VIVIFICADOS POR CRISTO
Algumas coisas que nos são faladas nas Sagradas Escrituras aparentam ser simples, mas se revestem de grande mistério, o qual nos é revelado em Cristo Jesus. E um desses mistérios é o próprio Cristo e o seu evangelho, que outróra esteve oculto nos séculos passados, mas que nos tem sido revelado no tempo presente, para o louvor da glória de Deus. Em outros trabalhos discorremos sobre Cristo, sobre o evangelho e sobre coisas correlatas. E neste falaremos mais especificamente sobre a vivificação.
O dicionário define vivificar como: Dar vida a; reanimar; conservar a existência de; animar; fecundar; tornar vívido; reviver; dar movimento; atividade; produzir vivificação.
Assim, vamos examinar o que quer dizer “vivificados por Cristo”, e como se opera esse processo de vivificação a fim de que possamos ser e estar vivificados.
Disse o apóstolo Paulo o seguinte:
“E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também. Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus; para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus.” Ef. 2:1-7.
“Esse trecho é bastante esclarecedor, pois que mostra em que condição estávamos antes de sermos vivificados por Cristo: estávamos mortos em ofensas e pecados; que éramos filhos da desobediência e da ira, como os outros”.
Por essa passagem bíblica vemos que nem todos são filhos de Deus, pois há alguns que são filhos da ira, da qual nós também éramos.
E para esclarecermos àqueles que pensam que são filhos, embora estejam andando contrários a vontade de Cristo, vamos procurar traduzir como se processa a vivificação por Cristo, porque diz o apóstolo que, para vergonha de uns, ele dizia que eles eram vergonha da cruz de Cristo.
“Disse Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto.” Jo. 12:24.
Isso ele falou de si mesmo, pois ele era a semente, o grão que havia de morrer para que trouxesse os frutos, os filhos à glória. Entretanto, como ele em tudo foi o nosso exemplo, e também porque ele era o símbolo e o espelho no qual nos devemos mirar, a seguir à expressão citada anteriormente ele disse:
“Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna. Se alguém me serve, siga-me, e onde eu estiver, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, meu Pai o honrará.” Jo. 12:25 e 26.
Assim, para amar a Cristo, temos de perder a nossa vida; e se neste mundo nós odiarmos a nossa vida, guardá-la-emos para a vida eterna. Parece duro, mas é uma realidade. Pois muitos estão vivendo de forma dissoluta, alegando pra isso que Cristo morreu pra que eles fossem libertos, confundindo liberdade com relação ao pecado e a morte, com libertinagem para o pecado.
Bem, já temos discorrido em outros trabalhos por nós codificados que Cristo é a palavra de Deus que se tornou carne e habitou entre nós, e que se traduz nos mandamentos ou Lei de Deus. Portanto recomendamos a leitura dos artigos intitulados “Justificados por Cristo” e “Um nome sobre todo nome”, nos quais discorremos amplamente sobre os significados de Cristo e do seu nome.
Ora, se Cristo é a palavra de Deus que se fez carne e habitou entre nós, e que por ele nós somos vivificados, vamos então saber ou confirmar como ele operava no passado mais remoto, ao tempo do que os homens convencionaram chamar de antigo testamento, o velho pacto.
No livro de Salmos encontramos o salmista pedindo inspiradamente a vivificação, e que sempre era operada nele através de algo, veja:
“A minha alma está pegada ao pó; vivifica-me segundo a tua palavra. Sl. 119:25.
“Desvia os meus olhos de contemplarem a vaidade, e vivifica-me no teu caminho.” Sl. 119:37.
“Eis que tenho desejado os teus preceitos; vivifica-me na tua justiça.” Sl. 119:40.
“Vivifica-me segundo a tua benignidade; assim guardarei o testemunho da tua boca.” Sl. 119:88.
Estou aflitíssimo; vivifica-me, ó Senhor, segundo a tua palavra. Sl. 119:107.
“Ouve a minha voz, segundo a tua benignidade; vivifica-me, ó Senhor, segundo o teu juízo. Sl. 119:149.
“Pleiteia a minha causa, e livra-me; vivifica-me segundo a tua palavra.” Sl. 119:154.
