Mt 10.28); “Também a mulher, tanto a viúva como a virgem, cuida das coisas do Senhor, de como agradar ao Senhor, assim no corpo como no espírito” (1 Co 7.34);

A salvação é associada tanto à alma como ao espírito: “Acolhei com mansidão a palavra implantada em vós, a qual é poderosa para salvar as vossas almas” (Tg 1.21); “...entregue a Satanás, para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo, no dia do Senhor” (1 Co 5.5).

O morrer é descrito tanto como uma partida da alma como do espírito: “E estendendo-se três vezes sobre o menino, clamou ao Senhor, e disse: Ó Senhor meu Deus, que faças a alma deste menino tornar a entrar nele” (1 Rs 17.21); “Voltou-lhe o espírito, ela imediatamente se levantou”(Lc 8.55);

Aqueles que já morreram são chamados tanto de almas quanto de espíritos: “Quando ele abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam” (Ap 6.9); “...Morto, sim, na carne, mas vivificado em espírito, no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão, os quais noutro tempo foram desobedientes quando a longanimidade de Deus aguardava nos dias de Noé” (1 Pe 3.18-20).

Somado a isso, ao analisarmos os termos no Antigo Testamento, em sua linguagem original, tais como nephesh (alma), ruach (espírito) e lebh / lebhabh (coração), vemos claramente que eles tratam do ser como um todo, diferindo somente no seu uso, especificando os relacionamentos do homem, respectivamente, com a humanidade, com Deus e consigo mesmo. No Novo Testamento, os equivalentes em grego de tais termos, psyche (alma), pneuma (espírito) e kardia (coração), também recebem esta distinção, representando, no entanto, sempre, a totalidade do ser. Enquanto psyque trata do relacionamento do homem com seu caráter interior, pneuma foca este mesmo homem em seu relacionamento com Deus. Já Kardia aponta para a pessoa total em sua essência mais interior. No coração a atitude básica do homem para com Deus é determinada, seja de fé ou de incredulidade, de obediência ou de rebelião.

Embora a Bíblia veja o homem como uma totalidade, ela reconhece que o ser humano possui dois lados: o físico e o não-físico. O homem, então, é uma pessoa que pode, e deve, ser vista de dois ângulos. O termo que melhor descreveria esta EXISTÊNCIA COESA, na preferência de alguns teólogos e deste autor, seria UNIDADE PSICOSSOMÁTICA. A vantagem desta expressão é que ela faz plena justiça aos dois aspectos do homem, ao mesmo tempo em que enfatiza a sua unidade. Esta visão vai ao encontro das passagens bíblicas que demonstram a real necessidade da redenção do corpo, para alcançarmos a plenitude da redenção (Rm 8.23; 1 Co 15.12-57), visto que o homem não é completo sem o corpo. A despeito de “carne e sangue não herdarem o Reino dos Céus” (1Co 15.50), a Bíblia nos assevera que “nem todos morreremos, mas todos (inclusive os que já morreram) seremos transformados” (1Co 15.51).

ICCV
Enviado por ICCV em 16/09/2011
Reeditado em 16/09/2011
Código do texto: T3223187
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