Saudades da casa do Pai

SAUDADES DA CASA DO PAI

Antônio Mesquita Galvão

Vocês já notaram que em certos dias a alma da gente vive momentos de uma angústia sem que se possa diagnosticar a causa desse desconforto? São situações inexplicáveis, sensações de perda sem uma definição de causas e razões.

A vida é uma cavalgada de emoções. Até aos quarenta anos, mais ou menos, vivemos voltados para fora, trabalhar, estudar, ganhar prestígio, juntar saber e riquezas. Depois dessa fase, iniciamos uma jornada para dentro de nós. É um período de corrigir erros, de reconciliação, viver a calma da paz interior. É quando começamos a desenvolver nossa espiritualidade.

De repente, junto com uma sensação de dever cumprido e de vida vivida, passamos a desenvolver um novo sentido para nossa vida, ao lado da companheira amada que caminha conosco há tantos anos. É quando o coração pede uma vida calma e, ao mesmo tempo, de mais profundidade. Nessa fase, a vida interior se torna mais exigente, e passamos a julgar desnecessárias, ou mesmo supérfluas, as tantas coisas materiais que amealhamos.

Enquanto somos jovens, fiéis ao carpe diem de Horácio, curtimos tudo que a vida tem a nos oferecer, confiando o mínimo no futuro, vivendo amores, paixões e sonhos. Na segunda fase da vida, quando vivemos a maturidade, em direção à velhice, sentimos que a vida passa a nos tomar tudo aquilo que nos deu na juventude. É essa ordem natural das coisas que nos assusta...

Às vezes recordo com saudades o aconchego da casa dos meus pais, o convívio familiar e a alegria em que vivi minha infância e começo da juventude. Foi um tempo bom, prenúncio de um futuro expectado por meus desejos de progresso e liberdade.

Quando a angústia inexprimível, aquele vazio nos assalta, parece que algo não vai bem, e sentimos uma necessidade de compatibilizar luzes e sombras dentro de nós, e isto nos inquieta. Uma pressão no peito, apesar da harmonia da vida familiar leva a suspeitar de outras questões, outras necessidades... Num dia desses fui a Santo Agostinho e encontrei a pista: “Fizeste-me para ti, e o meu coração permanece inquieto enquanto não repousar em ti”. Na hora da dúvida, só em Deus o nosso coração se aquieta! O Pai tem saudades de nós: está “louco” para secar nossas lágrimas.

A ansiedade que sentimos nada mais é que saudades da casa do Pai. Nosso coração, como disse o santo de Hipona, permanece inquieto enquanto estamos distantes da pátria definitiva. É gostoso viajar quando se sabe que há um lugar para onde retornar... Na verdade, não se trata de uma angústia humana, mas um sentimento que nos revela que estamos trilhando o caminho de volta para a casa do Pai. Fica-nos a consciência de que estamos voltando ao lugar de onde viemos.

O autor é Filósofo, Escritor e Doutor em Teologia Moral