“Muitas são, ó Senhor, as tuas misericórdias; vivifica-me segundo os teus juízos.” Sl. 119:156.
“Considera como amo os teus preceitos; vivifica-me, ó Senhor, segundo a tua benignidade.” Sl. 119:159.
“Vivifica-me, ó Senhor, por amor do teu nome; por amor da tua justiça, tira a minha alma da angústia. Sl. 143:11.
Os pedidos de vivificação formulados pelo salmista estão todos vinculados a algo, quais sejam:
A palavra do Senhor; o seu caminho; a sua justiça; o seu juízo; a sua benignidade; o seu nome. E que, conforme o Espírito nos tem concedido, têm o mesmo significado, ou seja: os mandamentos de Deus.
Mas, como disse Jesus, se o grão de trigo não morrer fica ele só; mas se morrer dá muito fruto. Para que nós sejamos vivos dentre os mortos, mister se faz que nós façamos aquilo que disse o apóstolo Paulo: “Fazei morrer a vossa natureza carnal, ou a a vossa natureza terrena”, como diz outra tradução.
“E, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto para o pecado, mas o espírito vive por causa da justiça. E, se o Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita. Porque se o espírito de Deus está em vós, o corpo está morto para o pecado, mas o Espirito vive por causa da justiça”. Rm. 8:10 e 11.
Ainda que a tradução revista e corrigida de João Ferreira de Almeida verta como: “o corpo está morto por causa do pecado”, pelas Escrituras chegamos a conclusão de que ela não foi vertida corretamente. Pois a ciência da interpretação ensina que as escrituras antigas se interpretam por elas mesmas. Assim sendo, diz o apóstolo Pedro:
“Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados.” I Pe. 2:24.
Diz o apóstolo Paulo:
“Insensato! o que tu semeias não é vivificado, se primeiro não morrer.” I Co. 15:36.
E em outra Escritura, diz ainda:
“Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, a afeição desordenada, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria.” Cl. 3:5.
E há quem queira viver na prática dessas coisas, e ainda assim pense estar unido a Cristo, ser seu filho e seu servo. Mas diz o apóstolo Paulo:
“Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em glória.” Cl. 3:1-4.
Mas afinal nós estamos mortos ou vivos? Se vivos, por que causa diz o apóstolo que já estamos mortos?
Porque devemos estar mortos para o pecado, por isso ele diz noutra Escritura:
“Que diremos pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde? De modo nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele? Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida. Porque, se fomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição; sabendo isto, que o nosso velho homem foi com ele crucificado, para que o pecado do corpo* seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado. Porque aquele que está morto está justificado do pecado. Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos; sabendo que, tendo sido Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte não mais tem domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus. Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências; nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniqüidade; mas apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça. Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça. Pois que? Pecaremos porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo nenhum. Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da justiça para a obediência? Mas graças a Deus que, tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues. E, libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça.” Rm. 6:1-18.
Ora, como já discorremos em outra ocasião, nós somos justificados por Cristo, e agora mostramos que é por ele que também somos vivificados. Mas não esquecendo que Cristo é a Lei, a palavra que se fez carne. A palavra pela qual tudo fora criado, seja tronos, seja principados, seja potestades, etc.
E diz o profeta Oséias:
“Voltarão os que habitam debaixo da sua sombra; serão vivificados como o trigo, e florescerão como a vide; a sua memória será como o vinho do Líbano.” Os. 14:7.
Cristo foi ressuscitado pela glória do Pai. E essa glória é também a sua palavra. Cristo ressuscitou porque nele não havia pecado, e na sua boca nunca houve engano. Por isso a morte não pôde retê-lo. Da mesma maneira a morte não poderá reter os que morrerem em Cristo. Mas morrer em Cristo é morrer em obediência aos seus mandamentos, pois o aguilhão da morte é o pecado, e pecado é transgressão da lei.
Quem morrer no pecado não poderá ressuscitar na primeira ressurreição, pois o aguilhão do pecado o reterá na sepultura.
Portanto aceite a Cristo, os seus mandamentos, para que você seja vivificado por Ele, e, assim, produza fruto digno de vida eterna, vivendo por ele e para ele, sendo servo da justiça.
* A alteração do texto é de nossa iniciativa.
Oli Prestes
Missionário