De Direita ou de Esquerda?
Muito se fala em “direita” e “esquerda”, mas poucos sabem, de fato, o que esses termos significam. São apenas rótulos? São ideias ultrapassadas? Ou ainda dizem muito sobre os caminhos que uma sociedade pode seguir?
Para entender isso, é preciso voltar ao ponto de partida — e olhar também para o cenário atual.
Onde tudo começou
A divisão entre direita e esquerda surgiu na Revolução Francesa, em 1789. Na Assembleia Nacional, os deputados se dividiam fisicamente:
• À direita do rei: os defensores da monarquia, da ordem estabelecida, da religião e dos privilégios da elite.
• À esquerda: os que defendiam mais igualdade, liberdade ao povo e o fim dos privilégios aristocráticos.
Com o tempo, esses lados passaram a representar visões de mundo:
• Direita: valorização da hierarquia, propriedade privada, tradição e livre mercado.
• Esquerda: defesa da justiça social, do Estado como agente equilibrador, e da igualdade de oportunidades.
Transformações com o tempo
No século XIX, a esquerda se aproximou do socialismo e começou a criticar a desigualdade gerada pelo capitalismo.
A direita fortaleceu sua relação com o liberalismo econômico e o conservadorismo moral.
No século XX, os extremos ideológicos tomaram forma:
• Extrema-direita: regimes autoritários como o nazismo e o fascismo, com nacionalismo radical e repressão às liberdades.
• Extrema-esquerda: regimes comunistas, com economia controlada pelo Estado e supressão da propriedade privada.
Na Guerra Fria, o mundo se dividiu:
• Direita (capitalismo), liderada pelos EUA.
• Esquerda (socialismo), liderada pela União Soviética.
E hoje, o que mudou?
As fronteiras entre direita e esquerda estão menos rígidas, mas continuam importantes para entender o debate político.
A direita atual inclui:
• Liberal: defende o livre mercado, privatizações e menos intervenção do Estado.
• Conservadora: valoriza família tradicional, religião e costumes antigos.
• Extrema-direita: adota discursos autoritários, nacionalistas e intolerantes.
A esquerda moderna abrange:
• Social-democracia: mantém o capitalismo, mas com políticas públicas fortes e distribuição de renda.
• Socialismo democrático: mais controle estatal sobre a economia, mas dentro da democracia.
• Extrema esquerda: ideologias marxistas, anticapitalistas e coletivistas.
E no Brasil?
O Brasil vive uma intensa polarização política. E embora os termos estejam por toda parte, seus significados nem sempre são claros.
A nova direita brasileira pode ser resumida em três frentes:
1. Econômica:
“Defende privatizações e redução do Estado, mas muitos ainda apoiam subsídios e proteção a determinados setores, revelando contradições.”
2. Moral e cultural:
“Valoriza fortemente pautas religiosas, a família tradicional e se opõe a conquistas sociais como os direitos LGBTQIA+ e o debate sobre legalização do aborto.”
3. Autoritária e nacionalista:
“Flerta com o autoritarismo, defende o fortalecimento das Forças Armadas e ataca instituições democráticas, imprensa e adversários políticos.”
Já a esquerda brasileira:
• Apoia programas sociais, investimento público e justiça fiscal.
• Defende direitos humanos, diversidade e políticas afirmativas.
• Valoriza o fortalecimento das instituições democráticas e a ampliação da participação popular.
• Aproxima-se de blocos internacionais com foco em cooperação, justiça social e multipolaridade.
Conclusão: A quem interessam essas pautas?
No fim das contas, a pergunta essencial é: a quem servem as ideias da direita e da esquerda?
A pauta da direita, historicamente, atende aos interesses de uma minoria: grandes empresários, donos do capital e elites econômicas. Seus projetos defendem a concentração de renda, a redução de direitos trabalhistas e a manutenção dos privilégios. Fala-se muito em liberdade, mas raramente em igualdade.
Já a esquerda nasce da luta popular. Representa os interesses da maioria: trabalhadores, estudantes, aposentados, mulheres, minorias. Luta por acesso igualitário à saúde, educação, moradia, alimentação e dignidade. Sua base é a justiça social, o combate à desigualdade e a busca por um Estado que sirva a todos — não apenas aos mais fortes.
Entender essa diferença vai além de escolher um lado. É refletir sobre qual sociedade queremos construir — e quem queremos proteger: os poucos que já têm tudo ou os muitos que ainda lutam pelo mínimo?
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Texto de opinião por: Júlio César Fernandes
Autor de artigos reflexivos, poemas e crônicas no Recanto das Letras. Observador atento do cenário geopolítico e crítico da desigualdade social.