Mormonismo para leigos(2)

"Mormonismo Para Leigos"

Jorge Linhaça

Antes de mais nada, esta série de artigos não tem intenção de converter ninguém ao dito "mormonismo", a intenção do autor é apenas procurar desmitificar, dentro de seu parco conhecimento, algumas "lendas" criadas em torno da religião praticada pelos membros de " A igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias".

Alguns artigos serão mais e outros menos profundos de acordo com o que se faça necessário em decorrência do tema a ser abordado.

As citações que forem feitas no texto, que não sejam do próprio autor, remeterão à fonte de onde foram extraídas a fim de que o leitor possa consultá-las segundo o seu desejo.

Dessa forma, pretende o autor respeitar os princípios éticos da produção intelectual.

Capitulo 2

A Restauração-1

Como vimos no capítulo anterior, Joseph Smith, após dizer que havia visto Deus e Jesus Cristo e recebido deles instruções, passou a ser perseguido e ridicularizado pelos líderes religiosos e a população local. Mas isso era apenas o começo.

Na sua própria narrativa encontramos o seguinte à respeito:

Alguns dias após essa visão, encontrei-me, por acaso, na companhia de um dos pregadores metodistas, que era muito ativo no já mencionado alvoroço religioso; e, conversando com ele sobre religião, aproveitei a oportunidade para relatar-lhe a visão que tivera. Fiquei muito surpreso com seu comportamento; tratou meu relato não só levianamente, mas com grande desprezo, dizendo que tudo aquilo era do diabo, que não havia tais coisas como visões ou revelações nestes dias; que todas essas coisas haviam cessado com os apóstolos e que nunca mais existiriam.

Logo descobri, entretanto, que minha narração da história havia provocado muito preconceito contra mim entre os religiosos, tornando-se motivo de grande perseguição, a qual continuou a aumentar; e embora eu fosse um menino obscuro, de apenas quatorze para quinze anos de idade, e minha situação na vida fizesse de mim um menino sem importância no mundo, homens influentes preocupavam-se o bastante para incitar a opinião pública contra mim e provocar uma perseguição implacável. E isto se tornou ponto comum entre todas as seitas—todas se uniram para perseguir-me.

Isso me levou a refletir seriamente, na época, e muitas vezes a partir daí; quão estranho era que um obscuro menino de pouco mais de quatorze anos de idade, que estava, também, condenado à necessidade de obter um sustento escasso com seu trabalho diário, fosse considerado suficientemente importante para atrair a atenção dos grandes das seitas mais populares da época, criando neles o espírito da mais implacável perseguição e injúria! Mas, estranho ou não, assim aconteceu e isso foi, com freqüência, causa de grande tristeza para mim. ( Joseph Smith -História Cap 1 vers. 21-23) versão digital em: http://scriptures.lds.org/pt/js_h/1

Podemos, razoavelmente crer que, um garoto de 14 para 15 anos, em qualquer época, tenha sua mente voltada para a necessidade de aceitação do seu grupo social.

Se a história contada por Joseph, houvesse sido uma tentativa fantasiosa de chamar para si a atenção, uma simples travessura, o mais lógico seria que, a partir do momento em que viu-se ridicularizado, ou desmentisse os fatos ou ficasse ansioso para que disso se esquecessem o mais breve possível.

É também razoável imaginar que seus amigos de sua idade, tenham se afastado dele e Joseph tenha sofrido o que hoje chamamos de Bulling ( Bullying é um termo de origem inglesa utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um quidam (bully) ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir outro quidam (ou grupo de indivíduos) incapaz/es de se proteger. A vocábulo "Bully" significa "valentão", o responsável das agressões. A vítima, ou mira, é a que sofre os efeitos delas. Também existem as vítimas/agressoras, ou autores/alvos, que em determinados momentos cometem agressões, porém também são vítimas de bullying pela turma. http://www.updatefreud.blogspot.com/) por parte de parte dos colegas de sua idade.

O que levaria, portanto, o jovem Joseph a manter-se firme em seu relato?

Por que um rapazinho do interior teimaria em tal atitude que apenas lhe trazia prejuízos? Seria simples teimosia?

Continuando a ler o seu relato encontramos a sua resposta para isso:

24 Contudo, era um fato ter tido eu uma visão. Tenho pensado que me sentia como Paulo, quando apresentou sua defesa perante o rei Agripa e relatou a visão que tivera, quando viu uma luz e ouviu uma voz; mas poucos foram também os que acreditaram nele; alguns disseram que ele era desonesto, outros, que estava louco; e foi ridicularizado e injuriado. Tudo isso, porém, não destruiu a realidade da visão. Ele tivera uma visão, sabia que a tivera, e toda a perseguição debaixo do céu não poderia fazer com que fosse de outra forma; e ainda que o perseguissem até a morte, ele sabia e saberia até o último alento que tinha visto uma luz e ouvido uma voz falando-lhe; e o mundo inteiro não poderia fazê-lo pensar ou crer de outra maneira.

