Jair: da UTI ao palanque, a verdade sob pressão/ᐠ。‿。ᐟ\

Por que um leito de hospital se transforma em palanque político? Internado numa UTI, em Brasília, Jair Bolsonaro fala à imprensa diretamente da UTI. Ele aparece com voz fraca, mas discurso firme. Algo que beira a simulação. O diagnóstico é delicado. As postagens, no entanto, sugerem vigor e controle. O que se ganha ao projetar força quando o corpo pede silêncio?

A estratégia não é nova. Dados do Datafolha (2024) mostram que 38% dos seus apoiadores mantêm a confiança. A cena toca a emoção, desvia o foco, reforça a narrativa de perseguição política. A dor vira capital simbólico. Já vimos esse roteiro. Em 2011, Lula enfrentou o câncer sem deixar de cultivar sua imagem de resiliência. Em nenhum momento Lula transformou sua doença em circo. Até que ponto a fragilidade humana é usada como escudo?

Do lado de fora, apoiadores formam vigílias. É a repetição teatral dos acampamentos de 2022, agora diante de hospitais. A democracia resiste, mas cambaleia com esses atos insanos. A imprensa hesita e está lá, dando palanque vexatório ao espetáculo. Coberturas acríticas normalizam a representação. Quando o jornalismo baixa a guarda, quem protege o senso de realidade?

A narrativa de Bolsonaro flerta com o pedido de anistia, ainda que implícito. Seus defensores falam em direito de expressão. O cidadão comum e os críticos veem encenação. Qual o limite ético entre empatia e manipulação? A encenação se justifica quando o fim é político?

A repetição de velhas fórmulas populistas revela a necessidade de limite. O que resta quando o enredo se torna previsível? A política se empobrece quando a linguagem simbólica substitui o diálogo com os fatos. O debate público não pode ser refém de emoções fabricadas intencionalmente.

A saúde, em qualquer circunstância, merece respeito e cuidado. Ainda mais numa UTI. Torná-la instrumento político é uma perversão e afronta às instituições democráticas. A verdade é uma só: a democracia não precisa de mártires improvisados, mas de cidadãos conscientes de suas responsabilidades. O futuro não se constrói com encenações. Exige lucidez, sobriedade e perguntas incômodas.

Nesse contexto, algumas perguntas precisam ser feitas. Quem somos quando a verdade já não nos serve? Que tipo de país aceita a dor como desculpa e o delírio como programa? Quanto à imprensa, é lamentável sua postura ao dar palco a esse triste espetáculo protagonizado por um ex-presidente que precisa prestar esclarecimentos à Justiça sobre suas ações na Presidência da República.

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