Civilidade e cristianismo

O dia a dia nas grandes cidades faz com que pequenas coisas se tornem grandes, e a noção de espaço e tempo se esvai em um turbilhão de sensações que nos projetam para todos os lados.

Chega uma hora que não sabemos aonde ir.

Em um dia de transito caótico se faz presente toda uma gama de situações que nos leva pensar o quanto seria bom, se todos tivessem uma forma pacífica de convívio, uma busca constante pelo bem comum. Estamos todos em um turbilhão de sensações tão grande que não nos damos conta da importância de agir pelo bem do irmão, e quando uma mera atitude de civilidade pode ser um bem para o irmão, tem-se uma segunda situação, até que ponto o simples bem coletivo representa o calor humano, o convívio da vida em comunidade.

A bíblia diz que de nada vale a sabedoria para falar a língua dos anjos, sem que haja amor.

O stress do dia a dia é tão grande que nos contentamos com pouco, passamos a nos contentar com pouco, mas este pouco é o que faz a diferença tal é a precariedade da vida nas cidades grandes. No fim das contas, ser respeitado na hora que se atravessa uma rua é algo muito bom e que faz bem, a questão é até que ponto a mera civilidade nos satisfaz como seres humanos.

Como seres humanos precisamos uns dos outros, precisamos pertencer a uma comunidade, o convívio, os rituais, tudo isto faz parte da nossa vida.

Não podemos simplesmente nos contentar com a civilidade, com fazer o necessário, apesar de ser algo que faz a diferença no resultado.

Obviamente uma comunidade civilizada nos trará grandes benefícios, mas o que se tem é que não é este o fim das nossas vidas.

As regras de convívio são válidas e bem vindas, mas não podem nos tornar frios e distantes do próximo. Muitas vezes a própria desorganização beneficia o convívio social e a aproximação entre as pessoas.

Imaginemos se nossos estádios fossem igualados aos estádios europeus. Neste caso muito da cultura brasileira relativa ao próprio futebol se perderia. Haveria uma ruptura na tradição, que é o ato de dar ao próximo o que já está em formação.

È importante que sigamos as regras de bom convívio, mas sem perdermos a noção de que este não é o objetivo final da nossa vida, e que muitas vezes no descumprimento de normas de convívio em comunidade, em favor de uma construção cultural, e algo que nos seja inerente, nos aproximamos do irmão, buscando mais do que simplesmente um cumprimento de regras, mas uma atitude de celebração do amor divino.

È importante que sejamos civilizados e atuemos em busca do bem estar comum, por outro lado, não devemos nos tornar vigilantes e acusadores em relação aos irmãos que não se portem “adequadamente” no meio social, mas sim nos lembrarmos de que Deus os ama também, e que no irmão está a oportunidade de amar, e ser amado.

Muitas vezes é no erro do irmão que somos chamados a intervir e muitas vezes no erro do irmão, descobrimos os nossos erros, e assim como perdoamos e acolhemos, seremos perdoados e acolhidos.

Aquele irmão ao qual nos associamos irá nos rir com os braços abertos e estará se realizando em poder nos ajudar.

Por isto, a mensagem é “o erro do irmão é uma oportunidade para exercício do perdão”

Quando oferecemos o perdão, o irmão segue o seu caminho, quando nos irritamos, ou damos o troco na mesma moeda, o prejuízo é no prosseguir do irmão, e no nosso também.

Quando perdoamos alguém, o único risco que corremos é de sermos presenteados em alguma ocasião, se isto não ocorre, não entraremos em depressão, continuaremos o nosso caminho, mas quando damos o troco em alguém que tenha errado conosco, a história é outra.

Armas nunca foram tão comercializadas, e a violência nunca esteve na intensidade que vemos nos dias atuais, a superficialidade dos conflitos que resultam em morte, mostram que hoje em dia um mero palavrão no trânsito pode ocasionar conseqüências fatais. Como diz o ditado popular “quem bate esquece, mas quem apanha não”

Por isto, perdoemos o nosso irmão e busquemos viver a alegria do calor humano, sem buscar sermos somente civilizados, mas é preciso que se faça a diferença. Não se pode mais pensar como antigamente, eu estou certo e não me importo com outro.

Devemos evitar cobrar do outro que cumpra as nossas regras assim como nós as cumprimos.

Devemos sim, estar abertos para entender as razões do outro - ou não, mas pelo menos ouvi-lo, e sobretudo,ter a abertura de assimilar uma visão de mundo diferente da nossa, uma forma de enxergar o mundo diferente daquela com a qual estamos acostumados, obviamente não assimilando tudo o que vemos, mas separando o que é de Deus e o que não é. E é ai, neste momento, que vemos o quanto Deus tem para nos oferecer em termos de amor e comunhão. Muitas vezes o nosso apego a normas de conduta torna-se uma “armadura” para que não convivamos com o mundo exterior. Basta cumprir o que está escrito e pronto.

Mas isto não é o ideal, muitas vezes no erro do outro, no auxilio, na compreensão, no envolvimento é que nos encontramos a presença de Deus, podemos sentir o Pai nos guiando e nos mostrando novos caminhos a partir do momento em que comungamos nossas afinidades, e compartilhamos com o irmão o que nós é dado.

Isto é o que nos fará bem, não ficar olhando o cumprimento das regras, mas o que podemos fazer pelo irmão naquela ocasião, pois assim estamos plantando um jardim, que mesmo que não dê frutos vai estar ali nos esperando, ao invés de trazermos lobos para o nosso celeiro, com atos de condenação e vingança.

Assim, tem-se que a civilidade é um caminho importante, mas devemos tomar cuidado para que ela não se torne um fim em si mesma, mas um caminho - uma via, para que possamos chegar ao outro, que é o real objetivo que devemos ter enquanto formamos uma comunidade.

E que devemos ressaltar, que sendo o calor humano, a presença do próximo em nossa realidade, o verdadeiro objeto da nossa existência, nem sempre onde há apenas civilidade há o amor e a presença de Deus, que pode se manifestar de todas as formas, inclusive nas entrelinhas, de uma situação que nos cause repulsa. Deus é de onde e para onde fluem todas as coisas. Não há nenhum lugar no universo em que Ele não se faça presente.

Fica então o conselho, para que não sejamos tão “selvagens” em nossa comunidade, mas que por outro lado não nos fechemos na mera civilidade, vivamos o meio termo. Desta forma, sabendo ver no outro a beleza de Deus, em sua própria individualidade, com seus motivos e crenças, estaremos nos sentindo vivos e participantes de uma comunidade.

Isaias João
Enviado por Isaias João em 06/09/2011
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