25 Assim era comigo. Tinha realmente visto uma luz e, no meio dessa luz, dois Personagens; e eles realmente falaram comigo; e embora eu fosse odiado e perseguido por dizer que tivera uma visão, isso era verdade; e enquanto me perseguiam, injuriando-me e afirmando falsamente toda espécie de maldades contra mim por dizê-lo, fui levado a pensar em meu coração: Por que perseguir-me por contar a verdade? Tive realmente uma visão; e quem sou eu para opor-me a Deus, ou por que pensa o mundo fazer-me negar o que realmente vi? Porque eu tivera uma visão; eu sabia-o e sabia que Deus o sabia e não podia negá-la nem ousaria fazê-lo; pelo menos eu tinha consciência de que, se o fizesse, ofenderia a Deus e estaria sob condenação.

26 Minha mente já estava satisfeita no que concernia ao mundo sectário—não era meu dever unir-me a qualquer das seitas, mas continuar como estava até nova orientação. Descobrira ser verdadeiro o testemunho de Tiago: que um homem que necessitasse de sabedoria podia pedi-la a Deus e obtê-la, sem ser repreendido.( http://scriptures.lds.org/pt/js_h/1)

Joseph testifica que houvera tido realmente uma visão e que não poderia negá-la. Pode-se acreditar ou não nele mas, se não foi isso, como explicar os fatos subsequentes?

Três anos após essa Primeira Visão ( nome pelo qual ficou sendo conhecida ), poderia ser que os ânimos se houvessem serenado e Joseph pudesse finalmente estar levando uma vida razoavelmente normal para os padrões da época, no entanto ainda havia um longo caminho a ser percorrido.

27 Continuei minhas ocupações comuns na vida até o dia vinte e um de setembro de mil oitocentos e vinte e três, sofrendo todo o tempo severa perseguição nas mãos de todos os tipos de homens, tanto religiosos como irreligiosos, porque eu continuava a afirmar que tivera uma visão.

28 No espaço de tempo entre a ocasião em que tive a visão e o ano de mil oitocentos e vinte e três—tendo sido proibido de unir-me a qualquer das seitas religiosas da época e sendo ainda muito jovem e perseguido por aqueles que deveriam ter sido meus amigos e me tratado com bondade—e se supunham eles que eu estava iludido, deveriam ter procurado, de maneira apropriada e afetuosa, reconquistar-me—fui abandonado a toda sorte de tentações; e, misturando-me a todo tipo de gente, caí freqüentemente em muitos erros tolos, exibindo as fraquezas da juventude e as debilidades da natureza humana; o que, sinto dizer, levou-me a tentações diversas, ofensivas à vista de Deus. Ao fazer esta confissão, ninguém deve crer-me culpado de quaisquer pecados grandes ou malignos. Jamais existiu em minha natureza disposição para tal. Mas fui culpado de leviandades e, às vezes, andava com companhias joviais, etc., o que não condizia com a conduta que devia ser mantida por uma pessoa que fora chamada por Deus, como eu. Isso, porém, não parecerá estranho para quem se recorda de minha juventude e conhece meu temperamento naturalmente alegre.

29 Em conseqüência dessas coisas, muitas vezes senti-me condenado por minhas fraquezas e imperfeições. Foi então que, na noite do já mencionado vinte e um de setembro, depois de me haver recolhido, recorri à oração e à súplica ao Deus Todo-Poderoso para pedir perdão por todos os meus pecados e imprudências, pedindo também uma manifestação para que eu pudesse saber qual era o meu estado e posição perante ele; pois tinha plena confiança de receber uma manifestação divina, como acontecera anteriormente. ( idem)

É bastante interessante notar que Joseph procurou levar uma vida dentro da normalidade, incorrendo inclusive em erros semelhantes aos de outros jovens de sua idade. interessante também é perceber em suas palavras que jamais negou a visão que tivera e que, com isso, continuou a ser perseguido e desprezado por aqueles que, devido à sua posição como ministros, deveriam ser os primeiros a tentar "resgatá-lo"do que consideravam uma heresia ou fruto de mente enlouquecida.

Lembrem-se de que agora estamos falando de um jovem de cerca de 17 anos de idade e que, nos últimos três anos de sua vida "comeu o pão que o diabo amassou" em termos de relações pessoais. Prosseguindo seu relato:

30 Enquanto estava assim suplicando a Deus, descobri uma luz surgindo em meu quarto, a qual continuou a aumentar até o aposento ficar mais iluminado do que ao meio-dia; imediatamente apareceu ao lado de minha cama um personagem em pé, no ar, pois seus pés não tocavam o solo.

31 Vestia ele uma túnica solta, da mais rara brancura. Era uma brancura que excedia a qualquer coisa terrena que eu já vira; nem acredito que qualquer coisa terrena possa parecer tão extraordinariamente branca e brilhante. Tinha as mãos descobertas e os braços também, um pouco acima dos pulsos; os pés também estavam descobertos, bem como as pernas, um pouco acima dos tornozelos. A cabeça e o pescoço também estavam nus. Verifiquei que não usava outra roupa além dessa túnica, pois estava aberta, de modo que lhe podia ver o peito.

32 Não somente sua túnica era muito branca, mas toda a sua pessoa era indescritivelmente gloriosa e seu semblante era verdadeiramente como o relâmpago. O quarto estava muito claro, mas não tão luminoso como ao redor de sua pessoa. No momento em que o vi, tive medo; mas o medo logo desapareceu.

33 Chamou-me pelo nome e disse-me que era um mensageiro enviado a mim da presença de Deus e que seu nome era Morôni; que Deus tinha uma obra a ser executada por mim; e que meu nome seria considerado bom e mau entre todas as nações, tribos e línguas, ou que entre todos os povos se falaria bem e mal de meu nome. ( idem )

Não sei o que o amigo leitor está pensando neste momento, mas quase posso ouvir alguns "putz" ecoando aqui e acolá. Compreendo claramente que que tais relatos possam ser motivo de espanto para a maioria das pessoas, afinal, nos dias de hoje, em que a internet nos dá acesso direto e imediato ao que as pessoas pensam do outro lado do mundo, tudo isto pode parecer parte de um romance ou roteiro de filme.

No entanto precisamos nos lembrar que estes fatos ocorreram em 1820-1823 quando o pouco que se sabia sobre qualquer assunto era o que se ouvia da boca das pessoas.

Era nesse cenário que vivia Joseph Smith, um garoto como outro qualquer até que estes fatos começaram a acontecer.

Imaginemos o impacto de tais afirmações na mente e na alma desse rapaz "falarão bem ou mal de ti entre todas as nações da terra"...

Joseph já sentira na pele o que era ser perseguido e ridicularizado ali no " quintal de sua casa" já sofrera toda a angústia decorrente de tal situação...agora lhe aparece um anjo e diz que isso será infinitamente multiplicado...quantos de nós não diríamos algo do tipo:

"- Olha anjo, valeu mesmo, mas "to fora"! Me deixa aqui no meu cantinho, não faço questão de ser conhecido no mundo todo não. Já é difícil "pra caramba" ser conhecido aqui "no meu pedaço"...não "tô" podendo..."

Talvez essa fosse a reação da maioria de nós ou então outros diriam:

"-Cara, vamos negociar isso aí...olha só, "tô" com um monte de problemas, volta daqui a uns dez anos e a gente vê o que pode fazer, que tal? "

O certo é que seria bastante assustador. No entanto Joseph permaneceu ouvindo

o que o anjo tinha a lhe dizer...

34 Disse-me que havia um livro escondido, escrito em placas de ouro, que continha um relato dos antigos habitantes deste continente, assim como de sua origem e procedência. Disse também que o livro continha a plenitude do evangelho eterno, tal como fora entregue pelo Salvador aos antigos habitantes.

35 Disse também que havia duas pedras em aros de prata—e essas pedras, presas a um peitoral, constituíam o que é chamado Urim e Tumim—depositadas com as placas; e que a posse e uso dessas pedras era o que constituía os ”videntes” nos tempos antigos; e que Deus as tinha preparado para serem usadas na tradução do livro. ( idem)

Agora sim, um livro escrito em placas de ouro, aros de prata, um peitoral...

poderíamos pensar..."- Agora a coisa ficou boa, pego o tal livro, traduzo logo, vendo o ouro e "tiro o pé da lama"...já valeu pelo esforço até aqui."

Peço licença aqui para fazer um adendo:

Muito se tem falado que o pai de Joseph Smith, era um "caçador de tesouros" enterrados por piratas ou coisa parecida. Se isso é verdade ou uma lenda criada para tentar desmoralizar a família sinceramente eu não sei mas, vamos supor que haja aí algum fundo de verdade...que bela ocasião esta seria para finalmente "esfregar na cara" dos chacoteadores um belo troféu de ouro maciço e melhorar de vida. Mas como veremos no próximo capítulo não foi bem assim que aconteceu...

até lá!

Arandu, 23 de março de 2010

* Doutrina e Convênios e Pérola de Grande valor pode ser encontrado em qualquer livraria SUD e, provavelmente em algumas capelas da Igreja.